he'd trade his guns for love, but he's caught in the crossfire

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[capítulo único]

ele trocaria suas armas por amor, mas ele foi pego no fogo cruzado.

Eles estavam encurralados.

Estavam encurralados e a culpa era inteiramente de Yeonjun por ter os guiado para aquele corredor sem fim, que possuía apenas uma enorme janela que dava para o exterior do prédio, apenas porque a adrenalina, terror e cansaço tinham enevoado a sua mente o suficiente para fazê-lo esquecer onde davam aqueles corredores que percorreu diariamente nos últimos três anos.

Ele não perdeu muito tempo se amaldiçoado pela tomada errada de decisão, afinal, não era como se tivesse se preparado para sobreviver a um apocalipse zumbi quando saiu de casa naquele dia. Era até ingênuo, se não trágico, pensar que, poucas horas atrás, sua única e maior preocupação era se Choi Soobin mudaria de ideia sobre o encontro deles do dia seguinte, não se estaria vivo para sequer chegar ao dia seguinte.

O fim do mundo não foi anunciado, como acontecia nos inúmeros filmes de catástrofe existentes por aí. Não houve um sinal que fosse, um dia para dúvidas ou, pelo menos, cinco minutos de antecipação aterrorizante. Na verdade, aconteceu repentinamente, enquanto Yeonjun esperava por sua vez na fila da cantina da escola, durante o primeiro intervalo do dia, ao lado do seu amigo mais novo, Huening Kai.

Em um segundo, Choi Yeonjun era um mero estudante do último ano da escola de Ensino Médio Apgujeong, batedor do time de beisebol, integrante do clube de Artes, com um histórico razoável de notas, algumas advertências por matar aula ou dormir durante as lições, vários amigos por todo o colégio e planos para cursar Design na faculdade. No outro, era Choi Yeonjun, um dos únicos sobreviventes do massacre da cantina, que matou metade dos colegas com quem trocava cumprimentos cotidianamente pelos corredores, os quais, assim como ele, não esperavam ouvir gritos aterrorizados ecoando pelo prédio, às nove da manhã, e assistir a cena de Park Wooseok, presidente do grêmio estudantil, adentrando o refeitório com a sua camisa do uniforme, sempre tão limpa e bem passada, toda suja de sangue e gritando alguma coisa sobre zumbis terem invadido o colégio.

Aquelas foram as últimas palavras dele.

Yeonjun não tinha certeza como Kai e ele tinham conseguido sair vivos do refeitório. Sua mente estava distorcida pelo choque, a onda de terror que o assolou no momento que seus olhos registraram a imagem das criaturas horrendas — alunos, funcionários, pessoas da rua, professores — adentrando o local e atacando quem cruzasse o seu caminho e o pensamento hediondo de que iria morrer. Iria morrer antes de sequer ter dado um selinho em Soobin. O quanto o mundo o odiava?

Ele lembrava de empurrar Kai para detrás do balcão da cantina, o que causou o corte que o mais novo tinha em seu braço agora — o qual pintara parte de uma das mangas do seu uniforme de vermelho-escarlate, cor de sangue —, e pular por cima do mesmo balcão no exato momento que um dos seguranças — aquele que sempre lhe dava um "bom dia" animado e perguntava sobre a próxima partida de beisebol do time escolar — saltar sobre seu corpo para... comê-lo? Mordê-lo? Arrancar sua cabeça? Naquele momento, Yeonjun não sabia, apenas tinha consciência que os olhos doentios e azulados, a pele em decomposição, o cheiro mortificante de podridão que exalava do seu corpo e os movimentos grotescos não pertenciam ao gentil senhor que sempre o parabenizava por uma vitória do time de beisebol.

Um dos funcionários da cantina os ajudou e guiou-os apressadamente pela cozinha do refeitório, coletando quantos alunos podia pelo caminho. De repente, estavam em um dos corredores do colégio e o mundo despedaçava, como papel se desfazendo por chamas, ao redor deles.

CrossfireWhere stories live. Discover now