— Aconteceu alguma coisa? – a grifinória perguntou.

— Sim, aconteceu. Eu vi tudo na noite da partida de quadribol, no corredor da enfermaria. – ele disse – Você e o Lupin.

Allie estava envergonhada, mas não via problema algum naquilo. Tirando o fato de que Regulus havia presenciado um momento íntimo e importante para ela, nada mais parecia estar errado.

— E daí?

— Não passou por sua cabeça nem mesmo por um instante que alguém poderia ficar machucado com isso?

— Alguém? – Allie estava chocada. Jamais pensaria que Regulus poderia sentir algo por ela. – Regulus, eu não fazia ideia.

— Você não sabe com quem está se relacionando. Ele é um monstro.

A grifinória sentiu o coração apertar. Sabia bem que o Black não gostava das companhias do irmão, mas aquilo era demais. Não poderia sair ditando com quem ela podia conversar ou não. Ele mal o conhecia.

— Você não sabe nada sobre o Remus. – a Wood disse baixinho.

— Eu sei muito mais sobre ele do que você, aparentemente. – o Black mais novo riu com escárnio. Conseguia ser bem malvado quando queria. – Você não faz ideia de como ele é, não é mesmo?

— Eu não sei do que você está falando, mas não gosto do jeito que você se refere a ele.

Regulus sabia muito bem o que iria fazer em seguida. Iria machucá-la, iria despedaçar o afeto que ela sentia por Remus em suas próprias mãos se pudesse. Iria utilizar de uma informação baixa e maldosa que havia guardado por muito tempo. As paredes finas da casa doze do Largo Grimmauld lhe contaram segredos que jamais deveria ter ouvido. Segredos que Sirius o mataria caso descobrisse que ele sabia.

— Porque ele é uma criatura nojenta. – Regulus virou de costas. – Você nunca percebeu que ele some uma vez no mês, bem na lua cheia? Nunca percebeu todas as cicatrizes no rosto dele? Me diz, Allison, você é assim tão burra?

Allie sentiu os olhos encherem de lágrimas. Sem pensar duas vezes, saiu correndo dali até o dormitório feminino. Lilian e Marlene dormiam tranquilas, mas Dorcas ainda estava acordada e ao ver a amiga se desfazendo em lágrimas, a puxou para um abraço. Regulus nunca havia falado daquela maneira antes. Naquele dia, tinha conhecido uma face jamais vista do Black mais novo e não gostara nada daquilo. Ela dormiu ali, chorando nos braços da amiga.

No outro dia, tinham aula de Poções no primeiro horário. Allie não havia aparecido para o café da manhã e quando se sentou no balcão ao lado dos colegas, Lily notou o rosto inchado e as bolsas debaixo dos olhos da amiga. Ela havia chorado. Queria puxá-la para fora da sala e interroga-la sobre o motivo daquilo, mas não poderia fazer aquilo na frente de Slughorn ou ele as repreenderia.

Naquele dia aprenderiam a poção Amortentia, uma poção de amor. Allie não conversou muito enquanto produziam a poção, nem mesmo riu das piadas que Sirius se esforçou para fazer. Estava triste e Lilian sabia. Na verdade, todos haviam notado. James e Sirius conversavam silenciosamente através dos seus olhares e verificavam se Remus sabia alguma coisa sobre aquele estado tristonho da garota, mas ele parecia tão perdido quanto qualquer um naquela mesa. Peter acompanhava de longe a guerra fria no balcão ao lado, e foi capaz de observar com os olhos atentos a carranca de Snape em um misto de preocupação e ansiedade, alertando que sabia de algo.

— A poção de vocês está perfeita. – Slughorn sorriu ao passar pelo balcão de Allie e Remus. – Senhorita Wood, pode se aproximar da poção e me dizer o cheiro dela? Isso é importante para os seus N.I.E.M's.

Allie se aproximou, inspirando o cheiro gostoso da poção e parando para pensar nos aromas que continham ali. Era uma cacofonia de sinestesia para si, mas concentrou-se o máximo possível.

— Tem cheiro de chocolate, perfume amadeirado, pasta de dente e... – respirou mais fundo – Cachorro molhado?

Sirius e James se entreolharam com sorrisos pendendo debilmente nos lábios enquanto Remus olhava para Lily que mantinha uma interrogação no seu semblante. O professor Slughorn tinha um sorriso contente no rosto.

— Acho que está apaixonada, senhorita Wood. – ele riu baixinho – O cheiro da Amortentia é diferente para cada bruxo e representa a pessoa que lhe atrai.

Allison olhou para a amiga do outro lado do balcão, sentindo as bochechas esquentarem. Fingiu não ter percebido, anotando a nova informação no seu pergaminho. Quando a aula terminou, saiu correndo dali com Evans ao seu lado, a levando até o banheiro feminino.

— Lily, preciso te contar uma coisa. – Allie disse, nervosa. – Mas você tem que jurar por Merlin que não contará a ninguém.

— Eu juro, Allie. O que foi? – ela vomitou as palavras em uma velocidade assustadora. – Isso tem a ver com suas lágrimas de hoje?

A grifinória respirou fundo antes de confirmar e realmente decidir que iria compartilhar aquele fato com a amiga.

— Você já percebeu como James e Sirius vivem chamando o Remus de Aluado? – a ruiva assentiu. – E como ele some uma vez ao mês porque sempre está "doente". E todas aquelas cicatrizes que ele tem.

— Sim, eu já percebi tudo isso. Não é muito difícil já que é a única coisa que eles fazem além de encher o saco das pessoas...

— Nunca passou por sua cabeça que ele pudesse ser um lobisomem? – Allie mordeu o inferior. Sabia que estava parecendo uma louca e teve certeza quando Lily riu.

— Da onde você tirou isso, Allie?

A grifinória retirou um livro que havia pegado na biblioteca mais cedo, abrindo na página 394, que havia marcado e entregando para a Evans. Era um capítulo inteiro sobre lobisomens. Lily lembrava-se bem de ter lido tudo aquilo no quinto ano, já que fora uma das matérias de Defesa Contra as Artes das Trevas nos Níveis Ordinários de Magia. Leu cada detalhe descrito ali sentindo um arrepio tomar o seu corpo já que aquilo parecia muito familiar com que a sua amiga havia descrito segundos antes.

— É sério, Lils. – ela disse enquanto a amiga lia. – Eu não posso estar ficando maluca.

— Façamos o seguinte: na próxima lua cheia iremos observá-lo. E ficaremos na cola dos meninos também. – ela voltou a entregar o livro para Allie. – Se isso for te acalmar.

— Não sei se isso serviria para me acalmar, para ser sincera. – Allie abraçou o próprio corpo. Estava um trapo, embora Lily não fosse mencionar aquilo para ela. Estava com olheiras e o cabelo estava despenteado, o que nunca acontecia. – Não tem como eu estar apaixonada por um lobisomem.

— Você sabe que isso tudo é uma loucura. – Evans a repreendeu, cruzando os braços. – E sabe, os lobisomens são uma espécie que sofrem muito preconceito na nossa comunidade. Você não pensa como as outras pessoas, não é?

— Não, Lily, claro que não. – Allie negou. Já havia visto inúmeros estudantes falarem sobre lobisomens. Seres vis e maldosos que tinham como único propósito matar e machucar os outros. Mas, por outro lado, eram apenas bruxos inocentes contaminados com a licantropia, que aflorava os instintos animais e os transformavam em criaturas sem plena consciência. – Só estou pensando em quão horrível deve ser para ele passar por isso. Imagina... Se as pessoas descobrissem e decidissem tratar ele como todo o resto trata?

— Ele não é um lobisomem, mas que coisa! – a ruiva sentia-se idiota repetindo aquilo, embora estivesse tão amedrontada quanto a amiga. – Mas, de onde veio tudo isso, Allie? Quando foi que essa chave virou na sua cabeça?

— Um passarinho me contou. – ela comentou, de forma sombria. – Um corvo, na verdade.

𝐓𝐀𝐋𝐊𝐈𝐍𝐆 𝐓𝐎 𝐓𝐇𝐄 𝐌𝐎𝐎𝐍  || remus lupinOnde histórias criam vida. Descubra agora