ANIMA AETERNA ━ DRUIG.

ꞌꞋꞌ ࣪ UNUS: the break of rome.

━ Mas que...

Então a moça estava gritando e Aurora só pôde observar conforme ela tropeçava em sua corrida e era surpreendida por um prédio quebradiço. As mãos suando e tremendo, ela esticou-a em sua intenção de ajudá-la, mas a mulher somente a olhou com pavor, seu grito sendo perdido em algum lugar abaixo dos pedregulhos.

Olhando para a visão abaixo, sentiu as pernas fraquejarem. Sua garganta fechou ao sentir o suspiro da vida escapar por entre os lábios da mulher e finalmente, a mão parar de se mexer. Estava morta. Aurora encarou o corpo moribundo com olhos opacos, sua mente se agitando em milhares de pensamentos. Fragmentos de culpa inundaram seu coração.

O coração batendo a mil, sentiu sua mente agitada se transformar em uma enorme dor constante. Os dedos finos acariciavam seu cabelo conforme ela caminhava para trás lentamente, gemendo de dor. Aquilo não a fazia bem.

Um ruído alto soou às suas costas e antes que pudesse reagir ao prédio desmoronando, dois braços fortes roderam-lhe a cintura.

Aurora piscou, mirando o céu claro ao seu redor e os traços de Ikaris contorcidos em ira ao apertá-la mais fortemente contra seu corpo trêmulo. Ikaris pairava no céu acima de Roma, uma Aurora ainda chocada em seus braços.

━ Como você sabia que eu estava aqui? ━ foi tudo o que ela perguntou, calma.

Aurora visualizou a cidade desmoronar em caos abaixo de si, e com um suspiro desviou o olhar com o coração na mão, ainda conseguindo escutar os gritos estridentes e desesperados das pobres almas no solo.

A dor física finalmente começou a rasgar-lhe o peito e olhando para baixo, encontrou um enorme corte na barriga que tampou com as mãos em uma tentativa de escondê-lo de Ikaris. Infelizmente o movimento repentino não lhe passou despercebido, e o homem de cabelos escuros apertou mais a cintura de Aurora, logo voltando a voar em direção ao céu cristalino.

━ Vamos lá, Aurora. Nós vivemos juntos há séculos, é claro que eu sei o que você gosta de fazer nas férias.

Era verdade. A ligação de Ikaris e Aurora sempre foi potente, um dos primeiros vínculos a serem formados naquele primeiro instante em que os Eternos abriram os olhos no Domo.

Aurora gostava de pensar em Ikaris como um irmão. Uma figura masculina que sempre esteve ao seu lado, aconselhando-a, seguindo-a para todo o canto com a promessa de jamais deixá-la se ferir sob seus cuidados fraternos. Ikaris era a promessa de que no final do dia, Aurora sempre teria alguém para abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem. A mesma promessa que Druig não fora capaz de cumprir, mesmo que tenha tentado.

Dito e feito. Após milênios de existência a dupla de Eternos permanecia junta, sempre apoiando um ao outro, mesmo em seus erros e fracassos. Aurora fora aquela a estar lá para dizer que Ikaris estava errado em sua decisão de deixar Sersi, a mulher que jurou amar e proteger mais do que jurou a ela, sozinha. E Aurora continuou lá mesmo ao vê-lo ignorar seu conselho e insistir em abandonar sua alma-gêmea, apenas para segui-la ao redor do mundo contendo nada além das migalhas que sobraram do recente amor fraturado.

Ikaris e Aurora viajaram o mundo juntos, visitaram templos e nadaram em águas desconhecidas, apenas para verem os humanos clamarem as terras como suas e usufruirem do terreno sadio para travar guerras e derramar sangue. Eles observaram a raça humana se destruir e estavam lá, juntos, para ver a Terra se reerguer e depois de eras de sofrimento se transformar em uma sociedade.

Seu olhar foi tornando-se distante e antes que percebesse, Aurora fechava os olhos com exaustão, o sangue esvaindo-se e encharcando-lhe as mãos trêmulas com o fluído escarlate que conforme escorria tornava-se dourado.