Capítulo 2

517 27 1
                                    

Eu instantaneamente me senti exposta. Meus músculos 

retesaram como se esperassem levar um tiro a qualquer momento. 

Pego a cadeira de Paige e a empurro para fora do prédio. Revisto o céu, depois tudo em nossa volta, somos como um bom coelhinho correndo de predadores.  

As sombras estão rapidamente escurecendo os prédios abandonados, carros e o matagal moribundo que não tinha sido aguado em seis semanas. Algum grafiteiro tinha pichado em um muro um anjo raivoso com asas enormes e uma espada na parede do condomínio do outro lado da rua. A gigante rachadura que rasga a parede em ziguezagues atravessa o rosto do anjo, fazendo-o parecer louco. Abaixo disso, um poeta amador tinha rabiscado as palavras: Quem irá nos defender contra os guardiões? 

Eu me encolhi sob a algazarra barulhenta que o carrinho da minha mãe fazia enquanto ela o empurra através da porta para a calçada. Nós caminhamos encima de estilhaços de vidro, o que me convence ainda mais de que estivemos escondidas em nosso 

  

10  

apartamento por mais tempo do que deveríamos. As janelas do primeiro andar tinham sido quebradas. 

E alguém tinha pregado uma pluma na porta. 

Não acredito por um segundo que isso seja a pena de um anjo de verdade, embora esteja claro o que está implícito. Nenhuma das novas gangues são tão fortes ou endinheiradas. Não ainda, de qualquer modo. A pena tinha sido mergulhada em tinta vermelha que escorria madeira abaixo. Pelo menos, espero que seja tinta. Eu tinha visto este símbolo de gangue em supermercados e drogarias nas últimas poucas semanas, avisando catadores. Que pena deles por não estarmos lá. Por enquanto, eles ainda estão ocupados clamando por territórios antes que gangues competitivas os peguem antes.  

Nós arrancamos para o carro mais próximo, esquivando-nos para cobertura.  

Não preciso checar atrás de mim para ter certeza de que mamãe está me seguindo porque a barulheira das rodas do carrinho me dizem que ela está se movendo. Dou uma olhada rápida para cima, depois em cada direção. Não há movimentos nas sombras.  

A esperança vacila através de mim pela primeira vez desde quando bolei nosso plano. Talvez hoje à noite seja uma daquelas noites em que nada acontece nas ruas. Sem gangues, sem restos de animais mastigados para serem encontrados pela manhã, sem gritos que ecoam pela noite.  

  

11  

Minha confiança se constrói enquanto saltamos de um carro para outro, nos movendo mais rápido do que esperava.  

Nós viramos em direção a El Camino Real, uma artéria principal do Vale do Silício. Significa — O Caminho Real —, segundo meu professor de espanhol. O nome combina, considerando que nossa realeza local — os descobridores de corporações como Google, Apple, Yahoo e Facebook — provavelmente se acharam encurralados nesta estrada como todos os outros.  

As interseções estão congestionadas de carros abandonados. Nunca tinha visto em engarrafamento no vale antes de seis semanas atrás. Os motoristas aqui eram sempre tão educados quanto poderiam ser. Mas o fato que realmente me convencia de que o apocalipse está aqui são os estilhaços de smartphones sob meus pés. Nada que encurta o fim do mundo levaria nossa eco-consciência tecnológica a jogar seus aparelhos mais recentes pela rua. É praticamente um sacrilégio, mesmo se os aparelhos sejam apenas peso morto agora.  

Eu tinha considerado ficar nas ruas menores, mas as gangues são mais prováveis de se esconderem onde estejam menos expostos. Mesmo sendo noite, se tentarmos eles em sua própria rua, eles podem estar dispostos a arriscar se expor por uma carroça cheia de pilhagem. Àquela distância, é improvável que eles sejam capazes de ver que são apenas garrafas vazias e trapos.  

AngelFallOnde histórias criam vida. Descubra agora