Capítulo 1

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CAMILLY

DOZE HORAS ANTES

          Olho par o enorme moro que minha barriga se tornou e suspiro, estar gravida e lutar constantemente contra três inimigos: o estômago que te causa fome a cada hora, a bexiga que faz com que eu vá no banheiro a cada meia hora e dor nas costas. O que me faz acordar nessa madrugada é a combinação vontade de fazer xixi e vontade de comer alguma coisa. Levanto da cama com toda a dificuldade de estar com oito meses de gestação, mas não reclamo, pois estou gravida de um menino que nem nasceu e já é o amor da minha vida inteira.

          Vou ao banheiro e suspiro quando finalmente deixo o xixi sair e sinto alívio imediato, quando término de lavar as mãos sinto a movimentação na minha barriga e sorrio imaginando que o bebê deve estar reclamando pela fome, saio do banheiro e começo a descer as escadas para ir à cozinha assaltar a geladeira, sei que sobrou bolo de chocolate e só de pensar no pedaço generoso que vou comer minha boca se enche de água e solto um gemidinho de prazer antecipado. Está escuro, mas não me incomodo em acender as luzes, pois conheço essa casa como a palma da minha mão e sei como descer as escadas sem ranger os degraus, vou tomando esse cuidado para não correr o risco de acordar a minha avó, ela está sempre muito preocupada comigo e o bebê e por qualquer suspiro diferente ela acha que estou passando mal, minha avó vem sendo meu porto seguro desde que me mudei ainda com três meses de gestação, sem ela eu não conseguiria passar pelos momentos angustiantes que me atingiram no inicio da gravidez.

          Quando estou no meio do caminho escuto meu nome, é a voz empregada da minha avó. Com certeza deve estar falando mal de mim pra alguém e posso imaginar o que ela fala de mim pelas costas: "a neta vadia, gravida e largada da dona da casa", eu sei bem o que as pessoas dessa pequena cidade no interior de Minas Gerais fala sobre mim, as especulações que fazem, toda vez que vou até a cidade sinto os olhares de julgamento sobre mim, isso me irrita e me deixa magoada na mesma medida, por isso evito ao máximo sair aqui da fazenda só vou ate na cidade para fazer os exames rotineiros da gravidez. Nunca gostei dessa Vera acho que ela é falsa comigo, sempre sorrindo de um jeito ardiloso e revirando os olhos quando acha que não estou vendo.

          Resolvo ficar quieta para escutar melhor a fofoca da vez, com quem será que ela esta falando? Será a senhora Inês a beata que me olha de cara fechada quando vou à igreja? Ou a dona margarida que faz bico toda vez que me via chegar à barraquinha dela na feira? É incrível que estejamos no século XXI e as pessoas ainda julguem mulheres que engravidam sem estarem casadas, como se eu tivesse escolhido estar nessa situação, como se eu ha alguns mês atrás eu imaginasse que seria traída e abandonada pelo meu noivo.

          Resolvo que vou escutar o que ela tem a dizer, afinal é meu direito saber o que andam comentando ao meu respeito, me sento em um dos degraus ainda no topo da escada e me mantenho quieta apenas escutando o que ela vai dizer, só não imaginava que isso iria mudar toda a minha vida.

          — Sim senhora ela entrou no oitavo mês, em breve a criança vai nascer — ela para e escuta o que a outra pessoa fala, ainda não escutei muita coisa da conversa, mas o assunto principal parece ser minha gravidez. — Ela teve um sangramento mês passado e parece estar com a pressão alta, mas pelo que a dona Elisa me disse não é nada preocupante.

          Que fofoqueira esta dando ate boletim médico da minha saúde agora? Minha vontade é entrar lá e acabar com a farra dela estou prestes a descer as escadas quando ouço uma coisa que me faz gelar até os ossos.

          — A compradora está firme? Porque eu tenho muitos planos com essa grana. Sim eu já arrumei todo o esquema com a enfermeira da maternidade, ela vai dar um jeito de fazer acreditarem que a criança morreu no parto, essa pressão alta da sua filhinha nojenta veio a calhar, acontece muito de bebes ou mamães morrerem por eclampsia — Filha? Ela não pode estar falando com a... — o médico vai ser o mais difícil e não vai sair barato, principalmente o falso boletim de óbito, mas sei que a senhora vai vender a criança por uma grana alta então não vai ser um problema ou vai?

          Ela para pra escutar o que a outra pessoa fala, quero acreditar que isso não é real e eu estou dormindo ainda, essa é a única explicação plausível, eu estou tendo um pesadelo. Parte de mim quer sair correndo agora e a outra parte está paralisada no lugar com muito medo.

          — Não senhora eu não seria tão burra, senhora Melissa assim a senhora me ofende — ela... Ela esta falando com a minha mãe, sobre roubar meu filho? Como isso é possível? — Todo esquema está arranjado pode avisar a madame que quer o menino que em no máximo um mês ela vai ser a feliz mamãe, quem não vai ficar muito feliz e a nojenta da sua filhinha né?

          Minha vontade agora e gritar e exigir uma explicação, mas respiro devagar tentando me acalmar e não fazer uma besteira, não posso me precipitar, tenho que pensar no meu filho. Ele é minha prioridade. Se o que estou escutando for sério ele está em perigo.

          — Mantenho a senhora informada, vai estar na cidade para o parto? Ótimo é bom mesmo se manter nas sombras ninguém vai desconfiar de nada, vai ser um trabalho limpo, nada pode dar errado se não vamos parar na cadeia.

          Me levanto devagar do degrau, subo devagar a escada sem fazer nenhum barulho e me tranco no quarto. Grossas lágrimas banham meu rosto eu estou em desespero nunca pensei ouvir algo tão macabro. Eu sei o que a minha mãe tentou fazer quando descobriu que eu estava gravida, mas eu achei que ela fosse me deixar em paz quando vim morar na fazenda e nunca imaginaria que ela fosse capaz de roubar o meu filho, mas será que isso tudo é real? Parece fantasioso demais, tipo historia de novela a vilã que arma um plano para roubar o bebe da mocinha boba.

          Eu não sou inocente sei que tráfico infantil é uma realidade horrível no mundo, as pessoas são cruéis e fazem qualquer coisa pela quantidade de dinheiro certa, mas partindo da própria avó do bebê? Minha mãe sempre foi gananciosa e se tem dinheiro alto envolvido ela topa qualquer coisa, mas é difícil acreditar que ela faria algo como me fazer acreditar que meu filho morreu para vende-lo.

          Mas se eu for totalmente sincera comigo mesma admito que não conheço bem a minha mãe, não posso afirmar com 100% de certeza que ela não faria isso, com certeza não vou colocar a mão no fogo por ela. Não sei se essa historia toda é real tudo que sei é que não vou ficar aqui e pagar pra ver.

          Enxugo as lágrimas é começo a pensar no que fazer. Posso contar a minha avó, mas sinto que não é a coisa certa a se fazer, algo dentro de mim diz que essa não é a solução. Penso em ligar para o meu pai, mas rapidamente rejeito essa idéia ele nunca ligou pra mim antes não ira começar agora que estou grávida, sozinha e a milhares de quilômetros de distância.

          Caminho de um lado para o outro analisando várias possibilidades, até que opto pela que me parece mais possível no momento, vou fugir, sair aqui da fazenda e me abrigar em algum lugar até meu filho nascer, depois eu volto e conto tudo para minha avó, chamo a polícia e faço uma denúncia. Posso também procurar um advogado e ver o posso fazer a respeito, mas depois eu penso nisso... minha prioridade agora é sair daqui o mais rápido possível, não é o melhor plano do mundo, mas e o que eu poso fazer no momento.

          Pego uma mochila e começo a guardar algumas roupas, mas penso melhor e tiro tudo já me basta o peso da barriga não posso carregar nada pesado, além disso, pretendo caminhar até a rodovia é pedir uma carona para a cidade vizinha, sei que é perigoso, mas se eu pegar um taxi ou for para a rodoviária antes que consiga respirar elas vão saber onde estou. A cidade é pequena, mas o a capacidade de fofocar é imensa.

          Pego minha carteira e tiro de dentro meus cartões de credito, não vão me servir mesmo, deixo apenas meus documentos pessoais. Abro a terceira gaveta da cômoda e retiro tudo de dentro e depois abro o fundo falso tirando lá de dentro todo dinheiro que tenho mil e quinhentos reais, coloco tudo na carteira e jogo dentro da bolsa.

          Me sento na cama e pelo resto da madrugada traço planos na minha cabeça, tem que dar tudo certo preciso manter meu filho a salvo.

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