Capítulo Único

16 3 0
                                    

Todos já ouviram falar sobre a lenda do fio vermelho que nos liga ao nosso verdadeiro amor. Vivemos em uma discreta e constante busca sobre quem está no final do nosso fio, mesmo que inconscientemente, nós o fazemos. Quanto mais longo e esticado o fio, mais sofrimento e decepções sofremos ao tentar nos relacionar com outras pessoas. Uma brincadeira do destino e que a maioria de nós se nega a aceitar que não é só uma lenda.

Eu vejo os fios. Eu percebo as dores alheias através da extensão de seus fios. E, talvez por isso, eu seja tão frustrado com tudo. Entenda, eu já morei em três países diferentes procurando a outra ponta do meu fio e meus pais ainda dizem que eu tenho um dom, contudo, penso ser mais um castigo, pois mesmo podendo ver os fios, eu não encontro o meu verdadeiro amor. Possivelmente, não sou capaz de mensurar minha decepção com o fato de parecer mais perdido do que cego em tiroteio, por simplesmente não ser capaz de encontrar o próprio amor destinado.

A ironia habita justamente no ato de que eu apenas mantenho minha fé no amor predestinado por ver as linhas vermelhas interligando as pessoas e as consequências que a separação trás.

Graças ao meu trabalho como modelo, a busca pela outra ponta do fio é facilitada, afinal, viajar o mundo não é um problema, bem como mudar de país. É o meu quarto país, desta vez acabei parando na Coreia do Sul, na movimentada Seul. Por conta de um trabalho mais demorado que faria, resolvi comprar um apartamento duplex na cidade.

O local não é luxuoso, apesar de bem localizado e espaçoso, escolhi móveis simples e uma decoração acolhedora, coisas que me lembrassem Los Angeles, minha terra natal. Dois quartos, sendo um deles a suíte master, com uma varanda grande o suficiente para algumas plantas maiores. Uma sala mediana em conceito aberto com a sala de jantar e a cozinha, estas no andar de baixo do apartamento. Os quartos ficam no andar superior.

Tentei deixar tudo organizado de forma que eu me sentisse em casa, em um lar, ainda que não soubesse quanto tempo exatamente viveria por ali. Tudo dependeria de achar ou não alguma dica sobre quem possa ser minha pessoa destinada, minha alma gêmea, ou qualquer outro nome que deem para isso.

Cansado da mudança no dia anterior, e por ainda ter parte das coisas da cozinha empacotadas, resolvi procurar por uma cafeteria nas proximidades para meu desjejum. Não precisei andar muito, apenas duas quadras, para encontrar uma pequena cafeteria com uma decoração acolhedora, mesmo que simples.

Um rapaz alto me atendeu, Kim Yugyeom era o que dizia no crachá, assim que escolhi uma mesa. Pedi um cappuccino e uma torta de frango, vendo o rapaz anotar e se dirigir até o balcão para preparar meu pedido. Seu fio estava grosso, firme, sem qualquer sinal de desgaste, o que indica que está tudo certo com sua relação com sua pessoa predestinada. Sua aparência feliz reforça isso e eu não pude evitar sentir um pouco de inveja. Logo um rapaz entrou na cafeteria, chamando a atenção de outro atendente — que só me dei conta de sua presença naquele instante, seus olhos negros e felinos contrastando com o cabelo acobreado —, que sorriu largo ao notar o jovem de cabelos negros ali.

O outro atendente, também, parecia ter um bom relacionamento com sua alma gêmea, porém o rapaz recém chegado me chamou a atenção. O olhar cansado e o fio parcialmente desgastado, o qual eu segui com o olhar de modo discreto, vendo-o chegar até o mim. Não pude conter a alegria e a surpresa, o nosso fio era um tanto fino, eu podia ver a bifurcação ali. Não fazia ideia de como me aproximar dele ou de quem estaria na outra ponta da bifurcação, porém fui tirado de meus pensamentos quando Yugyeom trouxe meu pedido.

— Park Jinyoung, é o nome dele, se quer saber. — O mais alto sussurrou para mim. — E você é novo por aqui, não é?

Acabei sorrindo sem graça por ter sido pego observando, sentindo minhas bochechas se tornarem quentes.

A lenda dos trêsWhere stories live. Discover now