Capítulo 4 - O Asteriano

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— Você só pensa em dinheiro! — o arqueiro bufou indignado olhando para o bárbaro. Os dois caminhavam em nossa direção.

— Você é muito atrevido para um moleque! — Ele retrucou e atirou um pouco de lodo na direção do garoto que imediatamente soltou um gemido de asco. — E você, Necromante, podia ter sido mais rápido! Quase que sou engolido vivo! — o bárbaro rosnou apontando para o ser encapuzado parado ao meu lado.

Eles pareciam ignorar minha presença e eu deveria estar longe, correndo daquela situação, mas ainda reunia forças para me mexer.

— Quem é você? — o elfo perguntou assim que chegou perto. Eu não respondi, minha boca tremia descontroladamente. Ele tinha olhos completamente negros, inclusive a esclera! Não era normal aquilo.

— O que houve garoto? Um imp devorou sua língua? — O Necromante falou. A voz dele era completamente diferente do que eu esperava, era suave, calma, e destoava do crânio animalesco que compunha sua face. Dentro de suas órbitas brilhavam duas esferas azuis, eram como fogo-fátuo. Eu ainda não conseguia pronunciar uma única palavra, meu cérebro tentava definir se eu estava vendo monstros ou pessoas ou se eu tinha morrido e aquilo era meu inferno.

De repente o guerreiro robusto me agarrou pela gola da camisa, eu soltei um guincho contido e tentei me proteger com os braços, escondendo o rosto. Com uma mão, ele conseguiu agarrar meus dois pulsos e puxou meus braços para cima. Eu abri a boca para gritar, mas não saiu som. As sobrancelhas peludas dele franziram enquanto ele esquadrinhava meu rosto. Ele rangeu seus dentes fazendo uma expressão enfurecida que me fez suar frio, seu nariz avantajado em formato de batata quase roçava no meu. Ele bufou com escárnio e depois me arremessou de volta ao chão. Ainda de joelhos, saí me arrastando. Ele riu.

— Mas que Asteriano medroso! Volte para sua cidade, garoto! — ele gargalhou.

— Por que está com medo? — O elfo dos olhos negros pareceu confuso.

Eu ainda me encolhia assustada. O necromante se aproximou e se agachou perto de mim.

— Fique tranquilo, não vamos lhe fazer mal — a voz dele ficou ainda mais suave. Eu retirei as mãos do rosto devagar, ainda um pouco temerosa. O elfo e o bárbaro também me encaravam.

— O que faz aqui nessa floresta? — ele me perguntou.

Não podia contar que vim de outro mundo, poderia? Me chamariam de maluco.

— E-eu não sei. — me encolhi um pouco, abraçando as pernas — eu acordei nessa floresta.

Uma voz meio rouca e ligeiramente grave saiu de meus lábios, me assustando. Não parecia o som a qual estava acostumada.

O que houve com a minha voz? Está... diferente. Instintivamente toquei minha garganta. O grupo me olhou sem entender minha reação.

— Você foi raptado? — o jovem arqueiro se aproximou, parecendo curioso. Ele abaixou a bandana que protegia seu queixo e pescoço revelando seu rosto jovial.

— Não sei. É possível. — eu respondi meio chorosa.

— Levante-se — o mago disse suavemente e eu obedeci.

— Como você é nanico! — o jovem arqueiro riu. — consegue ser mais baixo que as asterianas!

Fiquei encarando ele sem reação, não sabia se aquilo deveria me ofender.

O som de madeira rachando voltou a soar, estava mais alto e mais ensurdecedor que antes. Todos olhamos para cima. Parecia que a árvore iria se partir.

— O que você fez?! — O garoto gritou para o bárbaro.

A TerceiraOnde histórias criam vida. Descubra agora