2 - Chegada

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Heidi despertou num solavanco. Como sempre, tudo não parecia ter sido fruto de um sonho.

Ela abriu seus olhos e vislumbrou um teto alto com pinturas clássicas. A estrutura era tão bela e diferente, quanto poderia ser de uma castelo real - Não que já tivesse estado em um antes, mas por ter visto nos filmes e nos quadros em museus.

O quarto se encontrava claro, o que lhe dava a ideia antecipada de que deveria ser dia. Essa não era sua primeira viagem, portanto, sabia que poderia despertar a qualquer horário.

A enxaqueca deu sinal como uma pancada em sua cabeça, fazendo-a voltar a fechar os olhos imediatamente e agonizar.

Ah, o início da volta de uma Viagem.

Essa era a parte mais detestável. Não importava quantas dessas ela já tinha feito, nunca se acostumaria com a dor dos primeiros dias. A sensação era de que sua cabeça poderia explodir a qualquer segundo, como se tivesse um relógio badalando um sino em seus ouvidos.

A Ressaca, como bem chamavam, poderia durar entre dois até uma semana, dependendo de como foi a Viagem. O fato de se sentir tonta e pesada também era um efeito colateral. Seu corpo estava se acostumando ao novo ambiente.

Heidi se virou, segurando com ambas as mãos sua cabeça, e se manteve em posição fetal. Não chorou, tentou afastar as memórias que vinham como enxurradas em sua mente, mesmo sabendo que não seria possível. Era uma parte dolorosa, mas necessária. Como se estivesse fazendo upload de suas lembranças mais importantes. Era necessário para saber quem era.

Dormiu. Não soube quando e nem por quanto tempo, só teve ideia de que apagou pois despertou novamente. O mesmo teto de moldura clássica a encarava de cima. Não tentou ou quis avaliar as imagens, só sabia que tratava de imagens de anjos e nuvens.

Esforçou-se a se pôr sentada, notando ser ainda dia, como da primeira vez em que acordou.

Olhou a redor, tentando encontrar qualquer coisa que lhe dissesse em que época fora parar, e surpreendeu-se a se deparar com móveis antigos, uma penteadera de madeira bruta, mas com um designer clássico e elegante, com um espelho com uma moldura de ouro. O chão com um tapete grosso e com detalhes em arabescos, a cama com dossel em formato de caracol, e as janelas francesas com cortinas claras e quase transparentes. Soube então que não estava em uma época avançada, e sim muito antiga, só não soube identificar o século.

Um pouco ainda atordoada, afastou as grossas cobertas de veludo verde e vermelho, quase de realezas, de si. Notou que vestia uma camisola de corte longo até seus calcanhares, a barra com babados.

Sim, definitivamente não estava numa época do futuro, tampouco perto da sua verdadeira realidade. Tinha regressando e muito no tempo.

Com os pés descalços, ela se levantou. Caminhou até a penteadera, e deslizou as pontas dos seus dedos pelo material, admirada.

Janel sempre gostou de como as coisas eram antigamente, mesmo a coisa de amores proibidos que os contos de Shakespeare retratavam, por exemplo.

Ela sorriu com a menção a sua amada. Sentiu-se ansiosa, de repente, louca para vê-la, tocá-la, contar a ela como foi a Viagem desta vez. Não tinha segredos entre elas, exceto a forma como Janel morria. Ela nunca lhe contava, mesmo que sempre morresse da mesma trágica forma. De resto, não via problemas em relatar quaisquer coisa que sua amada quisesse saber.

Mais do que feliz, rodopiou pelo quarto de braços abertos e sorriso escancarado. A camisola de corte tradicional espalhando-se ao seu redor.

Virou-se outra vez para a penteadera e mirou o reflexo de sua imagem no espelho redondo. Constatou de imediato que não mudou em absolutamente nada em sua aparência. Ainda o mesmo tom de pele alvo, a cor dos olhos, os cabelos igualmente longos e castanhos como outrem e a estatura. Isso a agradou. Sua imagem ser semelhante e igual a de antes dava-lhe palpites de que Janel se sentiria atraída por ela como sempre fora.

HEIDIWhere stories live. Discover now