INÍCIO

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Tra.ba.lho. Muitos chamam de "aplicação de atividade", eu achamo de prisão do homem como indivíduo buscador de felicidade. Serviço. Fadiga.

Sinônimos: Responsabilidade, tarefa, ocupação, emprego, dificuldade.


***


O despertador de meu celular tocou pontualmente às 4h00, me arrancando com força de um sono que dificilmente descreveria como tranquilo. Havia sonhado com dinossauros e avestruzes correndo loucos pelo centro da cidade, pulando sobre carros e esmigalhando vitrines de lojas. Gostaria muito de saber o que um sonho assim poderia significar — Espero que seja fortuna.

Ignorando as fantasias absurdas da noite, apoiei-me sobre os cotovelos, tonta, tentando me firmar em minha própria mente, havia manhãs como aquela em que sequer lembrava de quem era, esperava que fosse em razão do sono profundo e revigorante, mas era mais provável ser por estar sempre caindo exausta nos braços de Morfeu, já que não me sentia nem um pouco revigorada.

Enquanto isso, no entanto, o despertador voltava a tocar e a voz mecânica e monótona era mais uma vez emitida pelo aparelho: "quatro horas e três minutos".

Minha cabeça balançava no eixo do pescoço como um pêndulo e tinha a sensação incômoda de que meus globos oculares estavam tremendo em suas órbitas, mas não poderia passar o dia ali, então mesmo com a tontura, saltei para fora da cama, quase caindo para a frente no processo, e tropecei como uma bêbada até alcançar o celular, que descansava em uma das prateleiras da minha desnutrida estante de livros. Vamos lá, é hora de trabalhar, Cath.

Um gemido que mais parecia um grunhido carregado de cansaço me escapou e, esfregando com força os olhos e esticando os braços para cima, estalando cada uma das vértebras que pareciam ter se enferrujado durante a noite, resolvi começar o dia logo de uma vez.

Vamos lá, Cath! Vamos lá! Eu torcia para mim mesma. Vai Cath! Vai!

Eu sou patética, meu Deus. Ri sozinha, na escuridão do meu apartamento.

O lugar onde eu morava era o último quarto de um prédio de três andares no Brooklyn que, com orgulho e muita imaginação, eu chamava de "Estúdio da Cath", quando Simon, meu namorado, reclamava do tamanho ou das infiltrações. Podia ser péssimo — e ele era, de fato, bem ruinzinho —, mas era meu... ao menos enquanto meu senhorio permitia.

Era um quarto com banheiro e cozinha que eu separava ao meio com uma divisória de bambu que achei em um brechó certa vez. De um lado, a "sala", com a TV precariamente presa a parede que eu mal tinha tempo para ligar, o sofá de dois lugares com a estampa floral que, apesar de impecavelmente limpo, parecia exalar um cheiro de mofo imaginário, e a mesa de centro de madeira vermelha. Do outro, meu quarto, com uma cama box de solteiro, a estante estreita, uma mesinha de cabeceira e um armário de duas portas que, por algum milagre, conseguia guardar todas as minhas roupas e sapatos que ainda estavam bons.

Me sentindo já um pouco mais desperta, acendi as luzes do quarto/sala, meus olhos se fecharam em reclamação, mas continuei o caminho de volta a cama.

— A primeira vitória do dia é arrumar sua cama. — Proferi em voz alta como que em um discurso para ninguém além de mim mesma. Estiquei-me apoiada nos joelhos sobre o ninho de lenções e cobertas ainda quentinhos com o calor do meu próprio corpo acumulado por toda a noite, era tentador a ideia de simplesmente "cair" ali por acidente e voltar a dormir, mas eu não podia. — Arrume sua cama agora e a Catherine do futuro poderá cair morta no colchão sem preocupações mais tarde.

É claro, aquela afirmação não era de toda verdade, eu tinha mais com que me preocupar do quê uma fronha amassada e, se há um ser celeste me observando, bem sabe que depois de um dia de trabalho eu não me importaria de dormir no colchão nu ou no sofá duro, desde que estivesse quentinho, o isolamento térmico de meu apartamento era horrível.

Depois da perigosa tentação, pulei sobre o pequeno quadrado de espaço livre da sala, estiquei-me de um lado para o outro e fiz alguns exercícios. Recentemente havia decidido que sim, apesar de todas as adversidades, eu merecia sim um pouco de endorfina no cérebro e estava tentando conseguir isso seguindo uma rotina mais saudável. Em seguida, escorreguei para fora do pijaminha infantil que usava e me enfiei embaixo da ducha quente, agradecendo por uma das pouquíssimas vantagens de acordar tão cedo, era certo de que não teria tal sorte a noite, quando o expediente acabava e já não tinha água quente no prédio.

Após o banho rápido, vesti o uniforme do trabalho: um vestido de garçonete retrô azul bebê que descia até pouco acima dos joelhos e se fechava ao redor de meu corpo com uma fileira de botões brancos e uma gola larga redonda ao redor do pescoço, empurrei o avental e o crachá para dentro de minha mochila vermelha surrada e corri para calçar os tênis, um par de Adidas Superstar branco com um solado que estava no declive para o fim de seus dias de glória. Era meados de junho e o clima estava bem agradável, ou ao menos estaria, depois das 8h da manhã, então dispensei a meia calça de lã que costumava usar nos dias mais frios e calcei um par de meias de cano curto brancas e macias.

Meu estômago quase vazio roncou como um monstrinho, mas eu o ignorei com tapinhas na barriga, não havia nada nos armários da cozinha que eu tivesse realmente vontade de comer, pescaria algo da cafeteria mais tarde, antes da abertura, mas precisava me apressar para pegar o metrô.

Passando pela sala, olhei-me no espelho de moldura pendurado na parede ao lado da porta, puxei meus cabelos castanhos ainda úmidos para trás, desembaraçando com os próprios dedos. Os fios tinham uma textura ondulada bem marcante, então era certo que ficariam frisados dali algumas horas com aquele péssimo tratamento que eu estava dando, mas não planejava deixá-los soltos do coque até o fim do dia de qualquer forma. Passei então os dedos por sobre as linhas dos olhos, esticando a pele, um esforço vão para disfarçar as olheiras que já estava começando a virar um hábito. Eu não costumava dormir tarde, não muito mais tarde do que os horários em que conseguia chegar em casa me permitiam, mas estava estressada, constantemente, estressada e frustrada. E talvez fosse isso, talvez a palavra-chave não devesse ser trabalho — eu adorava estar ocupada —, mas frustração — eu odiava estar ocupada com algo de que não gostava.

Chega, eu disse rígida para mim mesma em pensamento, chega desses pensamentos destrutivos. Paz interior, felicidade genuína, ou o que fosse que a minha deusa interior, que notoriamente não era a Cath que eu estava olhando agora no espelho, precisasse para fingir que estava tudo bem, mantive o mantra "hoje o dia será incrível" em mente e coloquei um sorriso descarado e nada convincente na cara e me coloquei em frente a porta.

Hoje o dia será incrível.

Peguei meu sobretudo marrom pendurado ali em ganchos mal fixados e abri a porta do apartamento. Os primeiros raios de sol ainda não haviam tocado os telhados do Brooklyn quando sentei em um dos acentos desconfortáveis do metrô de Nova Iorque e caí em um sono raso, quase consciente, babando vergonhosamente no ombro de um desconhecido.

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