― O que quer saber, então? ― Perguntou, indo com as costas um pouco para frente, apoiando agora seus dois braços em suas pernas, sem tirar os olhos de Bucky.

Precisou parar para pensar em alguma pergunta. Então, decidiu começar pelo básico.

― Quantos anos você tem, exatamente?

Annabelle deu risada quando ouviu.

― É, acho que você mais do que ninguém sabe que isso é importante. Tenho 33.

Bucky assentiu com a cabeça. Se ela fosse fazer aniversário naquele ano, eles teriam 72 anos de diferença. Era loucura pensar naquilo, ele poderia ser o bisavô dela. Quem sabe não conheceu o próprio.

― Vai fazer aniversário esse ano? ― Perguntou.

― Fiz em janeiro. ― Annabelle respondeu. ― Por quê? Vai me comprar um presente? ― Perguntou, deixando um sorriso sarcástico escapar.

― Um colete à prova de balas.

Sua intenção não era exatamente o humor, por isso foi surpreendido ao ver Annabelle rir um pouco mais alto do que o tom de voz que estavam usando até agora. Ela não chegou a ser barulhenta, mas definitivamente havia se sobressaído em meio ao costumeiro silêncio da madrugada, de uma forma que até mesmo o próprio Barnes acabou forçando um sorriso.

― Ótimo, acho que precisarei. ― Respondeu. ― E você, quantos anos mesmo?

― 106.

Annabelle assentiu, ainda com um sorrisinho no rosto. Ela era a primeira pessoa que não dava risada, achando que era apenas uma piada para não contar sua idade real. Claro, deve ter descoberto em algum momento na Hydra, ou fora dela, quem sabe.

― Como escapou da Hydra?

Observou o sorriso da moça fechar, mas não chegou a se arrepender disso, visto que sua curiosidade agora gritava pela resposta. O que Annabelle havia feito para conseguir?

― Bom, depois que seu amigo bonitão descobriu sobre a Hydra, os Vingadores foram atrás de outras bases que ainda estavam em funcionamento. Um belo dia, eles chegaram onde eu estava, e tudo virou um caos completo... Quem iria prestar atenção na agente que fugiu, não é? Então, juntei o útil ao agradável e...

Annabelle fez um estalo com a mão direita, simbolizando que havia fugido. Bucky pensou se ninguém havia visto ela fugir, principalmente um dos vingadores, mas provavelmente teriam impedido se fosse o caso. Porém, talvez alguém da Hydra tivesse reparado em algum momento, até porque a situação em que estavam era possivelmente por terem abandonado a organização.

― Mas isso não apaga as memórias, não é? ― A moça perguntou e, pela primeira vez, seu tom de voz se tornou melancólico.

Bucky assentiu com a cabeça. A memória do filho de Yori, implorando pela vida, continuava bem presente em sua cabeça, não importava o quanto tentasse fugir dela, sempre voltava, assim como dezenas de outros. Provavelmente Annabelle tinha seus próprios demônios para enfrentar.

― Nem um pouco... ― Respondeu, por fim.

Os dois se olharam. Pela primeira vez, nenhum dos dois encarava o outro com raiva ou sentimento similar. Naquele momento, o que parecia pairar no ar era unicamente a compreensão. E ambos sentiam-se mal por saberem que havia mais alguém vivendo aquilo, pois sabiam que nem mesmo o pior dos inimigos merecia aquela culpa.

Alguns segundos depois, Annabelle perguntou se ele estava melhor. Quando ouviu uma resposta positiva, avisou que iria voltar a dormir, pois o sono estava começando a dar sinal novamente. Deu uma rápida olhada no despertador e viu que eram quatro e vinte e três, o que justificava tudo.

Déjà Vu • Bucky BarnesWhere stories live. Discover now