Nascer do sol - mitsukou

Unico

Já era tarde, a calada da noite, e eu estava lá, deitado em minha cama, segurando uma câmera e apreciando as fotos que nela estavam gravadas.
Aquela câmera não era minha, era dele.
Ele havia a esquecido comigo. Não sabia se foi proposital. Mitsuba, seu nome, estava escrito na alça da câmera.
Ele havia "esquecido" comigo depois daquele dia.
Um belo dia de fotografias, em que eu havia dito-o para fotografar coisas que eram importantes pra ele. E aparentemente, eu sou uma dessas coisas. Em uma das fotos eu era o foco principal.
Já fazia uma semana que aquele dia tinha terminado, e também já fazia uma semana que ele havia desaparecido. Mitsuba fazia isso algumas vezes, desaparecia e depois voltava, fingia que nada tinha acontecido. As vezes voltava com pequenos hematomas, as vezes não. Mas isso não fazia com que eu não me preocupasse. Eu ainda ficava bem preocupado quando ele fazia esse tipo de coisa, mas eu nunca tinha coragem de perguntar o que havia acontecido.
No dia seguinte eu iria mais cedo para escola, esperar por Mitsuba em uma das salas do antigo prédio, como eu sempre fazia. Talvez eu encontrasse ele lá, talvez não, mas de qualquer modo, eu iria acreditar com todas as minhas forças que ele estaria lá, me esperando com seus olhos cor-de-rosa.
Então, depois de olhar as fotos mais uma vez, guardei a câmera em uma das gavetas e tentei dormir, e depois de algum tempo cai no sono.
Acordei no dia seguinte com cansado, pois não havia dormido o tempo suficiente, mas mesmo assim levantei da cama, troquei do roupa, tomei café e fui pra escola.
O caminho inteiro, da minha casa até a sala do antigo prédio, fui com os dedos cruzados, pedindo para ele estar lá, me esperando.
Agora só faltava abrir a porta e entrar na sala. Tomei coragem e entrei, e lá estava ele, sentado em cima de uma das mesas.
A luz do nascer do sol refletia nele. Uma mistura de rosa, laranja e amarelo. Seus olhos brilhavam em um tom de rosa alaranjado, e seu cabelo estava do jeito de sempre, jogado em seu rosto, cobrindo uma parte de um dos olhos. Ele observava o belo nascer do sol.
-- Mitsuba...
-- Vai pedir desculpas por ter demorado pra chegar? - ele diz sem olhar pra mim.
Decidido a lhe perguntar o que havia acontecido, o segurei pelos ombros para que ele olhasse diretamente nos meus olhos.
-- Mitsuba... Por que você some do nada e as vezes aparece machucado?? Por que você nunca me fala nada? Por que?
-- Ah eu... e-eu não posso te falar
-- Por que? Você não confia em mim? - eu disse.
-- Porque se eu te contar você vai parar de falar comigo - ele diz em forma de sussurro, a beira das lagrimas.
-- Eu nunca irei parar de falar com você, não importa o que aconteça, afinal eu sou seu melhor amigo! - eu segurei as mãos dele enquanto olhava dentro dos seus olhos.
-- Porque você ficaria comigo? Um esquisito que se corta? - Mitsuba fala de forma ríspida, enquanto mostra seus pulsos, cheios de cicatrizes.
-- Porque... porque eu gosto de vc! E não ligo pra isso! Pra mim você não é esquisito! E se você falasse mais comigo, poderíamos resolver isso juntos! Sabe porque? Por que eu te amo Mitsuba! Eu te amo!

Ele me olha espantado, como se nunca tivessem dito isso a ele.

-- Você ta falando serio? - ele diz olhando pro chão

-- Sim!

-- Eu t-também!
Eu o abracei, e ele abraçou de volta.
--Promete parar de desaparecer? Eu vou sempre estar aqui pra te ajudar, e quanto aos cortes, vou te apoiar a abandonar isso.
-- Prometo tentar, por você.
Nós sentamos em uma das mesas e um silencio confortável se instalou entre nós, ele estava deitado no meu ombro, e eu mexia em seu cabelo.
Assim, dez minutos antes de começar a aula, eu me encontrava vendo o nascer do sol com a pessoa que eu amava.

Fim