Só então que me lembrei do senhor que estava no mesmo ambiente.

— Eu trouxe café. — Estendi uma das xícaras para Arnaldo e a que seria minha, para Diogo. — Muito obrigada por vir ajudar. Eu não teria muita noção do que fazer.

— Ás vezes nem vamos precisar fazer nada, apenas supervisionar. Mas é sempre bom ficarmos atentos quando possível.

Concordei com a cabeça e me virei para Arnaldo, que nos observava com uma expressão desconfiada nos olhos. Não era julgamento, mas sim a cara de quem sabia do que estava por vir.

Dei um passo à frente, e subi em uma das tábuas da cerca, observando a vaca que caminhava de um lado ao outro, parecendo inquieta.

— Ela parece estar sofrendo — minha voz saiu baixa, eu falava mais comigo mesma, do que esperando uma resposta.

— É o preço que se paga para gerar uma vida. É doloroso para ela, mas quando seu filhote está no seu pé, ela não se lembra de mais nada, a não ser de limpá-lo.

Diogo se colocou ao meu lado na cerca de madeira, apoiando um dos pés e os cotovelos nas tábuas.

— É fascinante.

— É sim.

Quando me virei para ele, Diogo me observava. Era como se falasse sobre mim. Seus olhos fixos nos meus, como se transpassasse uma energia por eles. Era enigmático, e intenso.

— Bom... eu... — Comecei a alisar minha roupa, sem saber o que fazer com as mãos. — Acho que vou preparar algo para... Bom, vou indo.

Meu Deus, o que estava acontecendo comigo? Eu não sabia o que falar, ou o que fazer com as mãos. Estava parecendo uma adolescente perto de um homem bonito.

Respirei fundo, tentando me recompor.

— Vou preparar algo para comermos. — Finalmente consegui organizar meus pensamentos e desci da cerca.

Mas aparentemente meu corpo não tinha se recuperado como minha mente, e minhas pernas falharam para trás, fazendo com que eu pisasse em algo mole e escorregadio. Provavelmente seria um tombo doloroso se braços fortes não tivessem me segurado a tempo.

Diogo me puxou pelos braços, não deixando que eu fosse para o chão, e em seguida encaixou uma das mãos na minha cintura, firmando-me mais perto de si.

Levei minha mão ao seu peito, sentindo pela primeira vez os músculos por baixo de sua camisa. E novamente nossos olhos se encontraram. Era estranho me prender tanto apenas por um olhar, mas Diogo tinha algo diferente na forma como me encarava, como se dirigia a mim. Eu conseguia me ver através de suas íris castanhas, e me enxergava uma mulher diferente daquela que via no espelho.

Notei quando seus olhos recaíram sobre minha boca, parando por alguns segundos nela, e quando mordeu o lábio inferior. Minha respiração ficou mais pesada, descontrolada.

Sentia que seria beijada a qualquer momento, mas um pigarrear me tirou dos meus devaneios, trazendo-me para o momento presente novamente.

— É... Obrigada por me segurar.

Diogo apenas concordou com a cabeça e me soltou. Quando me virei de costas para ele, vi Arnaldo mexendo em uma caixinha de medicamentos, como se não quisesse nada.

Subi para a casa e fui direto ver Pedro. Meu coração ainda martelava no meu peito, sem conseguir entender o que estava acontecendo com o meu corpo.

Passei um tempo com ele, vendo-o dormir. Era tão perfeito. E até aquele momento, a única pessoa que fazia meu coração disparar daquele jeito era meu filho.

Ele disse com uma voz tão mansa, calma, e doce, que se fosse outra pessoa, se fosse Otávio, eu estaria assustada. Para falar a verdade, meu falecido marido nunca se dignaria a pegar um rodo na mão para me ajudar.

Com outro sorriso, voltei ao serviço.

Quando terminamos, nos sentamos na varanda, nos mesmos lugares onde havíamos passado a noite conversando.

— Nossa, que confusão. — Soltei meu peso, deixando-o relaxar sobre a cadeira.

— Que diversão. — Olhei para Diogo e ele tinha um sorriso no rosto.

Instantaneamente, meus lábios tomaram vida, abrindo um sorriso para ele também.

Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Sr. Arnaldo começou a nos chamar.

— Está nascendo, venham.

Ainda trocando olhares com Diogo, seu sorriso se iluminou de um jeito diferente de quando olhava para mim.

— Vamos?

Colocando-se de pé, ele me estendeu a mão e me esperou.

E assim presenciei uma das cenas mais agoniantes e lindas, o nascimento do meu primeiro bezerro naquele lugar.

Eu me sentia mais feliz do que nunca.

O Cowboy, a Viúva e o BebêWhere stories live. Discover now