BETA ELITE

DIA 1892

ILHA 52 

TEMPO AGRADÁVEL
OUTONO
DIA 1892 
ANO 2854

O balanço do trem me fazia sentir um pouco de enjoo, observo minha irmã encarando a janela, não queria que ela visse aquilo e logo cubro todas da nossa cabine com um grande pano. 

-Vamos ficar bem, maninho? - ela me pergunta com seus olhos medroso e corpo levemente trêmulo do frio. 

-Quando eu não cumpri com a minha promessa? - a abraço na tentativa de aquecer seu corpo. - Sempre vou te proteger, pequena.

O trem continua vagando, os sons que vinham de seu exterior eram aterrorizante, desde bombas, gritos, explosões, armas e, o mais temido, som da morte. Observo minha irmã começando a tremer a cada som, o medo era bem visível, respiro fundo e começo a cantar a música que vovó cantava para nós acalmar.

"Você, você
Vem pra árvore
Onde enforcaram um homem
Que dizem que matou três
Não mais estranho seria a gente se encontrar
A meia-noite na árvore forca

Você, você
Vem pra árvore
Onde o homem morto clamou
Pro seu amor fugir
Não mais estranho seria a gente se encontrar
A meia-noite na árvore forca"
(Árvore Forca/ James Newton Howard)

Seus olhos se fecham, ela dorme tranquilamente e fico sorrindo a observando, até que uma brecha do pano preso a janela acaba caindo, vejo um pouco do que estava acontecendo, era um pesadelo, o maior pesadelo da sociedade, até que uma voz se destaca das demais.

-AJUDA, POR FAVOR, ME AJUDEM. - meu corpo treme completamente. 

-MAMÃE? - Levanto-me do assento para retirar o pano da janela e vejo uma luz intensa. 

BIP BIP BIP BIP, HORA DE LEVANTE ALUNO 33456.

Abro meus olhos e sento na cama rapidamente, estava com a respiração ofegante, coração acelerado e mãos levemente tremulas, balanço minha cabeça, agora estava mais ciente que tudo foi um pesadelo, respiro fundo, mas logo fico levemente estressado com o BIP BIP feito pelo despertador.

-EVA, acordei, pode parar o despertador? - digo ao colocar os pés nas pantufas. 

-Bom dia, aluno 33456, meus gráficos apresentam que você teve um pesadelo. - EVA era uma IA (inteligência artificial)  responsável por cuidar de todos os alunos, ela se comunicava através dos autofalantes instalados em toda ilha e também por nossas pulseiras, um tipo de relógio inteligente. 

-Bom dia, já falei para me chama de Edgar. - levanto-me da cama e me dirijo para o banheiro. - Esqueça sobre o pesadelo, foi nada.

-Mas é importante que eu saiba de todas as informações, principalmente seus sonhos, aluno 334...

-EDGAR, EVA, meu nome é Edgar, por favor. - a interrompo. 

-Principalmente seus sonhos, E D G A R. - ela soletra, parecia tirar sarro de mim, mas era apenas uma inteligência artificial.

Uso o banheiro, tomo banho e escovo os dentes. 

-O que tem para tomar café, EVA? - pergunto e ela fica alguns segundos sem me responder. 

-EVA, não vai me responder? - fico instigado.

-Cadê sua educação, sabes que não vou responder sem a palavrinha mágica. - ela responde. 

-VOCÊ É MESMO UMA IA? - não acreditava que eu devia respeito a um robô. - EVA?

Ela fica em silêncio.