Cavalgamos juntas pela ponte e quando chegamos no vilarejo, nos deparamos com um lugar sujo, fedorento, pobre e triste. Não tinha quase ninguém nas ruas, a maioria dos plebeus entraram em casa quando chegamos.

- O vilarejo nunca foi assim, ele era alegre, cheio de gente sorrindo, cheio de árvores – Lena diz.

Ando até uma cruz perto da igreja e vejo três mulheres acorrentadas à cruz e uma delas é só uma criança. Em uma placa estava escrito:

O aldeão que capturar uma bruxa recebe 300 bronzes.

Bruxas! Aquelas mulheres foram acusadas de bruxaria! Mas aquilo não era justo. As bruxas nunca mais tinham sido vistas e agora eles estavam caçando elas. Vejo uma mulher carregando um carrinho cheio de leite e pergunto a ela:

- Com licença, quando essas mulheres vão ser condenadas?

- Hoje a noite – a velha disse rouca – Elas vão ser queimadas.

- Mas eu pensava que as bruxas tinham sumido quando o meu p...Quer dizer, o rei Omir estava no trono.

- Ah minha criança, as coisas mudaram, e agora aquela megera está no trono. Viu o que ela fez com o reino? É tudo culpa dela.

Selena se remexeu no cavalo e disse:

- Luna, acho melhor a gente ir embora.

- Espera – Eu me virei para a velha, mas ela tinha sumido. Homens começaram a sair atrás dos becos e rondar os cavalos.

- Hum, faz tempo que donzelas não aparecem por aqui – um homem ruivo diz.

- Devem ser do castelo – outro fala.

- Nós já estamos de saída – eu digo.

- Ah, mas já tão cedo, isso é falta de educação! - o ruivo diz.

Eu ouço um grito e me viro. Um homem pegou Selena do cavalo e agarra ela. Lena esperneia e grita, mas ele é mais forte. O cara pega uma adaga pontuda e pressiona ela contra o pescoço de minha irmã.

- Uhmm, sangue nobre, imagina que gosto deve ter.

O homem faz um corte no braço de Lena e o sangue vermelho escorre. Um bando de emoções invade meu corpo, raiva, ódio, nojo, principalmente ódio. Eu solto um grito muito alto e o pescoço do homem vira, ele cai morto no chão, o sangue vai pra todo lado. Pego minha irmã e ela monta em meu cavalo. Mazen sai em disparada do vilarejo em quanto eu dou uma última olhada nas mulheres sujas presas a cruz.

Depois de muito tempo, pergunto para Lena:

- Você está bem?

Era óbvio que ela não estava. A garota tremia de ponta a cabeça. No que eu fui nos meter. Era tudo minha culpa!

- O que aconteceu lá? Por que aquele homem morreu de repente?

A única resposta que veio a minha mente foi:

- Tinham bruxas perto da gente, elas devem ter feito aquilo.

Foram as únicas palavras que trocamos até chegar ao castelo. Quando saímos do celeiro, cubro Lena com a capa para que os soldados não vejam todo o sangue do homem. Mas o rastro de sangue do ferimento de Selena não ajuda. Quando chegamos ao segundo andar, um mordomo toma coragem e vai falar com a gente?

- Sua alteza está bem? De onde vem todo esse sangue? Não é melhor chamar a rainha?

- Não! Não precisamos de nada! - Eu falo alto de mais.

Paços ecoam pelos corredores e Gabrielle surge na nossa frente. Seu vestido cheio de camadas esmeralda impecável e seu coque loiro e sedutor brilha com a coroa em cima.

- Por que querem me chamar? – Ela fala, mas seus olhos vão até sua filha tremendo e fala – Selena, tire a capa.

- Não mãe, eu estou ...

- Selena, tire essa capa agora!

Ela mesma vai até a filha e arranca a capa de seu corpo. A rainha entra em choque quando vê a filha imunda de sangue.

- Levem ela até a enfermaria imediatamente, e você – ela se vira pra mim com os olhos verdes furiosos – vai ter uma conversa comigo no escritório.

....

Eu me remexo na cadeira estofada na sala cheia de livros da rainha. Ela anda em círculos até finalmente dizer:

- O que você fez!?

- Eu e Lena fomos nadar no rio e ela acabou escorregando nas pedras – minto.

- Fale a verdade! Eu sou sua rainha! – Ela me encarava, como se quisesse ler minha mente.

- Eu...eu tive a ideia de irmos até o vilarejo, então saímos escondidas. Quando chegamos lá, vários caras começaram a nos rondar. Um cara agarrou Selena e ele acabou sendo morto.

- O que? Você coloca minha filha em perigo! Vai ficar trancada em seu quarto por um mês garota. E como esse cara morreu?

- Tinha umas bruxas perto, ....

- Bruxas, não seja tola, não existe mais bruxas...

- Ah, pare de mentir – eu me levanto com raiva – eu sei muito bem que as bruxas voltaram quando você começou a governar e o que você fez com o meu povo. Todos te odeiam lá fora e eu quero saber o por quê?!

- Eu só concertei o reino que o idiota do seu pai não conseguiu reinar. Aquele imprestável, não fazia nada direito!

- Não fale assim do meu pai! – eu grito. Todas as janelas se quebram em pedaços e uma chuva de vidros cai sobre nós, mas continuamos paradas.

- Você é que nem ele e sua mãe, uma vadia idiota que não sabe fazer nada direito – a rainha vai até mim e saca uma minúscula garrafa de vidro com um líquido preto dentro - Com uma gota disso, e você terá o mesmo destino que seu pai.

- Você matou o meu... – as lagrimas começam a rolar de meus olhos – Sua vaca! – Eu só sentia ódio naquele momento, ódio puro. Mas Gabrielle foi mais rápida, ela me agarrou e colocou uma adaga na minha garganta. Forçou minha boca a abrir, mas naquele momento eu só era ódio, nem me lembrava quem eu era. A rainha começa a chacoalhar descontroladamente e espuma começou a sair da boca dela. Gabrielle me soltou e caiu no chão. Ela estava tendo uma convulsão e não havia nada que eu podia fazer. Ela para de repente e eu coloco minha mão em seu pulso, ela está morta.

      

Rainha das trevas Where stories live. Discover now