– Até tem. Mas só trata os sintomas, não trata a causa.

A moça disse, lamentando.

– E o que vocês vão fazer?

Mathias quis saber.

– Ele vai começar um novo tratamento – Morena contou, após um longo suspiro. – E é sobre isso que queria te falar.

– Sobre o tratamento do Seu Domingos?

O olhar desconfiado de Mathias entregava que ele não entendia o rumo da conversa.

– Sim. Mas não exatamente... O que acontece é que papai vai precisar de dinheiro para esse novo tratamento, Mathi. – A garota disse, criando coragem para dizer-lhe a verdade por completo. – E mamãe não pode fazer mais do que já faz, então pediu para que eu fizesse.

– Fizesse o quê, exatamente?

O rapaz questionou, enquanto Morena fazia uma longa pausa, olhando para cima na tentativa de conter as lágrimas, e soltando um longo suspiro.

– Ela ligou ao meu padrinho, para que me arrume por alguns meses uma ocupação no time de futebol onde trabalha. – Ela disse, rápido como se estivesse confessando a participação em um crime. – E isso é em Paris, na França.

– Na França? – Mathias se espantou e riu, incrédulo. Voltou a encará-la com seriedade quando viu, estampado no rosto da moça que ela não poderia estar falando mais sério. – Como assim, More? Na França? E você vai?

Perguntou, ainda em choque.

– Eu preciso ir. – A bailarina disse, já sentindo as lágrimas retornarem aos seus olhos. E ela chegou a pensar que nem lágrimas teria mais em seu corpo de tanto chorar na noite anterior quando soube da notícia. – Preciso fazer isso pelo meu pai. Para que ele tenha a chance de se recuperar.

– E por que não pode fazer isso estando aqui? Por que seu padrinho não te conseguiu um emprego no Boca ou no River? No Lanús, que fosse... Você nem fala francês, Morena! O que vai fazer lá?

Para Mathias, não fazia sequer sentido o que a namorada estava prestes a fazer.

Cruzar o oceano para ir trabalhar em um país distante, sem sequer falar o idioma dos nativos? Essa era uma péssima ideia. E ainda faria com que ela ficasse longe dele, o que tornava tudo ainda pior.

Morena, sinceramente, também não via sentido na proposta, mas acreditava na mãe quando ela dizia que o dinheiro que seria pago em Paris por semana, apesar de não ser tanto para os europeus, quando convertido de Euros para Pesos argentinos, seria para eles "uma fortuna", com um valor que iria muito além de seu preço.

– Por que você vai fazer isso consigo mesma? – Mathias perguntou, mais uma vez, negando com a cabeça, totalmente incrédulo. – Por que você fará isso com nós dois? Como nós dois faremos no meio disso tudo?

Para More, já estava sendo difícil o suficiente aceitar essa decisão – que nem fora tomada por ela mesma. A atitude de Mathias tornava tudo infinitamente pior.

– Me diga, Morena. Como faremos? – O rapaz começava a subir o tom, falando com certa rispidez. – Ou você não pensou em nós dois?

O tom agressivo do rapaz atravessava os ouvidos da moça, indo direto para seu coração; ainda sensível por toda a situação. Ela pensou que poderia contar, pelo menos, com um pouco de compreensão da parte dele.

– Claro que pensei, mas não me deram escolha, Mathi. Não queria ter que ir. Você sabe que não. Não foi uma decisão minha!

Ela tentou se justificar.

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