Capítulo 2

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Christian era tão belo quanto eu o descrevera.

O seu cabelo loiro brilhava como fios de ouro. A região da nuca mais curta do que as mechas maiores acariciando suas orelhas. O rosto possuindo um contorno fino, mais delicado como se tivesse sido moldado na porcelana. A pele alva e lisa, os lábios finos contraídos. Os seus olhos verdes representavam um campo gramado, onde poderia me deitar e apreciar a vista do céu. Contudo, diante daquela calmaria, eu podia ver em suas íris como havia um homem forte e determinado. Exatamente como eu o criei.

A calça e a camisa azul escura era típica do uniforme militar da minha obra. Os botões prateados estavam enfileirados em duplas, começando de sua cintura e terminando no final do peitoral. Os músculos, resultados de anos de treinamento, delineados sobre o tecido grosso do fardamento. Ele pareceria um general se não fosse pelo longo manto dourado em seus ombros, digno de um membro da realeza.

Acho que passei tempo demais avaliando — babando — o príncipe, pois ele inclinou levemente a cabeça para o lado, encarando-me de uma maneira indecifrável.

— Espero não estar atrapalhando a sua limpeza, senhorita.

Praguejei-me mentalmente por ter corado como uma jovem apaixonada, não como uma adulta com seus vinte e oito anos de experiência/decepções. As palavras fugiram da minha boca por longos segundos e só consegui mover os lábios, antes de dizer:

— Desculpa, Chris-... Digo, alteza!

Eu não sabia que sonho estranho era aquele, mas não queria me arriscar cometendo o erro de chama-lo por seu nome. Se o que eu pensar estiver certo, esse seria um insulto muito grave em Velorum, apesar dele ter gostado quando seu nome saiu dos lábios de Alene.

O medo estava estampado em minha face.

Christian pareceu me avaliar com suavidade, ignorando o meu quase erro. Então, o seu olhar se ergueu para o salão vazio, como se confirmasse que ninguém estava vendo. Logo, o corpo do príncipe se abaixou o suficiente para sua voz gentil ecoar no espaço entre nós.

— Não se preocupe, eu não direi à ninguém. Esse será o nosso segredo.

O meu rosto tornou-se mais rosado, isso se fosse possível. Em resposta, apenas assenti e fiquei de pé com certa dificuldade, ainda sentindo uma terrível dor de cabeça. As minhas pernas fraquejaram e pensei que beijaria o chão, se uma mão aveludada por uma luva branca não segurasse o meu braço. Então, virei o rosto para o príncipe que se encontrava tão perto que seu hálito morno batia contra o meu rosto.

Um artista iria demorar muito para retratar toda a beleza desse homem.

Alene sortuda do caralho!

Ao lembrar de que não passo de uma secundária, rapidamente me afasto do toque do príncipe antes que ele pudesse fazê-lo. O semblante confuso do loiro é evidente, mas me limito a uma reverência e aproveito para pegar o balde perto dos meus pés.

— Desculpa pelo inconveniente, alteza.

Mesmo sem saber exatamente o que estava acontecendo, poderia pensar com mais calma depois. Infelizmente, não tive a oportunidade de ouvir qualquer resposta vinda do príncipe ou ao menos ter recebido um sorriso educado. O seu conselheiro apareceu em passos apressados e comentou:

— Aí está o senhor, alteza. Nós não podemos nos esquecer da sua reunião com o Bispo.

Christian se limitou a balançar a cabeça em concordância, olhando para mim de relance e sorrindo educadamente. Então, ele seguiu para fora do salão em passos calmos com as mãos apoiadas nas costas em uma postura inteiramente militar. O seu conselheiro lançou um olhar confuso em minha direção, como se ponderasse se a minha presença valeria a pena ser pontuada.

VelorumWhere stories live. Discover now