Capítulo Um

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Tique, taque

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Tique, taque.
Tique, taque.
Era tudo que eu ouvia na sala do meu consultório, enquanto esperava a boa vontade do meu paciente em se abrir para mim.
Sou psicóloga, não tem muito tempo que me formei, amava minha profissão, mas em momentos como este eu me perguntava porque não havia escolhido ser professora, ou quem sabe veterinária. Uma sala cheia de crianças com certeza não seria monótono, ou banhos em cachorros peludinhos quem sabe. Mas não, eu tinha que escolher justo psicologia, e agora estava eu, a pouco mais de 10 minutos olhando para a cara de um adolescente rebelde, que sequer conseguia se encaixar na nova escola. Maravilha!
–Vamos lá Yago, fale comigo. –Início, pois já havia dado tempo demais para esse garoto. —Como se sente em relação a sua nova escola?
Esse era nosso segundo contato, e infelizmente o primeiro não foi tão bom quanto este. Mas, seguia tentando, em algum momento ele teria que se abrir, nem que fosse um pouco, para que eu conseguisse chegar a raiz de seus problemas, de toda a agressividade em casa e as notas ruins na escola.
Encaro seu rosto jovem, cabelos cacheados caindo sobre a testa, ele revira os olhos e eu aguardo que ele responda minha pergunta. Vamos lá garoto!
—Olha, eu não quero conversar, tá? Isso é muito papo furado e enrolação, não vai adiantar de nada. —responde finalmente, parecendo irritado.
—Certo. Mas, já que estamos aqui, e passaremos no mínimo mais 30 minutos, por que não jogamos um pouco—Tento persuadi-lo.
—Tá. —Ele diz, parecendo refletir sobre minha proposta. Ótimo, ponto para mim!
Passamos os próximos 30 minutos jogando, um joguinho de perguntas e respostas, e ele finalmente se abre como eu imaginei que aconteceria, conta que gosta de uma garota e que estava frustrado por ser o aluno novo na escola, e por todas as pessoas o zoarem. 
Ouço tudo que ele me fala do início ao fim, fazendo algumas perguntas vez ou outra, sobre como ele se sente em relação às notas baixas na escola, como está a relação com os pais, entre outras coisas e antes que eu perceba, nosso tempo se encerra. Felizmente, ele parece bem mais tranquilo e eu comemoro mentalmente, pois para mim foi apenas a primeira vitória em minha curta carreira na psicologia.
Me despeço de Yago com um sorriso no rosto, ele promete voltar logo, e só essa simples constatação já me deixa mais tranquila, sabendo que cumpri com meu trabalho.
Fecho a porta do meu consultório, e deito-me no divã, tentando relaxar um pouco, não teria mais nenhuma consulta pelo resto da manhã.
Penso em tudo que passei para chegar onde estou hoje, anos de sono perdido, dedicação ao máximo, mas eu poderia dizer que sem dúvidas era formada na profissão dos meus sonhos, ainda que em alguns momentos parecesse a escolha errada, não era, sempre foi o que eu queria, e me faz sentir que estou no caminho certo. Ainda tinha uma longa jornada pela frente, sem dúvidas, mas eu chegaria onde almejava.
Atualmente trabalhando em um consultório, me sentia grata pela oportunidade, mas meu sonho sempre seria ter meu próprio consultório.
O toque do meu celular me desperta de meu devaneio, levanto-me e vou até minha bolsa onde o celular toca insistentemente, faço uma nota mental para me lembrar de sempre colocá-lo no silencioso, para não acontecer nada disso no meio de uma consulta.
Alcanço o celular no fundo da bolsa, e vejo através do identificador de chamadas que é minha mãe, levo o celular ao ouvido, com um sorriso se espalhando por minha face.
_Oi, mãe. Bom dia. -Cumprimento animadamente.
_Olá, querida. pode vir almoçar em casa hoje? Tenho novidades...Ah, você vai adorar! -Diz ela, cantarolando do outro lado.
_Claro mãe, inclusive vou pra aí agora mesmo. Já acabei tudo que tinha para resolver por aqui essa manhã, mais tarde posso voltar para outras consultas agendadas. -Explico, colocando minha agenda na bolsa e pegando a chave da sala na mesa. - Em alguns minutos estou ai.
_Maravilha. Até mais meu amor. -desligo a chamada, tranco a porta de minha sala e me dirijo ao elevador.
Antes de sair do consultório, aviso a secretaria sobre minha ausência durante a parte da manhã, Celina estava a par de toda a minha agenda e sempre que surgia um paciente de última hora ela me ligava.
Me encaminho logo depois ao estacionamento, estava curiosa sobre o que mamãe tinha para me contar. Destravo meu carro e repentinamente sinto uma dor forte na nuca, que me desorienta, apoio-me na porta do carro e tento manter a tranquilidade, mas a dor parece que racha meu cérebro de um lado ao outro, fecho os olhos e então, assim como surgiu repentinamente, a dor desaparece. Fico confusa, sem entender o que acabara de acontecer, talvez seja fome, ou sono por ter acordado tão cedo.
Abro a porta e entro em meu carro, piso no acelerador e dirijo até a casa da mamãe, com a dor que acabara de me atingir já esquecida, um sorriso brota em meus lábios, com a expectativa do almoço que teríamos juntas.

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⏰ Last updated: Jan 10, 2022 ⏰

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Quando Manda O CoraçãoWhere stories live. Discover now