Mudei meu horário de almoço, numa tentativa de não correr o risco de encontrá-lo na saída ou chegada. Porém, para meu descontento, certo dia, estou sozinha no elevador, as portas começaram a se fechar quando uma mão se enfia pela fresta. As portas se abrem novamente e Brandon entra. Meus olhos se arregalam, as pernas ficam trêmulas... Mas, de novo, ele sequer me encara. Está conversando com seu secretário e assim prossegue. Nervosamente, esboço um cumprimento em respeito, mas sou solenemente ignorada. Quando o elevador chega ao térreo, eles saem como se não tivesse mais ninguém no aparelho.

Por alguns instantes, não consigo me mover. As pernas paralisadas:

— Filho da puta — balbucio, assim que as portas voltam a se fechar. Estou muito magoada e sinto que posso chorar a qualquer momento e odeio me sentir tão vulnerável.

No entanto, também me sinto uma idiota. Brandon Reeves nunca me iludiu. Tinha deixado claro suas intenções. Sexo. Pelo qual havia pago. Ao me lembrar desse incômodo detalhe, cubro meu rosto, muito envergonhada. O que o homem não deve pensar de mim? Aceitei dinheiro em troca de lhe fornecer favores sexuais. Talvez por isso aja como se eu não existisse. Deve pensar que sou uma aproveitadora desclassificada. Uma interesseira da qual quer manter distância.

Estudo todas as formas possíveis de devolver aquele dinheiro, mas, para isso, preciso me aproximar dele... Coisa que eu não tinha coragem antes. Agora, então? Pior ainda. Possivelmente vai pensar que é um joguinho para chamar sua atenção. Então, aquele elefante branco segue em minha conta bancária. Como se eu já não tivesse problemas suficientes para me tirar o sono! A verdade é que aquela quantia resolveria sim minha vida, mas, não vou mexer num dinheiro que não me pertence!

No final de semana, vai acontecer uma confraternização da empresa em um parque na cidade, em comemoração aos dez anos da empresa. Brandon Reeves tem apenas 34 anos, mas, já é um empresário de sucesso, tendo fundado sua empresa de TI, Next Level, com seus poucos 22 anos, usando um pequeno empréstimo conseguido por seu avô paterno, aquele que o criou como filho. É considerado um gênio no meio da informática.

Cogitei não ir ao evento. A possibilidade de encontrá-lo por lá... sei que não me sentirei à vontade. Porém, muitos de meus colegas disseram que provavelmente ele não compareceria, já que uma confraternização entre o alto escalão da empresa, principais sócios e parceiros aconteceria no almoço do mesmo dia. Dessa forma, sinto-me mais segura em ir.

No entanto, algumas horas de iniciado o evento...

— Meu Deus! Eu não acredito! Ele veio! — uma das meninas exclama.

— Quem? — outra indaga.

— O senhor Reeves!

Enquanto as cabeças se viram curiosas e o burburinho cresce, o prato quase cai das minhas mãos. Confiei que ele não viria! Estava segura de que passaria algumas horas de tranquilidade!

Engolindo em seco e umedecendo os lábios com a língua, volto a cabeça na mesma direção em que todos estão olhando, para observá-lo se aproximar. O ar para em meus pulmões. O homem consegue ficar ainda mais lindo vestido informalmente, mas, ainda assim, elegante. Nunca o tinha visto de jeans e... inferno, ficam ótimos nele. A camisa preta solta, os cabelos, hoje revoltos pelo vento, diferente do cabelo sempre impecável que usa no dia a dia e óculos aviador sobre os olhos. Tenho de me segurar para não soltar uma maldição em voz alta. Essa imagem dele é tudo o que não preciso guardar na cabeça. Sei que será mais uma forma de ser atormentada.

Enquanto todos se acotovelavam para recebê-lo, tento me manter o mais afastada possível, para não chamar a atenção. Não que isso vá fazer diferença, uma vez que sou invisível para ele agora. Sinto-me muito frustrada! Quando estive com ele naquele quarto, achei que o estava agradando. Hoje, já não tenho mais essa certeza...

— Reeves trouxe a senhorita Lee — alguém cutuca minhas costelas. Olho para a colega, tentando entender o que aquilo significa. — Ah, você é nova aqui, não deve saber dos boatos.

— Boatos?

— Sim. Dizem que estão se pegando. Que não vai demorar para que assumam.

Minha atenção se volta então para a moça. Trata-se de Jessica Lee, uma advogada. Tem pais coreanos, mas é naturalizada americana e voltou há pouco de Seul, para trabalhar na empresa. Conheço pouco a outra e já notei que é presença assídua no escritório de Brandon. Minha impressão sobre ela não é das melhores. Acho a mulher um tanto arrogante, vive de cabeça erguida, não cumprimenta ninguém abaixo de seu cargo. Entretanto, tenho de admitir que é linda e veste-se muito bem. Baixo meus os olhos para o vestido florido barato que estou usando. Torço os lábios. Há muito tempo que não compro uma peça nova. Não por falta de vontade. Acontece que compras de nenhuma espécie cabem em meu apertado orçamento.

Se há mesmo algo entre os dois, é compreensível que agora aja como se eu não existisse. O que é uma Sofia Shaffer perto de uma Jessica Lee? Bufo meu desagrado e reviro os olhos. Não é muito bom receber um choque de realidade. Mas, dessa forma, nunca esquecerei qual é o meu lugar. Só que essa verdade dói bastante.

Pronto! Minha tarde de diversão acabou.

Ele está cumprimentando os funcionários, no que ele é muito simpático, parece leve, sorridente, um lado dele que eu não conhecia... Bem, mas a grande verdade é que só conheço seu corpo. Não sei nada sobre a personalidade do homem. Depois desse breve momento com os funcionários, Brandon se afasta e vai dar uma caminhada pelo lugar. É seguido de perto pelo secretário e por Jessica, que, vez por outra, enlaça seu braço ao dele, com a desculpa do chão irregular. Por Deus, estamos num parque, com gramado! Quem usa saltos num lugar como esse?

Respiro aliviada quando meu chefe se afasta. Porém, sigo frustrada. Talvez nunca me acostume a ser ignorada por ele... 

Suíte 220 - A Obsessão do CEOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora