Capítulo I: Galinhas Motoqueiras

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— Isso vai ser um saco. — Disse a misteriosa galinha, que ao apear da motocicleta, se dirigiu a uma das galinhas, que tinha uma penugem cinza, que se escurecia nas penas pontudas de suas asas e também na área próxima ao bico. 

— Ele está sempre aqui, quando estamos aqui. É impressionante! — Exclamou a galinha cinza. 

— Vamos só beber e vazar, sem brigas. — Disse a galinha da penugem marrom canela.

A galinha de óculos escuros fez um sinal com a cabeça, para que as outras três a seguissem para dentro do bar.

— Regra número um, não é Jurema? — A galinha cinza abaixou os óculos de proteção, o deixando pendurado no pescoço como uma bandana.

— Não arrumar briga com nenhum pato religioso idiota, por mais idiota que ele seja. Eu conheço a regra, fui eu que fiz ela. — Respondeu a galinha marrom, do qual nome era Jurema. 

No bico de Jurema tinha uma rachadura, que era a marca registrada dela. E o rumor por trás daquela rachadura era o motivo pelo qual a maioria dos bichos da Ilha de Sonatra tinham um medinho dela. Talvez você queira ficar e saber melhor que história é essa aí, pois Jurema é meio insana. — Provavelmente a galinha mais doida que vocês irão conhecer. — E o que não falta são histórias dela para contar. 

— E você sempre é a primeira a quebrá-la. — Por mais que ela tivesse um bico no lugar de dentes, sua expressão parecia esboçar um pequeno sorriso. 

— Cala a boca, Dolores. — A galinha marrom a repreendeu, enquanto Dolores ria de sua companheira. 

Fora das motocicletas, era possível observar melhor aquele grupo curioso de amigas de pena. Eram galinhas normais, tirando o fato de terem o tamanho de crianças humanas, falarem, andarem em motocicletas e estarem vestindo jaquetas pretas, que logo atrás em suas costas tinha um grande desenho bordado e colorido em um formato de círculo, no qual havia uma galinha branca também vestida com uma jaqueta, que usava um óculos de sol, com chamas em suas lentes, como se ela observasse uma grande explosão, e no fundo um simples laranja vivo. Este desenho estava bordado na jaqueta de todas as galinhas, que agora entravam no bar.
Honey Bar também parecia ter uma estética rústica, como do lado de fora. Algumas mesas eram distribuídas pelo não tão grande estabelecimento, com uma mesa cheia de bolinhas coloridas e uma bola única que parecia um tanto peculiar, perto dela tinha uma escada que levava até onde o dono do estabelecimento ficava quando o fechava. 

Quando as galinhas entraram, logo dão de cara com Seu Zé, que tinha uma espiga de trigo na boca. Um texugo de pelagem preta e com pelos esbranquiçados que iam de suas costas até a sua cabeça, por cima dos pequenos olhos negros. Ele estava logo atrás da bancada, limpando alguns de seus queridos copos de vidro colorido, os segurando cuidadosamente com suas patas, que tinham garras bem afiadas. Apesar de sua aparência meiga, Seu Zé era doidinho da cabeça e tinha coragem até para peitar o povo de Aricotra, caso fizessem baderna em seu precioso e querido bar. Na frente da bancada, tinha alguns banquinhos, onde geralmente as galinhas se sentavam.
Elas caminharam até eles para se sentarem, foi aí que Jurema olhou para o lado e viu três patos sentados em uma mesa ao lado, rindo enquanto conversavam. Eram eles: Pato Frederico e seu grande grupo de amigos composto por dois patos: Marquinhos e Jairo.
Logo ao os ver, por mais que os óculos escuros não permitissem que vissem seus olhos amarelados, ela os revirava. 

As risadas cessaram e logo os três patos as olhavam de forma discreta. — Ou eles apenas achavam que estavam sendo discretos. — E disfarçaram os olhares. 
O papel de ator dos três era medíocre, pois as quatro galinhas já tinham percebido os olhares estranhos dês de quando eles as viram.

— Zé. — Jurema chamou a atenção do texugo. 

Seu Zé no mesmo instante olhou para elas sorrindo, elas estavam sentadas nos banquinhos em sua frente. O brilho no rosto do velho texugo logo foi sumindo, mudando a cara para um olhar de desdém e cansaço. Sem mover o rosto ele apenas olhou para os patos ao lado, com a mesma cara. 

As Galinhas do CóOnde histórias criam vida. Descubra agora