2

6.6K 542 105
                                    

- Andréa, vá pegar champanhe para mim. - Ela profere como se eu não tivesse sumido por bastante tempo.

- S-sim, Miranda. - E me levanto com as pernas bambas.

O medo está meu best friend forever nesse momento, e é notório, e claro que Miranda, sempre muito observadora perceberá isso, ou já percebeu. Mesmo que eu tente disfarçar, minha respiração, meu comportamento mostra... A sina terrível de pessoas expressivas. Não conseguiria jamais fingir, principalmente para Miranda.

- Aqui, Miranda! - Ao entregar a taça, nossos dedos resvalaram, seus dedos são tão gelados. Parece até que tá morta. E isso faz minha pele toda arrepiar. Meus braços ficam visivelmente arrepiados.

Credo! Que ela não tenha o dom de ler pensamentos, pois, se ela conseguir ler os meus, senhor tenha misericórdia, tadinha de mim.
Sei que não devemos sentir pena de nós mesmo, que isso é atitude infantil, e egoísta, mas, meu irmão... se Miranda pudesse realmente ler meus pensamentos, eu estava fodidamente ferrada. Perdi as contas das vezes que a mandei ir à merda, que a chamei de vadia, ordinária e que toda essa carranca é falta de dá gostoso. Mentalmente é claro, não sou nem doida.
E não me arrependo. Miranda é uma mulher extraordinária, inteligente, linda, profissional exemplar, mas quando ela quer ativar o modo polo norte dela. Ela faz com uma maestria surreal, e eu já vi, senti e passei por esse lado cruel dela.

As luzes foram apagadas, a música ficando com timbre menor, dando indícios de que o desfile começará. Dito e feito!
Eu me sinto o próprio pinto no lixo. Definitivamente moda tá longe de ser futilidade.
Trabalhando todos esses meses para Miranda, pude perceber que roupa, não são simplesmente roupas, formam identidades.

Como Miranda, uma vez me explicou depois daquele monologo humilhante o qual eu não sabia diferenciar um cinto do outro: - Andréa, a sua imagem chega primeiro que você. Por isso a importância da identidade visual. Você é uma jovem astuta, inteligente, sagaz, mas vestindo essas coisas horrendas que você chama de roupa, o que você transmite? Você além de transmitir desleixo, você passa a impressão de descredibilidade. Quando um réu precisa dar alguma entrevista para conquistar a população, passar a imagem de inocente, quais roupas eles costumam usar? Tons claros, rendas, babados, tudo que remete a delicadeza, quando alguém quer passar a imagem de segurança, imponência, usam tons fortes. Isso tudo, minha querida, é moda. - Ela falava enquanto passava o polegar no copo de uísque. Ela estava um terno Armani que a deixava simplesmente deslumbrante.

E então foi nesse dia que eu percebi que eu era uma ridícula com conhecimento superficial de algo o qual eu me sentia no direito de julgar. Não existe outra palavra para denominar aquela Andréa. Patética!

Hoje eu consigo até entender o conceito sobre essas roupas com cortes e modelos exóticos, não se trata da vestimenta em si, e sim, da próxima tendência, do tecido, textura, cores, estampas e não apenas roupas. Hoje eu entendo, e rio da Andréa idiota de antes. A moda tem uma importância enorme, a gente subjuga muitas vezes apenas por não ter condição financeira de seguir.

É! Eu passei o evento todo divagando, tendo meus diálogos internos, ás vezes eu desejo ser como essas pessoas que não tem essa voz, ou narrador mental. Talvez seja mais fácil, será que eles pensam como nós? Que os pensamentos domina eles como o nosso ás vezes faz? De qualquer forma, deve ser mais fácil não ter essa voz a todo tempo dentro da nossa mente.

- O motorista já nos aguarda? - Miranda questiona e eu sinto todo o sangue do meu corpo se esvair. Balanço a cabeça em negação com os olhos arregalados - E o que você está esperando para chama-lo? - Desdém sai na sua melhor roupa de dentro da boca levemente carnuda e aparentemente macia de Miranda.

- Claro Miranda. - Então tranquilamente levo minha mão para dentro da bolsa em busca de um celular que eu sei que não tá dentro, porque ele está no fundo de uma fonte no meio de uma das principais praças de Paris?

Nervosamente eu sorrio, pois, não basta agir de maneira estranha, eu tenho que ser daquelas pessoas que também rir em momentos de tensão. Miranda revira os olhos para mim, mas antes dela abrir a boca para reclamar, uma mulher se aproxima de nós.

- Louise, esposa do desembargador da Louis Vuitton. - Sussurro para ela de maneira afobada. A mulher parece o flash de tão rápida que se aproxima.

Elas posam para fotos, ficam trocando elogios entre elas, e eu poderia enquanto isso, chamar o motorista, mas é claro que não tem como, eu estou sem o celular.

- Miranda, você me empresta seu celular? - Peço com minha melhor cara de cachorro morto.

Miranda pende a cabeça para o lado. Certeza que ela sabe que eu estou sem o celular, afinal, na quarta tentativa de suas ligações, euzinha me livrei dele.

Miranda tira o celular da bolsa e ela mesma chama o motorista. Sorrio de nervoso e peço desculpas para ela.

Ela conversa: Sorrir, e posa para foto com mais meia dúzia de pessoas, para por fim, saímos do evento. A noite está ainda mais fria do quê quando cheguei. As luzes já não estão causando-me vertigens, estou simplesmente encantada.

Talvez o fato de saber que ainda estou ao lado de Miranda tenha me ajudado para isso.
Sei que preciso analisar; estudar, essa minha dependência em relação a Miranda, mas definitivamente algo me diz que terei medo da resposta, então como alguém muito medrosa como eu, claro que irei empurrar isso para os confins da minha mente.

- Providencie um novo celular o mais breve possível, Andrea. - Ela fala como se soubesse o que eu tinha feito com o meu.

- Claro Miranda, me desculpe.

Ela apenas acena com a cabeça positivamente e destrava seu celular começando a mexer nele.
E eu fico aqui, sem saber se devo lhe dar uma explicação, ou simplesmente fingir que nada aconteceu, assim como parece que ela está fazendo.
Ou será que ela está maquinando uma maneira de me torturar a longo e dolorido prazo?
Automaticamente arregalo meus olhos e me inclino para ela.

- Você vai me matar? - Questiono surpresa e apavorada.

Miranda franze as sobrancelhas, e eu até posso ver um ponto de interrogação em sua testa.
Sorrio audível, juntando minhas mãos em meu colo ainda sorrindo como uma bela pomba lesa que eu sou.

- Desculpa. - Sorrio novamente e arrumo minha postura sem mover mais nenhum musculo do meu corpo. É hora de encerrar esse papel ridículo que estou fazendo.

Louca para AmarUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum