Capítulo XXI

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Ou melhor, qual mentira contaria agora?

— Sua conversa com Lowell acabou — afirmou, entregando-me a arma.

— Cinco meses — sussurrei a única coisa coerente que conseguia — Cinco meses, Rosalie — repeti mais alto, era como uma pedra rasgando minha garganta.

A arma estava entre nós dois, apontada e pressionada contra sua barriga, estava destravada, tudo dependeria de lucidez ou loucura. Não era uma má ideia fincar uma bala em seu corpo, e não seria distante de nossa realidade retirar quem entrasse em nosso caminho.

Qualquer sinal de traição.

Uma corrente elétrica percorreu meu braço, seu toque frio não tentou afastar a arma, pelo contrário, com os olhos presos aos meus, arrastou-a até o lado esquerdo de seu peito. Na direção de seu coração, como se não tivéssemos mais nada a perder.

Era o que parecia, o abismo que se formou em minha mente era meu cerne, enquanto seu olhar e expressão vazia enunciaram que também não perderia nada, algo que uma vez me causou um aperto no peito de medo, agora causava raiva.

Uma ilusão criada por ela.

Claro que não desejava morrer, seu desejo por ganhar a guerra era maior que qualquer outro e estava aliado a sua manipulação implícita em pequenos atos, ao menos aos olhos de outros.

— Você mentiu. — Eram as malditas palavras em minha cabeça. — Você mentiu para mim, manipulou as informações e me manipulou, foi contra sua palavra — enumerei para seu vazio. — Eu confiei em você e acha que isso vai resolver?

Travei a arma e a joguei no chão sem me importar se causaria algum defeito, exatamente como aquela mulher fez com todos, chutei o objeto contra alguma parte do quarto e em um impulso me apoiei na cômoda atrás de Rosalie, a encurralando.

— Atirar seria pouco para tudo isso e fácil demais para nós dois. — Ela assentiu minimamente. — Eu confiei que estávamos juntos e você apenas prezou sua opinião, como se apenas você estivesse jogando — rosnei próximo ao seu rosto, invadindo o espaço que lhe dava tanto poder e a fazia imbatível. — Poderia destroçá-la como a qualquer um que entrou em meu caminho.

Não havia nenhum sinal de raiva ou arrependimento em seu rosto, não se importava com nada e eu duvidava que em algum momento o fizesse, o que era como lenha para a fogueira de ódio e repulsa dentro de mim.

Como poderia ser tão fria ao ponto de não se arrepender por ir contra sua palavra? Essa era sua verdadeira natureza, tão desprezível ao ponto de ignorar o que todos sentiram e fizeram, desde que sua parte estivesse intacta.

A pior e mais traiçoeiras das serpentes. Pude conhecer homens e mulheres podres ao infectarem-se com ego e poder, pérfidos e asquerosos, ainda assim, nenhum chegou a me obrigar a lutar contra um turbilhão de pensamentos e seus impulsos.

— Todos ficaram perdidos, todos estavam atrás de você, esperando um mínimo passo para poder nos organizarmos para Oliver e sem lhe comprometer — ditei e a cada palavra percebia o quão patéticas minhas ações foram. — E você estava desfilando entre nós com seu querido marido russo, brincando com tudo e todos, como a merda de uma vadia controladora e ignorante.

Eu desejava aplicar todas as torturas e golpes que usei em pessoas para alcançar uma mínima informação sobre seu paradeiro ou abrir caminho na guerra entre os Sparks, porém parecia pouco.

Uma maldita chama estava acesa e consumia tudo, sentimentos e razão, era o resultado de uma faísca de traição e manipulação, ainda assim não poderia estar mais racional em meses.

Ardente Perdição - Duologia Volúpia - Livro II Onde histórias criam vida. Descubra agora