— Honestamente, acho que vocês deviam mesmo ir pra outro lugar, ou pra casa. — A voz do segurança soou baixa e grave. Grave demais.

Laura se virou para ele ultrajada.

— Seu chefe sabe que você fica mandando clientes embora?

— Só aqueles que não têm idade pra estar aqui — ele se defendeu.

Samantha começou a rir e Laura lhe deu uma cotovelada no braço. Era possível sentir os olhos do segurança queimando suas costas e ela só não o mandou para aquele lugar porque na proximidade do homem de braços fortes e tatuados, mal cobertos por uma camiseta preta, os babacas motorizados pararam de mexer com ela e a amiga. E agora mais do que nunca ela estava determinada a esperar mais um pouco.

A porta da boate se abriu e tanto Laura como o segurança viraram a cabeça na mesma direção, em expectativa. Duas amigas saíram, uma delas arrastada pela outra.

Laura olhou no relógio de pulso e fez uma careta. "Meio cedo pra isso" ela pensou sobre o estado alcoólico da indivídua. Mas deu de ombros porque era exatamente o que ela precisava para poder entrar.

O segurança a encarou e... pediu o documento. Nenhuma surpresa. Ela pegou na bolsa o pedaço de papel todo escangalhado, uma metade estava amassada e na outra metade o plástico estava descolado.

O segurança puxou as duas pontas separando-as ainda mais.

— Ei! Vai terminar de estragar, é?

Ele ergueu uma sobrancelha para ela e pediu o documento de Samantha, que ainda ria se divertindo com a situação. Ele comparou as duas identidades e devolveu a de Samantha liberando sua entrada.

Laura continuou ali, assistindo o escrutínio com que o homem de cabelos castanhos penteados para trás analisava o pequeno pedaço de papel em sua mão.

Ele ergueu os olhos para ela e mesmo sem dizer uma palavra sequer sua expressão gritava seus pensamentos em alto e bom som. O suficiente para fazer Laura responder.

— Acha mesmo que se eu fosse falsificar um documento eu ia fazer essa porcaria? Se não acredita na minha idade por que não liga pra minha mãe?

O segurança riu. Genuíno. Uma risada rouca e quase pareceu bonito sem todos aqueles vincos na testa e aquela cara de quem tinha uma melancia enfiada no rabo. Laura sorriu discreta, orgulhosa de seu feito. Arrancou o documento da mão dele e entrou atrás da amiga.

O lugar estava, obviamente, lotado. Elas se esgueiraram pela multidão até chegar no bar, longe o suficiente da pista de dança, sendo possível conversar em um volume razoavelmente aceitável.

Pediram cervejas e enfrentaram o mar de gente que ondulava no ritmo de "Hips don't Lie" da Shakira. Com tantos corpos se esbarrando o tempo inteiro, toda a dança e os primeiros efeitos do álcool elas voltaram ao bar mais duas ou três vezes até darem de cara com o mesmo segurança que estava na porta.

Ele estava em pé, com as costas apoiadas na parede e um braço apoiado na bancada, segurando uma garrafa de água. De frente para a festa, ele viu o exato momento que Laura caminhou um pouco cambaleante. A visão era bem diferente da que ele viu horas atrás, na calçada.

Os cabelos dela estavam bagunçados e muitas mechas da franja estavam fixas, coladas no suor de sua testa. As bochechas estavam vermelhas e os olhos pareciam menores.

A garota o fitou com uma carranca e ele segurou a vontade de rir.

Laura pediu mais duas cervejas e entregou a própria comanda ao barman. Algumas garotas esbarraram nela, derrubando um pouco do que parecia ser energético em seu vestido. Laura se virou assustada, a carranca desapareceu e ela sorriu amplamente dizendo estar tudo bem. Ali o segurança soube que o problema definitivamente era ele.

Nostalgia PopWhere stories live. Discover now