I - Prólogo

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Eram aproximadamente cinco horas da manhã quando eu acordei, tendo o mesmo pesadelo de sempre, revivendo todos os momentos daquele dia. O olhar dela antes da vida se apagar. Eu não conseguiria abandonar uma lembrança tão forte, como eles me disseram que seria possível. Na verdade, quanto mais tarefas me passam, quanto mais pessoas vejo terem o mesmo fim que ela por minhas próprias mãos, mais difícil fica.

Sinto que as únicas poucas memórias boas que tenho daquele tempo estão cada vez mais distantes, escondidas no âmago do manto da Ordem. A única parte que tem me restado são furos de bala, o sangue escorrendo e aqueles homens me arrastando para fora de casa enquanto ela terminava de sufocar em sua própria agonia. Essa se aproxima dia após dia, luta após luta. O gosto pútrido inunda a minha boca e sinto náuseas toda vez que lembro de cada missão, cada filho e cada mãe. É difícil me olhar no espelho depois que acordo. Está ficando cada vez mais insuportável respirar.

No último domingo, invadimos uma das residências dos Veritas. Na primeira página do jornal, uma nota de nossa empreitada: dezessete mortos, nenhuma testemunha e algo de valor subtraído. Fizemos o de sempre: entramos rápido, saímos sem ser vistos e conseguimos algo que nos interessava. Algo para compensar tudo que eles vinham fazendo nas últimas décadas. Cada uma dessas vidas estava na conta deles. E somente deles.

Ainda assim, isso não torna mais fácil carregar o símbolo dos executores, corroendo ao redor dos olhos e queimando meu rosto enquanto eu terminava meu trabalho. Os executores carregam a morte estampada na cara. As máscaras não eram para esconder, mas para amedrontar. Para purificar. Para retribuir. Para vingar.

Não é mais sobre as coisas que aconteceram, é sobre até onde estamos dispostos a ir para mudar o destino dessas pessoas. E eu estou disposto a qualquer coisa. Qualquer coisa. Estamos muito próximos de acabar com uma guerra que dura muito, muito tempo. Para proteger tudo aquilo que lutamos para construir e dar um fim a todo esse mar de desgraça e desespero em Kiel. Para que nunca mais alguém precise passar pelo mesmo inferno que eu já passei, todos terão que experimentá-lo em sua pior essência. Todos.

O Assassino da OrdemOnde as histórias ganham vida. Descobre agora