— Fala, Diego. Desculpa a demora.

Felipo chegou me cumprimentando com um tapa nas minhas costas e me tirando dos meus devaneios.

— Como se isso fosse uma novidade.

Ele se acomodou ao meu lado, pedindo uma cerveja também.

O clima estava agradável e a companhia era ótima. Costumava me divertir com Felipo.

Mas para estragar completamente o clima, a pessoa mais desagradável que eu conhecia, adentrou o estabelecimento com uma mulher ao seu lado.

Era uma mulher muito bonita, alta, loira, com curvas exuberantes. O braço de Fragoso estava passado por sobre seu ombro em uma atitude de posse enquanto eles caminhavam em direção à mesa mais próxima que havia de mim.

Eu sabia que ele tinha uma esposa, e não era aquela. Uma das vantagens de se morar no interior, todo mundo sabia da vida de todo mundo. Fosse por fuxico na internet, ou boca a boca da população. E os pais de Fragoso moraram naquele lugar por um bom tempo, mesmo nunca recebendo visitas do filho e nora, os elogiavam para todos.

— Estava bom demais para permanecer assim — resmunguei enquanto virava para o outro lado, ficando de frente para o bar.

— Não deixe Fragoso estragar o clima.

Felipo disse ao se virar para o bar também bater com a caneca no balcão, fazendo alguns respingos voarem.

— Ele já faz isso sem eu permitir.

E foi só falar no diabo, que lá estava ele me chamando. Revirei os olhos assim que ouvi meu nome sair com a voz já embargada pelo álcool.

— E ae, Martins. Qual a boa de hoje? Conseguiu vender algumas cabeças de gado e veio comemorar?

Essa era a sua maior graça. Dizer que eu trabalhava na roça, e não ganhava tanto quanto ele, trabalhando na cidade, dentro de um ar- condicionado.

Mas ele provavelmente não tinha ideia dos meus lucros, ou repensaria o que falava. Era só olhar a diferença entre nossos carros, enquanto eu usava uma Hilux do ano, ele tinha um Corolla de 2018. Mas como falei, não gostava de me gabar. Apesar de apreciar muito a minha condição financeira.

Respirei fundo, tentando não respondê-lo de um jeito mal- educado, até porque, eu tinha muita educação.

— Os meus eu consigo vender. Agora na sua propriedade é difícil sair alguma coisa, não é?

Virei-me para ele, apoiando um cotovelo no balcão atrás de mim e levando o copo à boca.

O homem fechou a cara na mesma hora. Ele já havia levado alguns socos meus, quando encontrei alguns animais em condições precárias nas suas terras, e era por esses animais que eu ainda ficava sempre de olho no local.

— Você anda espionando novamente as minhas terras? — Ele se levantou, fazendo com que a cadeira atrás de si arrastasse, causando um rangido com o atrito do chão.

— Claro que não, só estou dizendo.

Coloquei meu copo delicadamente sobre o mármore. Fragoso era um cara que se irritava muito rápido pelas coisas, e quando estava com álcool no sangue, essa rapidez triplicava.

Era muito engraçado como as pessoas se esqueciam das coisas e se achavam fortes quando bebiam. E só isso foi necessário para que ele imaginasse que ganharia uma luta no braço comigo.

Enquanto se aproximava mais, coloquei-me de pé, pronto para me defender.

Antes mesmo de segurar a gola da minha camisa, um soco de direita acertou o queixo de Fragoso. Eu não deveria ter partido para a agressão tão rápido, mas não ia deixar um filho da puta como aquele encostar as mãos em mim, achando que poderia me machucar.

O homem caiu sobre a mesa em que a mulher loira estava, fazendo com que ela desse um pulinho na cadeira e levasse a mão com as unhas pintadas à boca, cobrindo-a.

— Meu bem, você está bem? — ela falou com uma voz aguda.

O homem apenas afastou sua mão com um pouco mais de brutalidade do que seria prudente. Mas a mulher ainda se manteve ao seu lado, preocupada.

— Di, você sabe que não vale a pena — Felipo falou no meu ouvido quando se colocou à minha frente.

Eu sabia disso, e não estava muito disposto a brigar muito mais do que isso. O filho da mãe já havia estragado minha noite. Mas só mais uma coisa passava pela minha cabeça.

Antes de sair do lugar, segurei-o pela gola da camisa com uma das mãos, como havia tentado fazer comigo minutos atrás e dei mais um soco em seu queixo, vendo sua cabeça tombar para trás enquanto o sangue começava a escorrer.

— Esse é para aprender a respeitar a esposa que você tem.

Lancei um olhar para a mulher, na intenção de que compreendesse onde estava se metendo.

Soltei Otávio que rolou para o lado, tentando se manter em pé. Passei as mãos pela camisa que usava e comecei a andar em direção à porta.

— Minha mulher e meu filho não te dizem respeito. Eu faço o que quiser. A vida é minha, até a deles é minha. Eu poderia leiloá-los se bem entendesse.

Dessa vez nem mesmo olhei para trás.

Eu só podia rezar e sentir muito por aquelas duas pessoas.

O Cowboy, a Viúva e o BebêWhere stories live. Discover now