Meu sofá vermelho

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Eu posso contar nos dedos os momentos em que passei contigo naquele sofá vermelho, momentos tão genuínos. As vezes em que você aparecia sem aviso prévio batendo no portão cinza enferrujado da minha casa, e eu abria aquele portão fingindo que não te conhecia e que não estava feliz por te ver outra vez, são memórias que apenas uma doença progressiva conseguiria arrancar de mim.

Quantas foram as vezes em que eu te ofereci um copo de água gelada? Ou o sorvete de procedência duvidosa guardado há semanas no fundo do congelador.
Eu circulava pelos cômodos afastados enquanto te observava conversar com minha irmã sentadas no sofá vermelho.

Alguns dias fizeram aquele sofá se tornar um campo minado, onde eu secretamente te fitava com meu jeito de flertar bobo de sempre, tentando não te assustar ou parecer alguém obcecado pelo seu boné cor-de-rosa.

O boné cor-de-rosa! Embora eu tentasse evitar, era impossível não reparar no quão atraente você ficava usando ele, parecia amaldiçoado.

Lembro-me da vez em que você concordou em assistir o filme que eu te indicara tantas vezes, aquele que você subjugou ser ruim, mas que não conseguiu parar de assistir quando coloquei na televisão. Passamos aquela tarde juntas, assistindo um filme o qual eu já sabia de cor todas falas, foi um dia bom, embora eu só quisesse te abraçar debaixo daqueles cobertores, ainda era um dia bom.

As risadas e piadas internas sempre estiveram presentes, você gostava da minha avó e da forma como ela resolvia tudo do jeito mais sincero possível, um sorriso se abria todas as vezes em que ela encontrava você em casa, minha avó te adorava.

E mesmo com a calorosa recepção que minha avó te proporcionava, você sempre se questionou o porque minha mãe não agia da mesma maneira, bom, essa dúvida já foi esclarecida.

Sempre que eu recebia uma mensagem sua dizendo que estava a caminho de casa, meu sorriso se formava de ponta a ponta esperando te ver para cessar essa ansiedade.

A última vez em que te vi sentada naquele sofá vermelho, eu estava do seu lado, segurando sua mão enquanto seu corpo tremia em meio uma crise de ansiedade, segurei sua mão como se te segurasse da beira de um precipício, eu não podia te tirar daquela situação, mas queria que ela se tornasse o menos desconfortável possível. Se passaram talvez 30 ou 40 minutos do seu lado, o silêncio que reinava sob aquele sofá fazia sua respiração ecoar por todo o ambiente, eu apenas pensava qual seria a melhor maneira de te ajudar, e eu te ajudei, eu estive do seu lado segurando sua mão rezando para que você ficasse melhor, porque eu te amo, e você sabe disso.

Aquela noite foi a última noite em que te vi sentada em meu sofá vermelho, foi uma noite talvez perturbadora pra você, mas que ainda guardo na memória junto ao gosto do seu beijo.

E mesmo que essas memórias não retornem, mesmo que você não volte a sentar comigo naquele velho sofá vermelho, fico feliz em saber que voltaremos a nos encontrar em outros lugares, pois qualquer lugar, seja ele qual for, é um sofá vermelho com você.

Meu sofá vermelho Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα