Capítulo 3 - O Titã Vermelho

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O céu! Quase me engasguei. Agora eu podia notar claramente, não era azul. Era uma cor que parecia mesclar um lilás bem claro com salmão. Era um tom suave, mas obviamente diferente do azul ou branco. Não havia nuvens naquele momento. Uma brisa balançou meus cabelos e trouxe um aroma refrescante e levemente adocicado. Um mar de árvores azuladas e manchadas que se estendia até o fim do horizonte em quase todas as direções.

E agora? Essa cor significa que está anoitecendo? Mas ainda está tão claro... Fiquei confusa.

Examinei a vista, tentando me localizar. A clareira com os túmulos havia desaparecido entre a vegetação, parecia impossível de saber se eu tinha conseguido ganhar terreno. Fiquei inconformada, como era possível uma floresta que não se vê o fim? Estreitei os olhos ainda tentando enxergar o que havia além e pude jurar que vi a silhueta de algumas montanhas. Longe, bem ao longe deveria ser o fim da mata. Desanimador. De repente a brisa ganhou força e se tornou um vento capaz de balançar suavemente os galhos e me descabelar. Supus que soprava para o norte, era difícil saber se o sol daquele local seguia os pontos cardeais, mas eu assumi que sim. Olhando na direção do vento, reparei que o terreno estava diferente. Algumas árvores pareciam mais baixas.

Uma depressão no meio da mata. Só podia ser isso.

Poderia ser um abismo, poderia ser uma cachoeira. A depressão parecia contornável. Julguei ser uma aposta segura, se não houvesse cachoeira ou se fosse um abismo muito perigoso, bastaria contornar. Com cuidado, desci da árvore e segui para meu novo objetivo.

Depois de uma hora de caminhada, escalei outra gigante e localizei meu ponto de referência, ainda estava longe mas eu seguia na direção planejada. Continuei caminhando e a paisagem parecia evoluir lentamente conforme eu avançava. As árvores ficavam mais altas e a mata se tornava mais escura, estremeci com a possibilidade de passar outra noite sozinha naquele lugar. Mantive o passo até notar um local onde havia mais luz. Parecia o final da mata, mas não era. Eu havia alcançado a depressão.

À minha frente havia um penhasco, um buraco na terra. Olhei para baixo, tentando medir a altura e a possibilidade de descida. Havia árvores nesse buraco, era como um pequeno nicho isolado dentro da floresta, mas algo realmente extraordinário roubou minha atenção. Uma árvore colossal, completamente diferente das demais, despontava entre os tons verde-azulados. A copa era vermelho sangue e o tronco, branco. Era surpreendente e me senti compelida a ver esse titã de perto. Comecei a ladear a borda do penhasco, procurando por uma escada natural ou uma árvore para eu poder escalar abaixo. E não foi difícil encontrar o que eu queria. Uma árvore colada na borda da ribanceira foi minha escada. A descida íngreme foi lenta e cautelosa. Quando coloquei os pés no chão notei uma leve mudança do ambiente. Não havia mais aquele aroma refrescante e as árvores pareciam mais escuras. O chão continha muitas folhas mortas e a terra era mais úmida, mais podre.

Seria culpa dessa árvore monstruosa?

Continuei explorando o local e senti que havia menos pedregulhos e mais rochas. Eram grandes, brancas e arredondadas, cobertas de musgo amarelo. A seiva das árvores não cintilava, eram opacas. Pareciam estar morrendo. Deveriam estar pois vi muitos troncos apodrecidos pelo caminho. Mais para frente eu podia enxergar uma região mais clara, era o local onde ficava a árvore vermelha. Não era uma área muito ampla, devia ter no máximo uns quatrocentos metros quadrados, similar a uma quadra poliesportiva. Nela era possível ver o titã vermelho, com seu tronco branco que tinha aparência de antigo. A árvore repousava dentro de uma lagoa de águas enegrecidas rodeada por um gramado cor de cinzas. Notei diversos tocos de árvores espalhados pelo campo, pareciam ter sido arrancados ou partidos. Era uma visão um pouco preocupante.

Essa monstruosidade não deveria estar ali por acaso, haviam muitas perguntas sem respostas e tudo indicava que a podridão que pairava naquele local tinha algo a ver com essa árvore. Me acomodei atrás de uma rocha grande perto de um tronco e esperei. Alguns arbustos me escondiam junto com as sombras das árvores. Eu queria ir até ela, examinar de perto, mas um sentimento de temor me impedia. Devia ter algum motivo para aquela área sem árvores, para a lagoa e aquela água negra. Ouvi barulhos vindo do outro lado do campo e rapidamente me escondi nas sombras, mantendo a árvore no meu campo de visão para enxergar o que acontecia.

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