25• Pesadelos

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"So now I see you in my nightmares
All by myself drowning in my tears
Of keeping you alive inside my brain
I know it's strange,
I'm dealing with the pain,
I'm having nightmares.
Nightmares.
You're to blame"

∆∆∆

A lamparina pendurada em um tronco de árvore baixo iluminava a noite escura; as chamas laranjas e amarelas tremeluziam com o vento, e se igualavam a pirilampos na distância. Nuvens cobriam a Lua, e estrelas, ou qualquer astro no Universo que antes utilizei como conforto, mas que agora me causa um vazio tão intenso quanto um buraco negro.

Se erguesse minimamente o olhar para o céu esfumado, eu ainda conseguiria distinguir a claridade branca e redonda entre névoas altas. Já contei segredos deitada grama, já conversei com essas mesmas estrelas e Lua...

Posso rir da minha desgraça bem neste instante, gargalhar e rolar nas folhas; posso achar graça no meu passado sangrento, ou no meu nítido azar com amores, ou em minha falta de respeito pela própria vida... Talvez eu possa. Talvez devesse, até.

Voltando a realidade, ainda estamos em pé; a sola de minha bota se iguala a brasas quentes, não couro acolchoado.

Aqui e agora, é nisto que preciso me apegar.

Ron arregalou os olhos; um brilho diferente o tomou; e eu não sabia decifra-lo, não sabia como interpreta-lo.

Desde quando fui violada e torturada por Henry, ignorada e desestimada em Ilvermorny, ou até mesmo quando chorava no banheiro baixinho, implorando a atenção de Megan... Eu nunca disse. Eu nunca contei a ninguém sobre mim mesma; apenas partes. Jamais gostei que me vissem como verdadeiramente sou; a menina aos prantos na floresta, a assassina fria, a fraca... Tenho milhares de faces, e ao mesmo tempo nenhuma.

Depois de um tempo, passei a simplesmente sorrir enquanto minha pele era ferida pela ponta fumegante de um charuto.

Guardei tantas imperfeições, sentimentos e medos, por tanto tempo, que em determinado momento, não sabia mais quem era, ou o que estava realmente sentindo, muito menos fazendo. Não sabia se gostava da versão com espinhos e terra embaixo das unhas, se detestava, ou se somente passei a suporta-la.

Não tinha conhecimento nenhum de que doeria assim... Mas dói, e é real.

Aturei cada segundo sozinha, e agora que terminei de contar tudo, os ferimentos são muitos. Mais do que recordava-me.

Hoje, descobri que era fácil sofrer durante o tempo em que não havia ninguém para assistir, porque tampar suas cicatrizes é três vezes menos agoniante do que falar sobre elas. Desabar sob um chuveiro ligado para abafar os soluços é muito mais sutil do que desabar ao lado de alguém. Reservar tudo dentro de uma parte podre em seu coração é bem mais comum do que abrir as feridas novamente, e reviver tudo outra vez...

Entretanto, o que ninguém me alertou, é que em alguma hora, todos estes sentimentos que escondemos por anos; estes hematomas que acabaram ficando amarelados; as súplicas que queríamos fazer mas engolimos como se fossem bile... Retornam. Cada mísera coisinha vem à tona, e nos explode.

De dentro para fora... Puf.

No instante em que este dia chega, a dor é em dobro. Você percebe que não vai conseguir sobreviver se não se apoiar em outro corpo, apesar de ter lutado por si só. 

𝕿𝖔𝖝𝖎𝖈 𝕭𝖑𝖔𝖔𝖉 ~ 𝕯𝖗𝖆𝖈𝖔 𝕸𝖆𝖑𝖋𝖔𝖞Donde viven las historias. Descúbrelo ahora