Lucas abriu um sorriso muito pequeno e contido, e Miguel se perguntou o que tinha de tão engraçado agora para ele achar graça em algo. Seria em sua falta de entendimento das coisas? Se fosse, não tinha achado muito divertido.

— É isso mesmo, o iluminador. Eu não tenho, é da Clara. Ela não trouxe hoje. Ela usa mais como sombra porque a cor é muito forte pra pele dela, ela teria de usar um iluminador menos escuro, algo mais perolado, então esse dourado que ela ganhou de presente vez ou outra fica sobrando nas coisas dela e ela traz pra mim, porque ela sabe que eu gosto, e... — Lucas parou, olhando para Miguel por um instante, e ele se perguntou o quão óbvio estaria o seu entendimento muito superficial do que o outro falava. Muito óbvio, reparou, quando Lucas interrompeu a fala de vez. — Desculpe. Isso tudo deve ser muito chato de ouvir.

Não diria ser chato, era apenas muito diferente. E conseguia imaginar serem as coisas nas quais Lucas conversava com Clara, e que ele devia estar se sentindo sozinho agora. Conhecia a sensação. Era horrível.

— Nah, eu consegui entender sim — ele respondeu, o que era apenas uma meia verdade. — Um pouco. Talvez.

Lucas riu. Nesse instante, o que quer que Clara e Pedro estavam vendo no celular acabou, e o garoto desceu da mesa, seguido por ela até chegarem nos outros dois. Internamente, Miguel ficou muito feliz por Clara estar ali. Não sabia o quanto mais conversa de maquiagem poderia sustentar sem ficar muito óbvio seu interesse medíocre no assunto.

— Não vi você chegar — Pedro comentou, estendendo a mão para um toque de mãos com Miguel. — E aí, beleza?

— Tô bem. Vocês também, pelo visto.

Um tom muito rosado subiu ao rosto de Clara, e ela ajeitou uma mecha do cabelo atrás da orelha. Então a garota estendeu o braço para Lucas, puxando-o gentilmente para ficar de pé.

— Me acompanha ali rapidinho? Preciso te perguntar uma coisa.

E seja lá o que ela queria perguntar, era provável que Miguel nunca fosse saber. Os dois deram os braços e saíram da sala em direção a algum lugar que fosse, deixando os dois garotos para trás.

Pedro tinha aquele olhar no rosto de quem tinha acabado de ver a Lua pela primeira vez, e por mais que Miguel quisesse estar simplesmente feliz por ele, conhecendo-se como conhecia, sabia que ia se cansar disso bem rápido. Ele desceu da mesa onde estava sentado, conferindo o relógio e vendo que o sinal estava prestes a soar para a primeira aula.

— A gente conversa depois — Miguel anunciou, quando sua previsão se tornou verdadeira e o sinal ecoou pela escola.

O garoto não sabia quando "depois" seria, embora desconfiasse do intervalo, o que de fato aconteceu. O quarteto passou o intervalo na sala, sendo acompanhados depois de alguns minutos por Arthur e Zé Dois também. Zé Bica, parecendo muito bolado por ter aparentemente perdido o posto no time, não queria conversar com ninguém. E depois desse momento, na aula de física, receberam a adorável notícia de que tinham um trabalho para fazer em grupos de até seis pessoas, e surpresa, Miguel se viu arrastado em um grupo com os outros cinco mais uma vez.

E assim, ali estavam eles, os seis mosqueteiros conversando nos últimos minutos da aula sobre o que fazer. Para a surpresa de Miguel — e apenas dele, pois o resto dos colegas já parecia saber isso muito bem — Pedro era um ás da física de dar inveja. Ele já apareceu com cinco ideias de temas diferentes, e qualquer um poderia ver seus olhos brilhando ao falar das possibilidades todas passando em sua cabeça.

Isso era surpresa. Não que não achasse que Pedro pudesse ser bom em física, mas ele não parecia o tipo a ter literal paixão pelo assunto. E a julgar pela forma como Clara olhava para ele enquanto ele listava coisas diferentes que poderiam montar no circuito elétrico deles, deu para ver o motivo dela ter caído tanto de amores pelo garoto.

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