Capítulo 2

2 1 0
                                    

Em um solavanco, Theo sentiu todo o seu tronco ser levantado depois que uma grande onda de adrenalina o atravessou.

- Vejam só quem foi que acordou... – uma voz grave conhecida sussurrou- Teve um pesadelo ruim?

Buscando com os olhos de onde ela vinha, Theo então encontrou a silhueta de Leon do outro lado do cômodo sentado em uma cadeira de madeira, banhado pela luz de um banheiro que havia as suas costas e apoiado com os cotovelos em uma mesinha redonda. Ele estava com uma pequena garrafa de Heineken por entre os dedos, a levando de tempos em tempos na direção da boca.

A distância entre eles não ultrapassava os três metros, já que o lugar era indiscutivelmente pequeno.

- Não precisa se preocupar. – Leon parecia quase que ler os seus sentimentos – Nós estamos em um quarto de hotel, à uns bons quilômetros de distância.

- Hotel? – disse Theo, ainda com a voz levemente abafada por não ter se acostumado com as presas.

De fato, parecia com um. Theo estava sentado em uma das duas camas de solteiro que havia no lugar, essa perto da possível porta de saída. Enquanto na outra, que ficava do lado de uma janela devidamente vedada pelas persianas, ele via o corpo delgado de Laura repousar em um sono profundo.

- Já estava amanhecendo, - Leon continuou – e ficamos com medo de você acabar se machucando por conta do sol. – Theo ouviu um riso debochado – Não que eu me preocupasse que algo acontecesse com você...

- E ela? – disse Theo, num sussurro – Como ela está? Eu me lembro de algumas coisas que aconteceram... do que eu fiz...

- Ela está bem, um pouco machucada, mas bem. – Theo sentiu o olhar repreensivo de Leon – Claro que quase tive que amarrar ela na cama para que pudesse descansar e se recuperar, mas no final ela entendeu.

- O que foi que eu fiz... – dizia mais para si – Eu não queria ter feito tudo aquilo. Eu via tudo acontecendo, mas nada... – ele praguejou.

- Por favor, tenta manter a calma tá? – Leon se ajeitou na cadeira, o corpo enorme torturando o pobre artefato de madeira.

Voltando a sua atenção para Laura, esta que ressonava levemente, Theo aos poucos foi lembrando do ocorrido no dia anterior: a morte do médico, a despedida com a madre, o incidente na igreja...

- O que será de mim a partir de agora? – ele voltou a encarar Leon.

- Eu não sei. – o lobo disse, com um expirar pesado – Durante o caminho até aqui, eu e Laura conversamos bastante, e ela me explicou mais ou menos o que aconteceu com você. Me parece que até mesmo ela desconhece sobre algumas coisas... – ele deu um gole na cerveja - Eu sei que você não tem culpa, e que muito menos é de seu desejo passar por isso mas, convenhamos, existe uma bomba relógio ticando em você, e pela experiencia que tive ela não veio pra brincadeira... – ele pausou – Você foi forte em conseguir lidar com isso sozinho, tenho que admitir. Mas...

- Eu sei que você não gosta de mim, não precisa disfarçar. – Theo soltou, o interrompendo – Eu até entendo...

- Você quer calar a boca e deixar eu terminar? – Leon o repreendeu, sem paciência – Eu sinto que de propósito você tenta afastar as pessoas, tentando se justificar e dar explicações. Cacete... – ele se levantou – Como eu estava dizendo... Nós sabemos que lidou com tudo isso sozinho, mas você não precisa.

Aquela sentença pegou Theo desprevenido.

- Penso eu que você não pode ser culpado por conta dos atos de outra pessoa. Em toda essa confusão, você apenas foi uma vítima da merda do destino. – Leon cruzou os braços na altura do peito.

Uma Segunda Chance - Livro 2Where stories live. Discover now