No limiar da cibernética

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 Ligou a playlist de pop alternativo nas pequenas caixas de som altas nas paredes, ouvindo o ruído da abertura principal da moradia sendo trancada e passando a cantarolar sozinha ao conectar os fios com o computador avançado. Com as senhas de manutenção memorizadas, foi fácil conseguir completo acesso às gravações em sua plenitude, em uma hora estava realizando a transferência de dados para um hd externo.

 Notou que havia um apagamento referente aos eventos de uma semana a mais ou menos seis meses do dia atual, isso sim seria interessante de tentar recuperar e extrair, sem qualquer garantia de sucesso. Com os cabos fazendo seu trabalho em ritmo uniforme, iniciou a árdua parte referente a assistir horas e horas de experiências de terceiros em uma janela nova, passou a exibição para o segundo monitor e deu início.

 Acelerou pelas primeiras horas, indiferente quanto ao que referia à sua compra e transporte, retornando a uma velocidade normal quando o grupo de pessoas passou a se introduzir para sua nova assistente, um nome se destacava na visão artificial: Rina Takizaki. A cabeleira azul, íris âmbar e batom vermelho pareciam bem mais chamativos do que já eram, o que fez Karanomori pausar o vídeo para fazer anotações com sua caligrafia entusiasmada no tablet que removeu da gaveta utilizando a caneta propícia sincronizada.

 Após os membros da banda jogarem sugestões de nomes aleatórios para o ar, acabaram concordando em Yayoi Kunizuka, quem registrou imediatamente tanto este comando quanto como cada um preferia ser chamado, incluindo apelidos e nomes verdadeiros em seus perfis crescentes. A cientista registrou um pouco mais sobre a aparente proximidade da inteligência artificial com a mulher no decorrer dos dias, sinalizando sua suspeita que o fato de ter se tornado divergente pode ter afetado memórias de quando tinha o funcionamento correto.

 Encerrou a sessão do dia com os indícios de uma briga entre os participantes nos bastidores após o encerramento de um show, provavelmente a mesma balada sem licença para operar que os servidores públicos haviam a informado sobre. A robô estava parada no meio do corredor, em conflito por receber instruções diferentes de pessoas com mesma autoridade em sua programação, incerta em seguir a orientação de não entrar ou a de entregar garrafas com água.

 A luz se apagou automaticamente assim que os sensores perceberam sua ausência, restando apenas a cpu e telas na ativa, ao longe ela passava pelas áreas trazendo iluminação e decidindo qual seria o pijama que colocaria. Liberou os aspiradores de pó de ambos os andares para vasculharem o piso por qualquer resquício de poeira, encerrando as atividades assim que terminara de se organizar para dormir.

 Divagou até encontrar a inconsciência, considerando se deveria fazer pipoca no dia seguinte para continuar sua pequena espionagem, estava surpreendentemente investida. Não era todo dia que recebia divergentes, muito menos com tanta possibilidade de informação valiosa e vindo da agência de segurança pública, instituição que ela adorava reclamar de a fazer trabalhar demais para algo extra. Seu verdadeiro emprego era na construção de tecnologia, contudo se Sybil dizia que era necessário apoiar a polícia para isso, assim seria.

 Uma semana de investigação provou que a vida alheia poderia fornecer mais entretenimento que qualquer serviço de streaming, além de lembrar a loira da saudade que ela sentia da fofoca de escritório e de rir privadamente das gafes de seus colegas. Nada atual poderia exatamente substituir sua vontade de retornar a ter amizades fixas e sair nos finais de semana para bares como o que estava sempre ativo no estabelecimento das gravações.

 Os dois inspetores não eram má companhia, no entanto tinham suas próprias vidas e nunca podiam passar muito tempo no sofá papeando antes de voltar ao trabalho. Os executores também não eram nada mal, um jovem empolgado como Kagari parecia feliz em questionar o específico funcionamento de seu trabalho primário, o problema era que eles sofriam do mesmo problema de falta de tempo, precisando da supervisão de no mínimo um dos primeiros.

No limiar da cibernéticaWhere stories live. Discover now