just give your heart away

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Tulsa, Oklahoma, fevereiro de 2022

Não era para ele estar naquele lugar.

Definitivamente, não.

Taylor evitava viagens nostálgicas, uma vez que nada que deixara para trás valera grande coisa. A tristeza que experimentava ao permitir-se recordar a juventude relacionava-se muito mais a si mesmo que aos outros. Algo misterioso acontecia-lhe ao olhar para trás, pois o sentimento que o consumia nada mais era que a falta que sentia de si, de quem um dia ele fora. Uma época em que ainda acreditava em dias ensolarados, na bola de futebol exprimida contra a rede e no paraíso depois da parte baixa da floresta.

Talvez fosse esse o motivo pelo qual dirigiu por quase duas horas para a cidade que ainda o assombrava.

Pediu mais uma dose e virou o copo imediatamente. Ainda sentia os cabelos úmidos do banho que levara de Natalie, mas não se importava com mais nada. O silêncio. A dor pesada e pegajosa. A sensação de morte, morte emocional. Taylor parecia mergulhado num rio de frustração.

Ele baixou a cabeça, sentado na banqueta do bar, encarando a madeira escura do balcão, alheio às pessoas ao redor.

E foi assim que ela o viu.

Não conseguiu se mover do lugar. O cérebro travou, o corpo inteiro pareceu desativar várias funções.

Madeline não fazia ideia de quanto tempo ficou ali olhando para ele. Estava atordoada demais para dizer qualquer coisa, mas seu coração gritava.

Era ele.

Definitivamente.

Ele era mais loiro do que lembrava. O cabelo preso detrás das orelhas, os pontos de barba, também aloirada, os olhos avaliativos, o canto das pálpebras expressando surpresa e reconhecimento, na boca o sorriso.

— Mad?

Ele nem precisava ter perguntado. Madeline estava diante dele, materializada como se tivesse escapado de dentro da sua mente, o lugar onde ela morava e roubava os seus pensamentos e sanidade.

Ela lhe causara cicatrizes emocionais profundas e dolorosas, mas ainda assim fazia o seu coração acelerar.

Madeline e Taylor se abraçaram longamente, e foi como se repetissem o abraço de todas as outras vezes que se encontraram, não apenas nessa vida.

— Tay... eu não... — ela não podia acreditar e nem conseguiu terminar a frase, apavorada com a implosão de sensações e sentimentos despertados ao vê-lo de novo. — Você tá diferente!

Sem pensar muito, Mad tocou o rosto dele, vasculhou na escuridão, à procura de um rosto que nunca mais voltaria a ver. Agora ele estava maduro. Um homem feito, com algumas rugas ao redor dos olhos incrivelmente azuis.

— Vinte anos são um longo tempo. — ele sorriu ao se afastar, porque era como se o toque dela o ferisse.

— O que faz aqui, Tay? Pensei que tivesse se mudado de Tulsa.

Como ela sabia já que não se falavam mais? Taylor se questionou, mas não perguntou nada.

— Eu tive uma noite difícil. Não sei muito bem o que vim fazer aqui. Mas com certeza não esperava te encontrar.

— Meu pai morreu faz alguns meses.

— Eu sinto muito.

— Está tudo bem. Eu só... precisava resolver algumas coisas.

Madeline sentou-se ao lado de Taylor e os dois conversaram. Conversaram por horas como se o tempo nunca tivesse passado e as circunstâncias da vida não os tivessem separado. Madeline sentiu a solidão daquele homem em si mesma e, por uma fração de segundos, teve certeza de que a vida não tinha sentido. Era impossível decifrá-la.

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