— Eles são mesmo. — Minha voz saiu com toda a emoção que eu tinha ao falar deles.

— Vocês são uma família maravilhosa.

Olhei para Ellen de canto de olho, ela observava Pedro em seu colo enquanto falava da minha família. Provavelmente pensando na própria, onde eram apenas ela e o filho. Duas pessoas vivendo por conta, em um mundo cheio de maldade. Na verdade, era apenas uma pessoa, que tinha que trabalhar muito para cuidar de si própria e do filho.

Naquele momento um aperto tomou conta do meu coração. Eu não era insensível ao ponto de olhar para aqueles dois e não sentir preocupação com eles.

— Eu sei que já te disse isso, mas qualquer coisa que você precisar, eu e minha família vamos estar à disposição.

Mantinha meus olhos no caminho à minha frente, mas senti quando ela dirigiu os olhos para mim, analisando-me.

— Eu agradeço.

Permanecemos alguns segundos em silêncio novamente, até chegarmos a porteira. Atravessei a estrada e parei do outro lado. Eu sentia uma coisa estranha, como se eu não quisesse abandoná-la. Eu não queria sair de perto de Ellen.

Soltei uma respiração um pouco mais pesada dentro do veículo ainda e Ellen fez o mesmo.

— Bem, muito obrigada pela carona. — Sua voz era suave e tão baixa que tive que me esforçar para ouvi-la.

— Não precisa agradecer.

Finalmente ela ergueu os olhos em minha direção, prendendo-os nos meus. Ela dizia tudo com apenas aquele olhar, ao mesmo tempo em que não dizia nada. Eu tinha um medo ao seu lado, de fazer qualquer coisa errada, de magoá-la.

— Você quer descer?

Fui pego de surpresa, o que provavelmente estava estampado na minha cara quando abri os olhos um pouco mais.

— É claro. — Foi tudo o que consegui dizer antes de descer e abrir a porta para ela.

Caminhamos lado a lado até a entrada de sua casa. Havia uma luz acesa do lado de fora, que provavelmente ela havia deixado para quando chegasse, então não foi nada complicado para ela destrancar a porta e entrar.

— Vou colocar o Pedro no berço. Fique à vontade, volto logo.

Acenei com a cabeça, concordando, e ela adentrou a casa.

Como não queria que ela sentisse que eu estava invadindo, segui para a varanda, sentando em uma cadeira de frente para o quintal.

Fiquei observando um pouco o local, o terreiro que parecia outro um mês atrás. Estava limpo, com algumas plantas novas. Ellen vinha fazendo um bom trabalho naquele lugar e eu a admirava por isso.

— Desculpa a demora. — Ela me tirou dos meus pensamentos. — Pedro acordou e tive que fazê-lo dormir novamente.

Puxando uma cadeira, ela se sentou ao meu lado, também observando o quintal. Ela permaneceu em silêncio por alguns minutos. Estava agradável, apesar de tudo. Era reconfortante ficar ao lado dela, apenas admirando a escuridão à nossa volta.

Quando olhei para Ellen, ela estava absorta em seus pensamentos também.

— No que está pensando?

Ela piscou algumas vezes quando se dirigiu a mim, só então parecendo notar que não estava sozinha.

— Em tudo, e ao mesmo tempo em nada.

— Isso é profundo demais para uma madrugada — brinquei, e pelo menos consegui tirar um sorriso modesto dela.

— Ás vezes é nesses momentos que os pensamentos ficam mais concretos.

Concordei com a cabeça e voltei minha atenção para a frente.

— Me conta mais sobre você. — A frase saiu sem que eu pensasse muito.

Olhei para Ellen que também me fitava, mas não com espanto, ela estava mais intrigada.

— Que tal uma brincadeira? Cara um conta um detalhe da sua vida, para que nós dois nos conheçamos.

— Concordo.

Antes que começássemos, ela preparou um chocolate quente, já que a noite começava a esfriar e me serviu uma xícara.

— Quem começa? — ela se acomodou do meu lado.

— As damas primeiro, sempre.

Novamente ela sorriu para mim, desta vez de lado, mais simpática e verdadeira.

— Eu vim de uma cidade do interior também. Não era sítio, apenas uma cidade pequena. Sua vez.

Pensei um pouco no que dizer.

— A fazenda é minha vida. Eu conheço cada pedaço do lugar onde vivo, e ela está passando de gerações, era do meu avô.

Ellen me encarava com uma admiração nos olhos, que não sabia se merecia.

— Você fala com muita paixão desse lugar. É muito especial para você. — Não era uma pergunta e sim uma afirmação.

— É de onde eu vim, e o meio em que cresci, então eu respeito, mais do que tudo, as terras daqui. Mas é sua vez agora.

— Quando eu era pequena, sonhei que era mãe de um menino.

— Acho que seu sonho virou realidade.

Desta vez seu sorriso era amplo, e ela parecia apaixonada quando começou a falar:

— Com certeza. Dei o mesmo nome que o bebê do meu sonho tinha. Achei que fosse significativo o sonho.

— Você é uma mulher incrível. — Falei sério e esperei que ela dirigisse o olhar para mim. — Não é fácil viver sozinha, com um filho pequeno. E sendo mulher de Otávio, acredito que não tem sido fácil há muito tempo. E mesmo assim, eu vejo você dando o seu melhor. Falo até mesmo por essa casa, que você transformou.

— Eu dou o melhor que posso.

Pela sua voz, já dava para perceber que aquele era um assunto em que Ellen sentia mais, a forma como olhou ao redor, como mexia nas mãos.

— Você está fazendo o seu melhor, e isso que importa.

Coloquei uma mão calorosa em seu ombro, para demonstrar apoio.

O resto da noite foi muito mais tranquilo, voltamos a falar sobre nós mesmos.

Quando saí de sua casa, o sol já estava começando a apontar no horizonte. Eu sabia que teria um longo dia pela frente, enfrentando o trabalho sem dormir, mas valera a pena.

O Cowboy, a Viúva e o BebêWhere stories live. Discover now