Era um recém-nascido com os dedinhos tão pequenos que dava aflição, os olhos fechados e embalados em um sono tão profundo que quase não se ouvia nada além da respiração pesada.

— Ele tem uma cicatriz — observa Tessa, começando a ficar preocupada ao ver quão vermelha ela era. — Acho que temos que chamar a Sra. Evans. Um bebê não é brinquedo.

Contrariando a voz da razão, Matilde deu de ombros e se aproximou do menino, tocando no rostinho do bebê e levando um singelo choque que a impulsionou para trás.

Matilde bateu a cabeça na árvore atrás dela, despertando o bebê e lesionando o couro cabeludo que já sangrava levemente.

As duas correram, a mais nova ainda meio grogue, até o embrulho e tentaram o calar, tendo o infortúnio de ouvir um pigarro bem característico atrás delas.

A Sra. Evans era uma mulher bonita e bem ajeitada. Os olhos expressivamente verdes, os cabelos ruivos se destacam e chamam atenção, os olhos sempre carinhosos e compreensíveis analisavam as duas figuras com irritação.

— Estão loucas? Isso é hora de estarem brincando aqui fora? — perguntou rispidamente, fazendo as duas tremerem os ombros com a bronca. — Francamente, um dia vocês vão me enlouquecer.

— Mas, Sra. Evans... — Tentou inútilmente argumentar Matilde.

A Sra. Evans levantou a mão com um singelo 'basta', calando as duas.

— Para as camas! Imediatamente — ordena seca, ainda mantendo o rosto irritado.

— Tem um bebê aqui — anuncia Tessa por fim, chamando a atenção da matrona.

— Como?

— Dentro da cestinha — explica Tess, caminhando ligeiramente até a cesta e sendo mais inteligente que a amiga, sem tocar no bebê. — Ele está chorando.

Sra. Evans enfraquece o semblante de raiva, soltando um suspiro longo ao imaginar mais um bebê sendo abandonado às pressas de forma clandestina e totalmente inapropriada.

A mulher, no entanto, sorri afetuosamente para as duas meninas e as chispa com as mãos, prometendo cuidar bem do pequeno embrulho.

Assim que as três voltam ao quentinho do orfanato, a Sra. Evans acorda o marido com alarde, indo em direção a Madame Pomfrey que também estava em um dos seus sonos leves.

Os adultos sentam-se à mesa, sonolentos e receosos, encarando o pequeno embrulho com curiosidade.

— O que é isso? — pergunta Pomfrey completamente transtornada, ajeitando o robe que caía nos ombros ossudos.

— Um bebê — responde o Sr. Evans, ganhando um olhar de irritação em resposta das duas mulheres.

— Nitidamente — disse ríspida. — Mas quero saber como alguém pode deixar um bebê nesse frio no meio do quintal!

— Tempos difíceis exigem medidas desesperadas — diz a Sra. Evans, sorrindo quando vê o bebê abrindo os olhos verdes expressivos em direção a ela.

Pomfrey o pega nos braços, analisando metodicamente cada traço dele à procura de alguma doença ou enfermidade, tendo o alívio de um bebê completamente saudável.

— Mãe? — Lílian Potter, a mais nova doutora do St. Mungus e a filha de Sra. Evans, desceu com os pés descalços parecendo louca à procura do balbuciar do pequeno bebê.

— Lily, volte para a cama. É um assunto particular do orfanato — disse o Sr. Evans, analisando o marido de sua primogênita descendo as escadas confuso.

James Potter era o mais novo historiador da faculdade de Oxford, casado com Lílian Evans, se aproximou do embrulho com avidez, se deliciando quando o pequeno tentou pegar em suas mãos.

— É de quem? — perguntou achando graça ao ter o dedão engolido.

Lilian se aproximou por trás, sorrindo ao ver os olhos tão parecidos com os seus refletirem nos dela.

— Não sabemos — suspira a Sra. Evans, esfregando as têmporas de forma exasperada. — Apareceu no quintal e uma das meninas achou.

— Ele é lindo — observa Lily, pegando o bebê no colo e começando a niná-lo, gostando muito da forma em que ele soltou um balbuciar de bebê tão cativante.

— Tem um bilhete — diz James, abrindo a cesta e lendo com rapidez as palavras. As vistas tão acostumadas com textos gigantes de história e contos, se frustrou com a carta. — Foi abandonado.

Lily franziu o cenho, pegando a carta na mãe e coçando a garganta antes de ler:

"Proteja-o como seu enquanto eu não pude.

Ele é incrível. Está destinado a grandes coisas.

Nunca, em hipótese nenhuma, duvide de Harry.

De uma mãe desesperada a outra,

Cuide do meu filho."

Lilian lembra-se de ter achado a carta um tanto estranha, como se tivesse destinatário próprio; como se fosse feito para ela, naquele exato momento, achá-lo.

Harry.

— Nome bonito — disse por fim a ruiva, cheirando os cabelos tão macios. — Irá ficar com ele?

— Sabe que esse orfanato cuida de crianças de faixa etária mais velha — responde com um tom cansado o Sr. Evans. — Vou me contentar em voltar a dormir e amanhã vejo o que pode ser feito.

Lilian assentiu, pronta para deixar o pequeno embrulho que a encantou tanto nas mãos de seu pai quando um singelo toque, Harry tocou no rosto de Lilian.

E ela sentiu tudo.

Uma imensidão de paz. De amor. De afeto.

Imediatamente soube, naquele momento, que aquele pequeno bebezinho era seu.

Seu para cuidar.

"De uma mãe desesperada a outra."

Não era segredo que Lilian tentava engravidar há anos e todas as vezes sendo um completo fracasso.

Quase como... não fosse feita para ser mãe.

Trocando uma breve troca de olhar com seu marido tão afetuoso que já tinha captado tudo, Lílian sorriu e apertou mais o pequeno nos braços.

Seu filho.

Sentia isso em seu âmago. Em cada célula do seu ser.

Seu pequeno Harry.

— Eu vou ficar com ele — declarou com confiança, sentindo os braços quentes de seu marido em seu entorno. — Harry Potter.

E a última estrela do céu piscou.

Elementais e o Herdeiro de Godin | DRARRY (HIATUS) Where stories live. Discover now