Inadequado || Noany

Capítulo 2

O infortúnio não seria resolvido facilmente, ao que parece o cavalheiro do banheiro era um convidado de prestígio. Prestígio da falta de decoro, prestígio da inadequação. 

—Eu não estou exagerando, aquele homem ultrapassou os limites.–a cena que fazia estava começando a atrair atenção.

—Any, eu sei que não quer ouvir isso, mas se você fizer muito caso do assunto, vão achar que vocês cometeram algum ato libidinoso.–Shivani, com sua paciência e leveza, alertou enquanto baixava o tom na última palavra. 

—Shiv está certa. Essa cena com o libertino asqueroso pode acabar com sua reputação.–Nour balançou a cabeça e as levou para longe dos ouvidos das matronas.—Sabe que a nossa reputação é frágil. 

Respirando fundo para evitar jogar a maldita limonada naquele homem terrível, Gabrielly se recompôs e forçou um sorriso social. Esse sorriso era uma das máscaras mais bem avaliadas pela sociedade, todos possuíam um, até em seus piores momentos ele estaria lá. 

—Eu não vou perdoar, porém, é prudente da minha parte fingir que esqueci.–finalizou o assunto e saiu de perto das amigas, precisava se entreter com outro assunto e dar uma olhada em Mélanie. 

Tudo parecia um vale encantado para sua irmã e ela adorava isso, a garota trajava um vestido branco com detalhes em vermelho para simbolizar a família e dançava alegremente com um garoto que não aparentava ser muito mais velho que ela. Não gostava que nobres velhos demais partissem para cima dela, era apenas uma garota que acabara de completar 18 anos, aqueles senhores de 60 anos não deveriam estar sendo cogitados para uma dama, mesmo que estivessem buscando por herdeiros. 

Balançando a cabeça ao lembrar de experiências desagradáveis, ela voltou a completar o resto da sua tabelinha de danças. Teve outra dança adorável com May e um momento engraçado com um rapaz chamado Lamar, ele estava nervoso pois iria pedir a pretendente em casamento no passeio perto do lago e devido a sua lealdade à dama, evitava olhar as garotas nos olhos. 

A noite estava perfeita, iria para casa em alguns minutos e assim, poderia esquecer a situação de mais cedo. E assim ocorreu, sua mãe carregava seu pai levemente alterado pois havia bebido bastante vinho e hidromel com os patriarcas das famílias, sua irmã valsava e cantarolava as músicas do baile e ela estava aliviada por estar a mais um dia sem cometer nenhum ato de decoro que fosse descoberto. 

Sua última falta de decoro havia sido há alguns meses, se não fosse pelo convincente álibi de de Shivani Paliwal, provavelmente estaria casada neste exato momento com Krystian Wang, um influente homem que resolveu passar uma temporada em Londres. Krystian era lindo, cobiçado pelas matronas, tinha os lábios rosados, um sorriso galante e os olhos hipnotizantes, além disso, conseguiu o mais difícil: roubar um beijo dela dentro da biblioteca particular de seu pai. Havia um interesse mútuo, mas ela não sabia que iria tão longe assim e se ela acabasse tendo um bebê? Felizmente isso não ocorreu, porém, o quase casamento sim. Sua mãe começou a buscá-la, porque era mal educado para uma dama se esconder dos convidados e não ser uma boa anfitriã. Nour, que não é nada boba, havia combinado um código de batidas, três seguidas eram um sinal de problema máximo. E Shivani havia aparecido correndo de forma discreta, para avisá-la da busca de Priscila. 

Não que Krystian não fosse ser um bom marido, porém, seu coração não havia uma chama por ele, não batismo descompassado e muito deixaria a família para ir para um lugar extremamente longe. O rapaz morava na antiga colônia chamada atualmente de Estados Unidos e ela nunca se casaria com um homem que a levasse para outro país, muito menos para uma colônia, era um desrespeito com uma dama. 

Por fim, seus maiores aprendizados desse dia foram que o beijo é perigoso justamente pelo poder que ele tem no seu corpo e também que as damas não geram bebês através da boca.