CAPÍTULO 2 - Onde Nós Estamos.

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Berkshire, Inglaterra - 06/02/2017

O pequeno apartamento em um conjunto habitacional parecia o lugar perfeito para começar uma nova vida.
  O jovem casal recebera olhares tortos e comentários, no mínimo, desagradáveis quando anunciaram que iriam casar poucos meses antes de completarem 20 anos, porém para eles, a pouca idade não significava nada.
  A cerimônia pequena no cartório local contara apenas com a presença das testemunhas, um pastor, os pais da Savannah e a avó de Harry, que parecia esplendidamente feliz com a celebração do matrimônio de seu único neto.

  Com poucos móveis e um orçamento limitado que contava com a mesada recebida das famílias, eles sentiam que o amor poderia suprir todas as necessidades. Após pouco mais de um ano de namoro, o casal havia tomado a decisão de unir-se eternamente, perante Deus e os homens, porque sabiam que já pertenciam um outro desde a primeira vez que seus olhares se cruzaram. Tudo se encaixava perfeitamente como peças de um quebra-cabeças, seus gostos, histórias e até mesmo personalidades eram iguais. Nada poderia ser melhor que aquilo. Reis sacrificaram seus tronos para ter o vislumbre de um amor genuíno como aquele.

  Os primeiros meses de casados contavam com passeios em bosques da região, visitas a lugares históricos e passeios durante a madrugada para a loja de doces mais próxima.
  Harry era o homem mais feliz do mundo.

Seu sorriso crescia e seus olhos brilhavam sempre que via a amada. Ele a carregava no colo enquanto andavam pelas ruas da cidade - sob os protestos da mesma que gargalhava, embora temesse a vergonha, caso algum desconhecido visse a cena.

  Seus abraços, toques, beijos; tudo era especial.

  Na metade do primeiro ano, ambos ingressaram na faculdade mais próxima. Savannah conseguiu um emprego de meio período em uma mercearia, enquanto Harry dava suporte ao seu amigo, Liam, que iniciava a criação de uma aplicativo para celulares que, segundo ele, superaria qualquer outro.

 

  Todas as noites, Harry Styles esperava sua esposa sair do trabalho. Ao vê-lo, um sorriso se acendia em seu rosto como uma luz na escuridão. Ela corria, pulando em seus braços enquanto recebia carícias nos cabelos.
De mãos dadas, caminhavam sem pressa em direção ao terminal mais próximo, onde esperavam o último ônibus passar.

  Tardes de sábado deitados na cama, abraços, enquanto liam seu livro favorito e brincavam com o andamento do enredo eram seu passatempo favorito.
  Noites de domingo regadas a vinho e músicas antigas, cozinhando espaguete e dançando entre as pausas para verificar o forno eram os melhores momentos da semana para ambos.

[...]

  Assim como um dia de verão que é coberto por uma tempestade sem aviso prévio, dias antes do aniversário de 22 anos, Harry foi atingido por uma notícia que abalou suas estruturas da forma mais intensa e cruel possível: um desmaio durante o banho e uma pancada fatal na cabeça, levara sua avó embora.

  Os únicos presentes no enterro foram ele e Savannah. Sua avó havia sido uma mulher guerreira que enfrentara a perda do filho único e da nora, tomando a responsabilidade de criar o neto ainda criança, e poucos anos depois ter de ver seu marido partir. Apesar de tudo, um número mínimo de pessoas se aproximaram ela, julgando seus baixos recursos financeiros e seu emprego pouco remunarado, os moradores optavam por se afastar.
  O preconceito privou aquelas pessoas de conhecerem quão incrível e inspiradora era a gentil senhora que morava na casinha velha, no fim da rua.
E nunca teriam outra chance de conhecer.

  Os dias se arrastavam, porém nada parecia fazer sentido. Aos poucos, Harry foi perdendo o prazer por tudo que mais gostava de fazer - e por todos. Sua rotina monótona o sufocava.
  De que adiantaria terminar a faculdade, conseguir um bom emprego e ser bem sucedido se a pessoa que mais o apoiara não estaria ali para ver?
  Essa ideia tomou conta do rapaz, que tornara cada vez mais frio e distante. E Savannah não demorou a perceber.

  Em uma noite nublada de inverno, Harry se encontrava sentado no sofá, o rapaz tinha o olhar fixo na TV que exibia um programa qualquer, embora não parecesse tão interessante. As luzes apagadas faziam com que apenas a luz do aparelho iluminasse o local.
  Savannah senta-se ao seu lado, colocando uma almofada sobre o colo na tentativa de aquecer as pernas. Harry não parecia notá-la.

Ele abaixa a cabeça, coçando a nuca, como se por algum motivo a presença da esposa o deixasse desconfortável.

-- Querido, você já jantou?

-- Sim. - Responde sem encará-la.

  Alguns minutos de silêncio. As gostas da chuva forte tamborilam contra a janela.

-- Você - ela pausa, medindo as palavras como se pisasse em ovos -- precisa conversar?

  Ele suspira pesado, como se estivesse prendendo o fôlego há muito tempo.

-- Não, Savannah. -- Finalmente ele a olha. -- Eu estou perfeitamente bem, não dá pra ver?

  Levantando-se rapidamente, ele joga o controle remoto sobre o sofá, deixando a sala e indo em direção ao quarto, no qual entra trancando a porta atrás de si.

  Savannah continua onde estava, tentando entender o que acabara de acontecer.

[...]

  Dias haviam se passado; tudo continuava igual.
Harry dormia antes de Savannah chegar do trabalho e também acordava antes dela, dificuldando o convivio, uma vez que apesar de morar sob o mesmo teto, os únicos dias em que se viam eram os finais de semana - que já não eram mais como antes.

  Quando ele não estava lendo um livro, estava olhando para fora da janela com os fones no ouvido ou apenas cortando o assunto sempre que a esposa tentava conversar. Era cansativo.

  Certa manhã, Savannah levantara da cama ao mesmo tempo que o marido, determinada a entender de uma vez por toda o que realmente estava acontecendo.

  Harry sai do banho e caminha em direção ao quarto, secando os cabelos úmidos com uma toalha enquanto procurava uma camisa para vestir, embora não tivesse nada especifico em mente.
  Savannah se aproxima, parando ao lado do mais alto e cruzando oa braços sobre o peito enquanto encarava-o, observando cada movimento que ele fazia por tempo suficiente para deixá-lo desconfortável.

-- O que você quer? -- Harry pergunta, ainda vasculhando o guarda-roupas.

-- Eu quero saber o que está havendo. Por que você não me conta nada, Harry?

-- Você sabe exatamente o que aconteceu. Eu não preciso falar. - Ele veste uma regata branca.

-- Eu sei que você perdeu alguém que amava. -- Seu tom de voz era baixo e amigável -- Mas você não deveria me trancar para fora quando eu só estou tentando ajudar e...

Antes que possa continuar, ela é interrompida.

- Esse é o seu problema! - Ele fecha a porta de uma vez, causando um barulho quase tão alto quanto sua voz. -- Você sempre acha que pode ajudar todo mundo. Por que você não tenta cuidar da sua própria vida, pelo menos uma vez?

  Cuspindo aquelas palavras de forma áspera e rude, ele deixa o local, fazendo com que apenas a garota imóvel e incrédula permanecesse no mesmo lugar.
  Ela ainda não havia processado o que acabara de acontecer. Aos poucos as lágrimas invadem seus olhos, evidênciando o quão partido estava seu coração.

Em anos de relacionamente ele nunca fora tão cruel quanto agora.

Ela não reconhecia mais aquele homem.

Nervos [ H.S ]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt