Capítulo 2

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    Lá estávamos nós: Pôr do sol,no meio da estrada,as tranças voando enquanto eu soltava gritinhos sempre que ela acelerava um pouco. Parecia um pedaço de filme,eu podia até ouvir o "I just ride" na trilha sonora. Eu ri imaginando a cena.
     Eu senti falta dessa sensação. De, pelomenos por alguns minutos,me sentir... viva.
     - A gente tá quase chegando,Clara,segura firme aí.
     E ela foi,sorrindo para a estrada a frente, não passando de um borrão entre a paisagem.
                                       🌙
     Chegamos a um lugar chamado "Stylus", um bar barra boate bem duvidoso... Lu parecia à vontade, provavelmente frequentava esse tipo de lugar.
     Já haviam bêbados em alguns cantos(não passava das 19:00) e, por uma brecha na cortina à esquerda, vi que tinha um lugar com dançarinas...seminuas. Voltei minha atenção para minha amiga, que já estava conversando com a mulher no balcão.
     - Acho que vou me sentar enquanto te espero, tem algum problema?
     - Não, é até melhor. Já vou em um minuto.
     As mesas eram de madeira, parecia muito com o que se imagina de uma taverna, mas um pouco mais moderno, obviamente. Tudo parecia ser de madeira: o balcão, o chão, as paredes, o teto. Era muito bonito, sendo bem sincera.
     Enquanto eu babava nas guitarras decorando uma parede, Lu trouxe duas garrafas de cerveja e dois copos. Estavam congelando, e fiquei feliz por não ter o desprazer de beber cerveja quente.
     - Então... - começou ela, enquanto enchia nossos copos - você tem falado com seus pais?
     Meus pais... Tinha algumas semanas que eu não ligava, estava tão ocupada tentando me destrair do que aconteceu comigo e com Pedro que nem me dei o trabalho de peguntar como estavam...
     - Pra falar a verdade, não. E já tem um bom tempo... Eu devia ligar?
     Peguei o copo e, quase como um ritual, eu beberiquei a espuma antes de, de fato,beber a cerveja. Lu sempre debochou dessa mania.
     - Bom,acho que sim. Não sei, sempre é tão estranho lidar com eles...- os ombros dela pareciam tensos - Desculpa a insensibilidade mas,seus pais são insuportáveis. - E ela virou o copo de uma só vez.
     - Ah... Eu ja nem sei mais o que fazer com eles. Tem como deserdar o pais?
     Nós duas rimos e eu enchi os copos mais um pouco,alegando que não fui para falar dos meus pais e puxando assunto sobre as mudanças novas do visual dela: Cabelos vinho, um piercing novo na sobrancelha e a tatuagem no peito que estava bem à mostra por causa da camiseta decotada.
     Uma garrafa e meia e quase 2 horas depois,as duas estavam meio altinhas e com um senso de limites bem distorcido quando 3 caras e uma moça puxaram assunto. O primeiro era moreno com olhos castanhos, alto, magrelo e tinha o cabelo azul curto e cacheado. Usava uma jaqueta marrom de couro e calça jeans. O segundo era mais baixo porém bem forte, os músculos me chamaram bastante atenção e foi um novo desafio continuar olhando pros olhos dele, bolotas azuis indecifráveis. Os cabelos eram rentes a cabeça e tinham um tom cobre,combinando com a calça vermelha, a camiseta cinza de banda e o colete preto, parecidissimo com o de Lu. O corpo era cheio de tatuagens e a minha favorita foi a cobra que enroscava do antebraço até o dorso da mão esquerda,um contraste enorme com a pele pálida.
     A moça, preta e com tranças brancas até a cintura, era deslumbrante. Ela tinha olhos verdes hipnotizantes, a certeza de que era questão de tempo até que você se apaixonasse por ela. Quase tão alta quanto o primeiro e com o corpo bem definido, perfeito para as mangas rasgadas da regata e a calça preta, também rasgada. Segurando as mãos dela, estava o terceiro homem, devia ter seus 1,90, parecia um muro,um muro bronzeado belíssimo,tenho que admitir. Tinha cabelos loiros até a altura do peito,lisos e MUITO brilhantes - tão bem cuidados que senti um pouco de inveja. Ele usava uma calça preta também, outra blusa de banda e uma jaqueta jeans escura.
     Eu não me lembro quase nada da conversa, mas sei que depois de um bom tempo, trocamos números de telefone e Lu e eu fomos ao balcão,  perguntar se havia alguma pousada por perto.
     Sei que tomei um banho, mas acabei colocando as mesmas roupas, então apaguei na cama e só acordei com alguém falando alto o bastante para que minha cabeça doesse.
     - Eu quase colocando minhas tripas para fora, e você não mexeu um músculo pra me ajudar. Sua vaca. - Me remexendo na cama, encarei a poltrona onde Lu estava esparramada, com o braço em cima dos olhos.
     - Eu teria morrido sufocada no meu próprio vômito e ainda assim não mexeria um músculo. A gente estrapolou ontem a noite, achei que não fosse nem levantar da cadeira.
     Uma risada seguida de gemidos de dor,e ao tentar zombar dela, tudo girou e disparei com a súbita vontade de esvaziar o estômago ali mesmo. Consegui chegar ao banheiro e pude ouvir as risadas cortadas da outra vaca, a qual eu ousava chamar de melhor amiga.

Poxa,Clarinha!Onde histórias criam vida. Descubra agora