Capítulo XXIII

Comincia dall'inizio
                                    

— Maldita — grunhi empurrando os papéis sobre a mesa.

Me levantei em um único movimento acabando por derrubar a mesa de centro e tudo o que ainda restava nela. A empurrei mais uma vez para que saísse de meu caminho e segui até o armário de bebidas, apenas a nicotina não seria suficiente para controlar minha atenção e cólera.

Ela havia retornado sem deixar qualquer sinal.

Sem escolher abri a primeira garrafa que encontrei e virei um grande gole, aquilo deveria arder meu interior, no entanto o tempo de grande consumo quase não gera mais cócegas, ainda assim por pouco é uma escapatória.

Não apenas me deixou sozinho no escuro.

Apertei a garrafa em minha mão como desejava apertar o pescoço da vadia manipuladora que ocupou minha mente e perturbava até mesmo minhas noites. Apenas uma grande quantidade de álcool para apagá-la.

Segui para o sofá onde Duque estava deitado me observando com as orelhas e olhos baixos, talvez fosse deprimente para ele encarar minha decadência ácida e violenta.

Mais um grande gole.

Joguei algumas das coisas que estavam sobre o sofá no chão e me lancei no móvel sem me importar se quebraria aquela merda ou não, talvez apagasse as memórias daquela sala de uma vez por todas.

Busquei por acender mais um cigarro em uma ilusão de escapatória, fumaça direcionada para meus pulmões e bebida para meu fígado, não havia problema em fodê-lo tanto quanto eu já estava.

Ela me enlouqueceu em uma manipulação.

Toda e qualquer lembrança dela gerava socos mentais de ódio em meu estômago, apagava até mesmo o gosto forte da mistura de álcool e cigarro, mais fumaça do que líquido, ainda precisava de minha consciência por alguns momentos.

Um leve cheiro de queimado tomou minha atenção, as cinzas de meu cigarro abateram um único papel que ainda estava sobre o sofá. Poderia apenas jogá-lo na pilha que estava no chão, porém a caligrafia conhecida me obrigou a prestar atenção, era um relatório de Dean.

O relatório do interrogatório de Heinz Ruschel, o agente alemão da Mullet que teve sua língua arrancada, me obrigou a trancar a fumaça em minha boca por instantes. Havia peças que Dean também havia conseguido, contudo não foi interrompido como eu.

Aparentemente reconhecimento pessoal, Heinz aparentou demonstrar surpresa e desespero remetido a um passado de poder ou submissão a algum trauma.

Possível exacerbação ou ameaça contra a agente resultado na mutilação da língua, último meio de comunicação do interrogado retirado como ato de poder e desespero.

Pode haver algo além de um passado singelo ou vitorioso, postura ou identidade de Lowell, portanto observarei minuciosamente ações em campo.

Mais questões e cartas atiradas na mesa.

Ela estava entre nós, estava nos míseros detalhes das sombras de Roxie, ainda que tentasse apagar sua presença e sua história com máscara e sangue, ainda que isso pudesse custar sua vida.

Ainda que eu estivesse perto de matá-la sem remorso e sem saber.

— Isso não favorece você, espero que saiba disso. — Pressionei mais a arma contra seu peito.

Pude escutar sua respiração pesar minimamente e em seguida percebi seu olhar vacilar pelos segundos necessários para que meu corpo congelasse por completo ao sentir um arrepio na espinha, então toda razão se fez presente para escutar seu pronunciamento amigável.

Ardente Perdição - Duologia Volúpia - Livro II Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora