Corte de Sombras e Chamas

A dor do luto - 15

Mariel me olhou e eu olhei para ela, depois voltei minha atenção para minha mãe.

Kendra: Vou trazer o papai de volta, posso fazer isso não posso? - Perguntei olhando para Mariel.

Mariel: Pode, porém o preço seria muito grande. - Falou com receio.

Kendra: Não me importo com isso. - Respondo rapidamente.

Esmeray: Mais eu me importo e tenho certeza que seu pai também não apoiaria essa ideia. - Falou com autoridade.

Kendra: Não posso perder você também mãe. - Repito as palavras e dessa vez com dor em minha voz.

Ela fica em silêncio, depois acena para que eu me aproxime, vou até ela e sento ao seu lado.

Esmeray: Sabe querida, quando você nasceu me lembro de te pegar em meus braços e passar minha mão por seu cabelo, depois toquei em cada detalha de seu rosto. - Disse e fez a mesma coisa que estava dizendo.

Ela encostou seu nariz no meu e depois beijo minha testa.

Esmeray: Você me fez sentir o verdadeiro amor de mãe, me fez uma mulher forte e acima de tudo, me fez a mãe mais feliz... Você sempre será o meu maior orgulho, minha linda criança. - Disse com lágrimas nos olhos.

Não conseguia chorar, era como se todas minha lágrimas haviam acabado durante todas as vezes que gritei e chorei enquanto estava naquele mundo vazio.

Esmeray: Vá chamar seus irmãos. - Pediu e eu imaginei o motivo disso.

Saio de seu lado e vou até a porta, eles estão no corredor, aviso que mamãe pediu para chama-los e logo uma criada aparece junto com uma menina que vestia um lindo vestido azul.

Alban: Está é nossa irmã mais nova, Nadine. - Disse apresentando a garota.

Olhei para ela e uma memória passou pela minha mente, quando eu descobri que mamãe estava grávida, antes de ir para Velaris. Não consegui dizer nada, apenas dei espaço para eles entrarem, ele me olhou e depois desviou o olhar, respirei fundo antes de entrar.

Mariel já não estava mais aqui, agora tinha voltada a se comunicar comigo em minha mente. "Sinto muito por sua mãe e seu pai". Falou e depois não ouvi sua voz novamente.

Esmeray: Sente aqui querida. - Disse tocando no lugar vazio ao seu lado da cama.

Fiz o que ela pediu e ela olhou para todos nós, conversamos e minha mãe contou algumas coisas do passado para Nadine, naquela noite todos riram das coisas que mamãe estava se lembrando, quando já estava ficando muito tarde todos se levantaram para ir aos seus quartos, uma ordem de minha mãe. Eu sei que todos sabiam ou ao menos desconfiaram que aquela seria a última vez.

Esmeray: Kendra? Poderia ficar mais um pouco? - Perguntou.

Kendra: Ficarei quanto tempo quiser. - Respondo rapidamente.

Desejei uma boa noite para meus irmãos e depois fechei a porta de seu quarto.

Esmeray: Lembra quando você era criança e vinha ao nosso quarto porque estava com medo do escuro? - Perguntou e eu me lembrei rapidamente.

Kendra: Lembro que o papai me cobria e eu dormia abraça com você, também lembro de quando ele foi até a cozinha pegar leite quente para mim, porque não conseguia dormir. - Falei olhando para a lareira.

Esmeray: Naquela noite não dormimos, mesmo quando você dormiu, queríamos aproveitar cada segundo daquele momento ao seu lado. - Disse e segurou a minha mão.

Kendra: Vocês foram os melhores pais que eu poderia ter. - Falei com um sorriso fraco.

Esmeray: Estou orgulhosa de você querida, eu e seu pai sempre sentimos orgulho de você. - Disse colocando a mãos em meu rosto.

Kendra: Eu te amo mãe. - Falei e ela sorriu para mim.

Esmeray: E eu te amo, infinitamente, minha filha. - Disse e beijou minha testa.

Depois de um tempo, ela disse estar com sono.

Esmeray: Vou dormir agora querida. - Avisou.

Kendra: Não pode esperar mais um pouco? - Pergunto e lágrimas começam a cair em meu rosto.

Esmeray: Não, já demorei demais para dormir, agora realmente chegou a hora. - Disse com a voz sonolenta.

Kendra: Tudo bem, boa noite mamãe. - Falei com a voz meio trêmula.

Ela me olhou e sorriu, passou a mão em meus cabelos e depois no meu rosto, tocou seu nariz no meu.

Esmeray: Boa noite minha filha. - Disse e se deitou.

Me deitei ao seu lado e fiquei lá, ela segurou minha mão e depois fechou os olhos. Seco minhas lágrimas assim que vez a luz do dia invadindo o quarto, me levanto e vou até a porta onde está duas criadas e um soldado. Eles me olharam e eu respirei fundo.

Kendra: Comecem os preparativo para a cerimonia de sepultamento da Grã-Senhora da Corte Outonal. - Ordeno e um dor atinge meu peito.

Eles me olham assustados e depois começam a movimentação pelos corredores, vou para o meu quarto e quando chego lá, quebro o primeiro vaso que encontro. Depois de ter destruído quase todas as peças de vidro do meu quarto eu me sento no chão e olho para o teto.

Kendra: O que eu faço agora? - Perguntei e logo Mariel aparece ao meu lado.

Mariel: Sofre a dor do luto e depois vamos procurar por uma coisa que eu guardei a muito tempo atrás. - Responde.

Kendra: Não quero sofrer a dor do luto. - Respondo com frieza.

Mariel: Não importa se quer ou não, é necessário sofrer a dor do luto para poder evoluir. - Responde com calma.

Kendra: Pai morto, Mãe morta... O que mais eu tenho que perder? Minha alma? Sinto muito mais eu já a perdi a muito tempo. - Falei me levantando e olhando com raiva para ela.

Mariel: Se estivesse perdido a sua alma, não estaria assim agora... Esse é o preço Kendra, preço que se paga quando ama alguém. - Disse com frieza.

Ela se virou e começou a andar de uma lado para o outro.

Mariel: Essa é a vida, nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Nem os imortais são imortais de fato, a morte sempre chega para qualquer um e não importa a idade. Quando ela chega, ela leva e não é apenas uma vida que se vai junto. - Disse e me olhou.

Comecei a chorar e meus joelhos cederam ao chão gélido, não conseguia controlar minha lágrimas.

Mariel: Isso criança, chore agora e depois se recomponha. - Disse se ajoelhando ao meu lado e me abraçando.

Chorei ali em seus braços, chorei pelo meu pai, por minha minha, pela a vida e anos que perdi, por não estar aqui quando Nadine nasceu, chorei tanto que nem sei a hora em que parei a única coisa que sei, é que Mariel ficou ali, em silêncio apenas com os braços envolta de mim.  

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Boa leitura ❤️❤️