Capítulo 1

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Nunca gostei de andar de avião. Afinal, há alguma maneira de gostar de fazer isso? Náuseas, enjoos, desconforto no ouvido devido à alteração da pressão, potencialização das minhas crises de rinite, ressecamento dos olhos e da pele, jet lag nos voos mais longos... Isso só para citar alguns exemplos.

E olhe que nem considerei o famigerado medo de avião que muita gente tem — a exemplo de mim mesma.

Porém, não era como se eu pudesse fazer algo a respeito disso. Mesmo não gostando nada de todos os desconfortos citados, eu me via obrigada a todo mês estar fazendo alguma viagem de avião por conta do meu trabalho. Isso quando não era quase toda semana.

Às vezes, eram apenas viagens mais curtas, dentro do nosso próprio país. Porém, na grande maioria dos casos, o que eu mais fazia eram viagens internacionais, que me permitiam conhecer os céus de diferentes lugares do mundo — de Londres a Paris, de Tóquio a Itália, de Hong Kong até o Brasil... Nos mais variados destinos possíveis e imagináveis eu já fui por conta do meu trabalho.

De fato, ironicamente, apesar de não gostar, eu podia dizer que vivia nas nuvens. Milhas? Nem sei se eu poderia mensurar quantas eu já havia percorrido até então.

Mas não pense que eu era uma comissária de bordo, piloto de avião ou coisa do tipo. Muito menos alguma megaempresária ou uma mulher de negócios multimilionária e que era por esse motivo que eu necessitava viajar tanto. Na verdade, eu era apenas a secretária pessoal de quem realmente era o megaempresário e homem de negócios multimilionário. Leonardo Aires era o seu nome. Sr. Aires era o meu chefe.

Eu era secretária de, simplesmente, um dos homens mais ricos e influentes do nosso país. O Sr. Aires era herdeiro e CEO de um dos maiores impérios do ramo de cosméticos do mundo, e por isso, vivia precisando fazer muitas viagens ao redor do globo para resolver problemas das filiais da Paradise Cosmetics em cada canto do planeta. E, durante tantas viagens, quem estava sempre presente ao seu lado — cuidando desde a revisão dos documentos mais importantes até a escolha do sabor do suco que ele iria tomar em seu café da manhã no dia seguinte — era a sua secretária pessoal, Marília Amorim, mais conhecida como euzinha aqui mesma.

Para conseguir esse tipo de emprego, já pode imaginar que não foi nada fácil para mim. Foram muitos anos de trabalho e dedicação à Paradise, desde muito nova quando comecei como uma simples estagiária, para finalmente chegar aonde cheguei. Claro que quando me formei em Administração eu sonhava em algo bem maior para a minha vida do que me tornar secretária — e, em boa parte das vezes, também babá — do grande Sr. Leonardo Aires. Mas eu não podia negar que, apesar do grande número de viagens, e da enorme carga de trabalho e responsabilidades, o meu salário era maravilhoso e muito mais que suficiente para manter a minha vida e a de minha família em um patamar bastante confortável.

E, além de tudo, havia ele...

Eu não era cega. Ou burra. Boa parte das mulheres sonhavam em roubar o meu emprego e tenho certeza de que elas pouco se importariam com o número de viagens, com a grande carga de trabalho ou responsabilidades que o cargo demandava. Na verdade, o que acontecia mesmo era que elas se admiravam por eu nunca ter tentado nada, mesmo estando sempre tão próxima dele e, em muitas vezes, tendo toda a sua vida em minhas mãos, sendo que era exatamente isso o que a maioria delas mais cobiçavam.

Bom, o que eu quero dizer é que muitas mulheres adorariam o meu emprego apenas por conta do próprio chefe. Claro que o fato de ser milionário e um dos empresários mais influentes do mundo o fazia ser muito cobiçado pelas mulheres — no caso das interesseiras, obviamente. Mas como se isso não fosse o suficiente para atrair tanta atenção feminina, ele ainda tinha que ser absurdamente lindo. Um dos homens mais lindos que eu já vi em toda a minha vida, com toda certeza.

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