Eu era um jovem na época em que minha avó sempre falava para nunca assobiar à meia-noite, porque chamava espíritos ruins, demônios, eu dava risada e não acreditava até um dia isso mudar.
Certa noite eu estava num bar com meus dois amigos: Chico e Zé, Nós três estávamos bebendo e fumando, depois de passar a noite bebendo fomos juntos para a casa pois éramos vizinhos, andávamos juntos na estrada iluminada pela lua cheia, os grilos cricrilavam, os sapos coaxavam, era barulho na mata e nós fazíamos mais barulho ainda, até que meu amigo Zé assobiou uma musiquinha que nós nunca escutamos antes, então nós paramos e ficamos em silêncio, um silêncio mortal se fazia na estrada, a lua estava coberta, a mata em silêncio, nada se ouvia, fora os nossos corações batendo e nossos respirar ofegantes, até que nós olhamos um para o outro e demos uma risada alta, eu ri, Chico riu, Zé riu e nós três ouvimos uma risada macabra na mata e aí nós corremos.
Eu estava com o meu lampião de querosene iluminando meu caminho, Chico correu para trás e Zé o acompanhou, eu corri para frente sem nem olhar pra trás, até que eu parei pra respirar, olhei ao redor e vi um breu escuro tão escuro quanto um buraco negro, não havia uma estrela naquele céu negro como saco de crina, comecei a suar frio e a tremer todo, então gritei por eles:
-Eeeeeeiiii Zééééé!!!!!
-Eeeeeeeeiiii Chicoooo!!!
Silêncio...
até que, passos apressados, tentei ver quem vinha mas meu lampião apagou, então ouvi alguém falar bem, mas bem perto do meu ouvido, repetindo quase que num sussurro:
-Escuro, tá muito escuro, escuro, tá muito escuro...
Eu me arrepiei todo e senti meus pelos ficarem em pé, fiquei travado olhando fixo pro meu lampião, eu não conseguia me mexer, meus olhos estavam travados olhando para baixo, até que eu lembrei de algo que minha avó disse sobre o assobio da meia-noite, então assobiei a musiquinha ao contrário e ainda rezei um pai-nosso.
No dia seguinte acordei pelado na mata quando meus pais me encontraram encolhido chorando e rezando baixinho, depois descobri que os meus dois amigos sofreram um acidente, um caiu e bateu a cabeça numa pedra dentro do rio e o outro caiu do barranco e foi empalado vivo por galhos, ambos estavam gritando e correndo sem parar antes de morrerem.
- Nossa vovô que história furada...
-Ah você não viu nada, meu filho!
- Então como era o assovio?!
- Está tarde meu netinho, vamos dormir...
-Aah Vovô...
Eu desligo a luz quando ouço um assovio, então eu grito pro meu neto:
- Você não deveria ter assobiado!
-Vô, eu não assobiei!
Então houve se um silêncio mortal na casa até ouvirmos uma risada macabra.
