—‌ Então você acha que trazê-lo nessa viagem com um monte de gente fora do mundinho que ele vive, vai magicamente resolver a vida triste que ele leva?—‌‌ Jimin suspirou e esfregou a testa com raiva. Ele sempre tinha essa forma ácida e defensiva que Taehyung odiava. Era como se quisesse que ele adivinhasse exatamente o que estava sentindo. —‌‌ No começo eu achei que era só uma brincadeira, um susto no garoto, mas agora... Você só está sendo egoísta.

Raiva ferveu nas veias de Taehyung, ele apertou a cerveja nas mãos e trincou o maxilar.

—‌ Porra, eu? Egoísta? Você só está agindo assim porque... —‌ Taehyung não completou, as palavras morrendo na garganta, já arrependido mesmo antes de pronunciá-las. Odiava brigar com o melhor amigo, e a situação não poderia ser pior. Amava Jimin mais do que amava qualquer outra coisa, não queria machucá-lo. Eles nunca estiveram em uma situação tão estranha como nos últimos dias, como se estivessem construindo uma barreira feia no meio deles.

—‌ Estou o quê? —‌ Jimin ergueu uma sobrancelha, e seus olhos não eram mais que um brilho triste coberto de raiva. —‌ Completa o que iria dizer.

—‌ Esquece.

—‌‌ Quer saber de uma coisa? Vai se foder. Cansei de você achar que eu sou o vilão sempre. Faz o que você quiser.

Namjoon uma vez comentou que o ciúmes de Jimin era porque ele havia deixado, há muito tempo, de levar o que tinham como apenas amizade. Taehyung não sabia o quanto disso era verdade, tinha medo de perguntar, ao mesmo tempo que não queria faltar com responsabilidade afetiva para com o amigo, mas as linhas estavam começando a ficar tênues e os limites ultrapassados.

Depois que pagou pelas compras, levando uma quantidade exagerada de salgadinhos e doces, parou perto do banheiro quando viu Namjoon conversando ao telefone, parecendo nervoso.

—‌‌ Algum problema? —‌‌ perguntou quando ele desligou assim que o viu.

—‌‌ Nenhum, estava resolvendo com um funcionário que ficou no meu lugar lá no posto —‌‌ explicou. —‌‌ E você? Parece bravo.

—‌‌ Jimin.

—‌‌ Dá um tempo pra ele. Ele só está se acostumando com a ideia de que não é a única prioridade na sua vida. —‌‌ Namjoon deu de ombros.

—‌‌ Jimin nunca foi ciumento.

— Se fosse em uma outra situação, Jeongguk seria o melhor amigo dele.

Taehyung riu, concordando.

Quando voltou para a camionete, Jeongguk estava acordado, encolhido abraçando o corpo das rajadas geladas de vento, com aquela expressão de menininho perdido que ainda tinha sono.

— Ei, bom dia, Bela Adormecida, pensei que teria que dar um beijo. —‌ Taehyung resolveu brincar quando se aproximou, mas a expressão no rosto de Jeongguk indicou que não era um bom momento para piadas como aquela. Ele estava com aquele olhar assustado e meio perdido, analisando tudo em volta como se a qualquer momento pudesse se arrepender e pedir para voltar. As palavras de Jimin apareceram na sua mente, causando um desconforto esquisito na boca do estômago, embora tivesse certeza de que foi a coisa certa a se fazer, não queria que tivesse alguma consequência na vida de Jeongguk.

— Eu não dormi a noite toda, estava tão ansioso com o retiro que acho que apaguei de exaustão, Tae — disse Jeongguk, a voz rouquinha de sono, coçando atrás da cabeça, o típico rubor abraçando suas bochechas. —‌‌ Onde estamos?

— Quase chegando.

—‌ Essa jaqueta é sua?

Ele apontou para o próprio corpo, com um sorrisinho envergonhado no canto dos lábios. Taehyung assentiu, admirando-o vestido com sua roupa, que ficava muito bem nele. Descobriu que era satisfatoriamente confortável vê-lo com algo seu, dava quase uma sensação de pertencimento.

A grama do vizinho nem sempre é mais verde (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora