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ÀS PRIMEIRAS HORAS de uma bela manhã do mês de agosto, cantarolando satisfeito, Robin Hood seguia sozinho por um estreito caminho da floresta de Sherwood.

De repente, uma voz forte, cujas entoações dissonantes não deixavam dúvida quanto a virem de alguém com absoluta ignorância das regras musicais, pôs-se a repetir exatamente a mesma balada de amor que Robin cantava.

— Por Nossa Senhora! — murmurou o rapaz, prestando atenção nos sons que o outro estropiava. — É muito estranho. Eu mesmo compus essa canção quando era menino e nunca a ensinei a ninguém.

Intrigado, escondeu-se atrás do tronco de uma árvore, esperando que o viajante passasse.

E isso não demorou a acontecer. Já bem perto do carvalho junto ao qual Robin se sentara, o estranho parou e pareceu espreitar as profundezas do bosque.

— Oh, oh!... — exclamou satisfeito, percebendo através da folhagem um magnífico bando de cervos. — Meus velhos conhecidos... Vamos ver se ainda tenho boa mira e mão ligeira. Por são Paulo! Vou me dar o prazer de abater aquele grandalhão que se movimenta mais devagar.

Dizendo isso, pegou na aljava uma flecha, ajustou-a no arco, apontou para o animal e o acertou mortalmente.

— Bravo! — ouviu uma voz exclamar bem-humorada. — Ótima flechada.

Surpreendido, o desconhecido rapidamente se voltou.

— Acha mesmo, amigo? — perguntou, examinando Robin da cabeça aos pés.

— Com certeza. Tem muita habilidade.

— Isso é verdade — concordou, desdenhando o elogio.

— Principalmente sendo alguém que nem está tão acostumado assim a caçar cervos.

— Como sabe que não estou habituado a essa prática?

— Pela maneira de segurar o arco. Posso apostar que derruba um homem num campo de batalha mais facilmente do que a um homem na floresta.

— Bem observado — exclamou o outro com uma risada. — E posso saber o nome de quem, com uma simples olhada, é capaz de diferenciar as maneiras do soldado e do caçador, empunhando o arco?

— Como me chamo tem pouca importância, forasteiro. Mas posso dizer que sou um dos principais guardiões dessa floresta e não pretendo deixar meus cervos indefesos às flechadas de quem, só para testar a perícia, se diverte atirando neles.

— O que pretende deixar ou não me interessa muito pouco, meu caro guardião da floresta — retrucou o desconhecido, pesando bem as palavras. — Mas fico curioso de saber como vai impedir que eu atire minhas flechas onde bem entender. Derrubo gamos, corças e o que mais quiser.

— Se eu não me opuser a isso, não tenho dúvida, pois é excelente arqueiro — respondeu Robin. — Tanto assim que faço um convite, ouça: chefio um bando de homens decididos, inteligentes e muito habilidosos em todo tipo de prática relacionada à nossa atividade. O amigo parece ser corajoso. Se o coração for honesto e a índole tranquila e conciliadora, será um prazer chamá-lo para o meu grupo. Caso aceite, terá permissão para caçar; se recusar, só me resta pedir que deixe imediatamente a floresta.

— O sr. guardião fala num tom que, a bem dizer, acho arrogante. Pois então agora ouça, é a sua vez! Se não desaparecer logo da minha frente, vou lhe dar uma lição que, sem muito floreio, o fará pensar melhor no que diz. E essa lição, meu caro, é uma boa sessão de bastonadas, que posso facilmente aplicar.

— Acha mesmo que consegue? Sozinho? — ironizou Robin.

— Foi o que ouviu.

— Pois olhe, trate de não me irritar muito, ou vai se ver em apuros. Se não seguir muito rápido a ordem que dei de deixar a floresta, primeiro vai levar uma boa surra e depois vamos experimentar o seu pescoço e o peso do seu corpo num galho bem alto de alguma dessas árvores ao redor.

Robin Hood, o proscrito (1873)Where stories live. Discover now