Capítulo 3 - "Unidos pela Sobrevivência"

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- Então... é isso... Siegfried? É isso? - William tentava falar, arfando dolorosamente, sem ar. - É isso o que o clã decidiu fazer comigo?

- Você sabe... muito bem... - Siegfried respondeu, parando a poucos passos dele, colocando as mãos no joelho, tentando recuperar-se. - Você sabe muito bem que nosso Clã Independente não tem chance alguma contra os Clãs Ancestrais.

- E eles querem minha cabeça como presente. - William deduziu. - Não basta eu ter sido exilado? Fugido com toda minha família para um lugar desconhecido, tentando sobreviver a cada dia?

- Sobreviver? - Siegfried caçoa. - Vocês chamam isso de sobreviver? Todo esse luxo, festas, dinheiro, casas e carros ao seu dispor? Você ao menos se lembra o que realmente é sobreviver?

- Poupe-me do sermão, irmão! Se o clã ainda vive em seus velhos hábitos, não é a mim quem você deve culpar!

- Não me chame de "irmão", monstro arrogante e estúpido! Não era assim que deveria acabar, William... Não era!

Siegfried avança em direção à William, o que me deixa cheia de medo, mas também me dá forças e coragem! Olho em volta, à procura de algo que possa me ajudar a acabar com ele, aproveitando que estava fraco e distraído, sem perceber que eu os observava. Alguns escombros próximos ao muro me deram a ideia perfeita: agarrei um dos vergalhões de ferro com ambas as mãos e, correndo em sua direção, cravei em suas costas, atravessando-lhe o coração.

Ao ver aquilo, William arregalou ainda mais os olhos, em um misto de surpresa e desespero por eu ter feito aquilo. Estava orgulhosa de mim mesma, mas isso durou apenas alguns segundos, antes que ele começasse a gritar comigo.

- AMANDA! POR QUE FEZ ISSO? - ele se arrastou até o corpo de Siegfried, confirmando que estava realmente morto.

- C-Como assim "por que"? - não era óbvio? Eu o havia salvado! Ele deveria estar agradecido, e não furioso!

- Você cometeu um erro terrível! Ele não deveria morrer!

- E eu deveria deixar você morrer, então? - respondi com raiva. Que pessoa em sã consciência não ficaria extremamente aliviada em ser salva de um homem assustador como aquele?

- Deveria! Eu deveria ter morrido! Eu... estou morrendo, não vê?

Ao me aproximar dele, vejo que vários objetos pontudos estavam também cravados em suas costas, e várias perfurações em seu corpo faziam o sangue coagulado cair no chão de forma nojenta. Ele estava, de fato, morrendo.

- Eu fiz algo terrível no passado. Algo imperdoável. É costume do meu antigo clã lutar até a morte. Eles me pegaram... Acabaram comigo... Siegfried deveria levar minha cabeça de volta e garantir que minha família fosse aceita novamente! Mas... agora? Agora está tudo acabado, e eles virão atrás de você também!

- P-Por que eles viriam atrás de mim?

- Você matou um deles. Matou meu irmão, um membro valioso do clã, defendendo um traidor, um rebelde, um mal caráter como eu!

- Traidor? Mal caráter? Não! Você não é... - antes mesmo de eu conseguir terminar de falar, ele me interrompe.

- Você não me conhece, Amanda! Não sabe quem eu sou, do que sou capaz... Não sabe o que eu sou... - ele arfa, com dor, com as costas contra o muro. - Você é uma mortal diferente, não rende-se facilmente aos nossos encantos, consegue manter uma conversa sem sucumbir totalmente ao nosso charme, e isso me deixou muito intrigado! - ele cospe sangue. - O pouco de admiração inconsciente que conseguimos de você é tão incomum que me fascinou desde a primeira vez que te vi, mas isso... apenas esse pouco de resistência que existe em você... já é suficiente para saber que será uma vampira excepcional! - ele sorri, os dentes vermelho escuro.

- Vampira? Eu? Vocês...

- Não somos o tipo hollywoodiano de vampiros. Sem brilho, sem estacas de madeira ou alho. Além da imortalidade, não tem mais nada que mortais saibam, realmente, sobre nós. Séculos e mais séculos de história, perdidos... Sem saber ao certo em que nos metemos... Clãs...

Ele estava divagando. Ele não podia morrer, eu precisava dele! Chamei por ele, e o sacudi pelos ombros até fazê-lo lembrar que eu estava ali, na sua frente, e precisava de ajuda para entender toda essa loucura que ele estava me contando.

- Beba... - ele esticou o braço, pelo menos um deles que ainda conseguia levantar, cheio de cortes profundos. - Engraçado... Mais uma coisa que acertaram...

- Você quer que eu... beba seu sangue? - meu estômago se contorceu com ânsia, só de imaginar o gosto terrível do sangue coagulado, e dos gomos descendo pela garganta. - Eu não vou fazer isso! De jeito nenhum!

- Amanda, olhe pra mim! - ele disse, encarando tão fundo nos meus olhos que fiquei desconcertada. - Não há outra saída! Ou você bebe, ou você morre! - ele suspirou. - Me perdoe... Não queria te envolver nisso... Francis... Laura... Elas já sofreram tanto por causa dos meus erros... E agora, você também?!

Lágrimas começaram a rolar pelas suas bochechas frias e sem vida. Me deitei ao seu lado, esperando seu fim. Eu não deixaria William sozinho, não agora. Chorei baixinho, contida, não queria desesperá-lo ainda mais, tão perto do fim. Meu coração foi aquecido pelas memórias que eu tinha dele, as poucas memórias, as poucas palavras que trocamos, no pouco tempo que convivemos. Não me importava de lembrar-me delas, mesmo que tenham sido forçadas por algum encanto desconhecido.

- William...?

- Sim? - ele disse em um suspiro esforçado.

- Eu te amo. - as palavras saíram automaticamente da minha boca, sem saber se era por compaixão, por dar a ele um pouco de esperança, ou se eu sentia verdadeiramente que o amava.

- Eu sei, Amanda... Eu sei... - ele sorriu.

O Monstro em VocêWhere stories live. Discover now