#29 - Cantando o Vórtex

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- Todos colhemos o que plantamos. Esses caras não vão se safar assim. - Pai.

- Isso não tá certo. Eu vou pegar o que é meu de direito. - disse o jovem saindo de casa.

Os pais entenderam sua frustração e o deixaram ir. Já era noite e o rapaz andava sem rumo algum pela cidade. Indo para um ponto mais distante do centro, ele se senta em um banco de uma praça olhando as montanhas e planícies que rodeavam o lugar. Ele estava muito pensativo. Algumas horas se passaram... até que um vento soprou mais forte e com ele veio um trecho de uma canção, supostamente vinda de uma garota. O jovem se surpreendeu e olhou para o horizonte. Do nada a vontade de seguir caminhando em frente o dominou e logo estava distante da cidade, ao meio dos arbustos e capins de um campo, onde a luz lunar já era predominante.

Virando e olhando para trás ele viu o quão grande e luminosa era a cidade de Munarek. Logo em seguida suspirou e continuou a seguir os ventos. A ventania sussurradora trazia consigo ventos moderadamente frios, rápidos e suaves ao mesmo tempo. A sensação era viciante, como relatavam alguns aventureiros, nos quais fracassaram em encontrar a origem dos ventos musicais.

O jovem rapaz seguia imparável guiado pelos ventos, era como se estivesse hipnotizado e não conseguisse mais voltar, ou melhor, não quisesse por escolha própria. Depois de horas, que pareciam mais minutos, ele percebe que um novo dia já estava começando. Assustado pela forma como o tempo voou, ele dá a volta e retorna para Munarek, pois era dia de trabalho. No entanto, os ventos sopraram mais forte em sua direção e ele se virou já sabendo de onde vinham. Uma planície, um pouco mais elevada, onde havia uma árvore, era lá que supostamente os ventos vinham, e também era lá onde alguém estava sentado na grama. Os ventos trouxeram vozes mais definidas e à medida que ele avançava uma canção se montava em sua mente. Cada vento carregava um instante da canção, e por haver tanta incidência de ventos o ouvinte ficava confuso, mas dessa vez não, porque a música fragmentada agora soava como uma bela canção viciante de se ouvir. O sol nascia iluminando as gramas do campo. O rapaz se aproximava da árvore e a canção se intensificava. Parando de andar, ele avista uma bela moça de costas. Ela cantava tão tranquila e suave, os ventos tinham uma sincronia perfeita. A harmonia era incrível. De onde estava, dava pra observar toda a planície, as árvores que as limitavam, mais a frente as montanhas. A ventania parecia ir e vir no mesmo instante de onde se podia olhar. A moça se levanta e os ventos começam a circular fortemente diante dela. Seu longo vestido branco e de tecido leve estremecia. Seus longos cabelos cinzas voavam. Sua pele era muito clara. A ventania estava muito forte e o jovem tentava se equilibrar, porém tinha dificuldades em ver o que estava acontecendo. O sentido do vento mudava conforme a música. Todo o lugar estava sob efeito de um redemoinho de vento. A jovem estendia uma nota que diminuía sua intensidade ao longo do tempo, e proporcionalmente os ventos também diminuíam sua intensidade. Os ventos pararam. O jovem agora podia olhar bem a moça. Os cabelos dela haviam voltado ao normal lentamente, e diferente do que se podia imaginar, não estavam bagunçados. Ela estava descalça pisando na grama, cujo estado era de grande maciez. O jovem se aproximava dela. A jovem moça suspira e inclina um pouco a cabeça. O rapaz apenas continuava a andar lentamente até que ele decide parar. Ocorre um silêncio. A moça então decide falar.

- Bom dia... - disse virando-se e revelando seu rosto, mostrando um sorriso refreado e fechando levemente seus olhos.

- Olá. - disse o rapaz de forma séria, tentando esconder sua reação de surpresa pelo que acabara de ver.

Os olhos dela eram largos e suas pupilas surpreendentemente também eram, mas de forma moderada. Seus olhos transmitiam alegria e simpatia. A cor deles era tão prata quanto seus cabelos. O brilho deles era notável e seu reflexo demonstrava o ambiente mais do que se podia captar em um olho humano normal. Era um efeito óptico estranho à primeira vista, mas hipnotizante de se olhar.

Contos de Zagylmizd - VOLUME 01Where stories live. Discover now