O menino que colecionava sonhos

5K 100 21
                                    

O menino que colecionava sonhos

O menino que colecionava Sonhos

Darlan Hayek Soares

1ª edição 2011

2

Na sua cidade... Bem aí, na sua Rua... Mora um menino ,que enquanto você dorme, coleciona sonhos. 1 Antony acordou cedo e foi logo pegando seu pequeno caderno, o qual mantinha sempre escondido embaixo de seu colchão. Começou a folheá-lo a procura das tarefas do dia. Tarefas que ele mesmo costumava escrever. Não havia uma seqüencia muito lógica, datas ou nada daquelas coisas chatas que os adultos perdem tanto tempo fazendo. Suas tarefas eram divertidas, e ninguém precisava obrigá-lo a fazer nenhuma delas. Ele mesmo as escrevia, e, ele mesmo as realizava, mesmo que isso levasse algum tempo. O importante para ele era não desistir de realizá-las. O tempo estava chuvoso naquela manhã e dificilmente ele conseguiria sair de casa. As pontas de seus dedos estavam encolhidas, tamanho o frio da madrugada. Seu cobertor há muito precisava ser trocado. Estava cheio de buracos e parecia esfarelar-se à medida que o menino se mexia durante a noite. Mas Antony 3

achava gostoso enrolar-se nele antes de deitar-se, e sempre agradecia a Deus por ter um cobertor para dormir, porque segundo havia visto na TV, muitas crianças dormiam na rua, e, por isso ele deveria estar sempre feliz com o pouco que tinha. S ua aparência era um pouco diferente da aparência dos outros meninos de oito anos. Ao contrário de seus amigos, era franzino e pequeno, não aparentando ter mais do que seis anos. Seus olhos eram bem pretos como duas grandes jabuticabas, os cabelos pretos e lisos formavam uma espécie de franja impossível de ser desfeita. Por mais que o menino tentasse empurrá-la para trás com as mãos não adiantava, bastavam dois passos para que a franja voltasse a cobrir-lhe os olhos. Antony era filho único, como a maioria dos meninos que conhecia. Sua mãe Sophia trabalhava em um bar do outro lado da cidade, e, a maioria das vezes chegava embriagada em casa. Eram raros os dias em que Antony podia conversar com ela. Uma vez por semana, geralmente na segunda-feira, talvez pelo fato de não trabalhar nos domingos e não ter como embriagar-se, Sophia levava o filho ao mercado, onde juntos escolhiam

4

tudo

o

que

julgassem

necessário,

para

que

não

passassem fome durante a semana. As segundas-feiras eram os dias mais felizes para Antony. Não porque ia ao mercado com a mãe, mas pelo fato de vê-la sorrir, assim como sorria alguns anos antes quando ainda não precisava trabalhar naquele bar. As conversas eram agradáveis. Sophia queria saber tudo a respeito da semana do filho. O que fizera para o almoço, como tinha se saído na escola, e muitas outras coisas, que Antony guardava a sete chaves durante a semana para poder contar à mãe. Fazia questão de comportar-se como um verdadeiro homenzinho, para que a mãe pudesse ter orgulho dele. Nos outros dias a vida era completamente diferente. Sophia ia para o bar por volta das seis da tarde, e, só voltava na tarde seguinte, quando Antony já estava arrumado,pronto para ir à escola. O menino era obrigado a esconder-se para que a mãe não o visse e o beijasse com aquele cheiro insuportável de álcool e o deixasse com o mesmo cheiro. Era triste, mas necessário. Escondido atrás da cortina da sala, Antony via a mãe cambalear pela cozinha derrubando tudo o que via pela

5

frente, até conseguir chegar ao quarto onde jogava-se na cama sem nem mesmo tirar os sapatos. Foi em uma daquelas segundas-feiras que Antony descobriu sua maior paixão. Depois de irem ao mercado, Sophia o levou a um lugar “incrível”, como ele mesmo costumava dizer. À livraria da cidade! Foi amor a primeira vista. Pilhas e mais pilhas de livros, ali, a sua espera, um mais lindo que o outro, com um cheiro inigualável de papel novo. Era tudo o que Antony sonhara. Como a mãe jamais contava-lhe estórias, poderia descobri-las sozinho e fazer sua imaginação voar. Naquele dia Sophia permitiu que o filho ficasse durante um longo tempo folheando quantos livros conseguisse. Antony queria levar todos eles para casa, mas era impossível. O presente da mãe parecia resumir-se ao passeio, e nada mais. O dinheiro era pouco, e Antony apaixonado, teve que sair da livraria sem um livro sequer nas mãos. Tudo o que ouviu da mãe quando expressou sua vontade de ler um livro foi: - Não posso meu filho, mas, quem sabe um dia você realize seu sonho! - E o que eu devo fazer para realizar meus sonhos, mamãe? 6

O menino que colecionava sonhosTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang