Por isso, ao invés de me deitar ao lado dela, pego o que preciso no armário de roupas, e saio do quarto. Não tenho a mínima vontade de dormir agora, e também não quero que Laura desperte. Seria apenas mais um motivo para continuar a encenação.

Desabo em meu sofá, segurando um copo de whisky; meu mais novo companheiro de todas as horas. E fico imaginando que porra eu vou fazer da minha vida. Estou procurando um motivo para dizer a Laura que não quero continuar essa relação. E depois encontrar um jeito de dizer a Julia que gostaria de dormir com ela de novo. E repetir algumas vezes mais, se possível. Isso soa tão absurdo quanto parece. Como eu disse, é insano.

Mas e se essa coisa, esse sentimento for algo passageiro? E se, ao terminar com Laura, eu perceba que foi um erro? Afinal de contas, eu não posso tomar uma decisão como essa apenas pensando com meu pau. Preciso pensar no meu futuro. Julia é linda, mas é instável. Meu pai nunca a aceitaria. Laura por outro lado é segura, estável e me ama. Não posso terminar um relacionamento de anos assim do nada, sinto que devo alguma satisfação a Laura; ela espera coisas de mim. Promessas que eu mesmo fiz.

Esses pensamentos, essas indagações, isso tudo é uma merda.

Olho para minha mão esquerda, que segura essa pequena caixinha azul. Se Laura realmente tivesse aparecido na noite do meu aniversario, estaríamos noivos agora, e nos casaríamos no próximo ano? Possivelmente. Infelizmente - ou felizmente, não sei bem - as coisas não aconteceram assim. Quanto pode mudar em apenas um par de dias? A resposta é: muito. Tudo.

Será que Ron tem razão ao dizer que eu não a amo? E que todo esse tempo eu estive enganando a nós dois? Tenho pensando muito nisso desde nossa conversa. Por outro lado, e se isso for apenas meu inconsciente buscando mais uma desculpa para estar com Julia? Seis anos é muito tempo para se estar com alguém sem amor.

Eu não posso terminar com Laura. Não agora. Antes eu preciso entender esse emaranhado de sensações que tem me sufocado. Julia e eu prometemos não voltar a falar sobre aquela noite, mas cada vez que a vejo quero mandar essa promessa para o inferno.

Julia me confunde. Há momentos em que tenho a impressão que ela está pronta para me atacar, e jogar verdades na minha cara. Mas então, ela recua. E aquele olhar de fúria é substituído por sua compaixão nata. Julia é boa. Isso está na sua essência. Ela não é egoísta, ela dá tudo de si em favor dos outros. Mesmo se esse outro for um babaca como eu.

Eu não posso destruí-la. Sinto que isso aconteceria se eu me aproximasse mais dela. Eu senti uma fração disso, e não poderia me perdoar se eu a machucasse.

Julia é frágil. Eu preciso de você. Sua frase nunca deixa minha mente. Ela não aguentaria outra decepção. Julia está tentando mostrar a todos que ela não é mais aquela menina fraca, e que pode lutar sua própria batalha sozinha. Mas, eu não acredito nela. Não duvido que ela seja capaz de coisas grandiosas, só acho que ela não está pronta ainda. Eu gostaria de ajudá-la. Como eu poderia? Estou mais fodido que todos juntos.

O copo cai sobre a mesa de vidro com um baque. Sentado e com cabeça entre as mãos tento me lembrar quando foi que me tornei esse cara que reclama? Onde meus caminhos se inverteram, e como me deixei tornar essa pessoa desagradável? Quem sou eu para decidir se quero Julia ou Laura? Elas é que deveriam ter o poder de escolher viver longe de mim.

Droga.

Minha cabeça está girando com tantos pensamentos, até que meus olhos finalmente começam a ceder ao peso do sono. Deixo-me entrar no mundo dos sonhos e dos pesadelos. O único mundo onde sou alguém bom. Onde sou alguém.

***

Acordo cedo, não passa muito das 6h da manhã. Meus ombros e costas estão rígidos graças à falta de conforto do sofá. Levanto-me, esticando o corpo para me livrar da sensação estranha, como se eu tivesse saído da academia e não de uma -quase- inteira noite de sono.

Impossível Resistir - Serie Paradise City - Livro 2Where stories live. Discover now