capítulo quatro: o ensaio

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Solto uma risada baixa e nasalada, totalmente inconformada pela sua beleza gritante demais ser um fator completamente decisivo na hora de ele sair ileso de problemas.

Abro a tampinha da garrafa de água em minhas mãos e a levo até meus lábios, tentando disfarçar o incomodo que sinto por Scott ser recebido por sorrisos e elogios quando na verdade merecia levar vários esporros por ter chegado atrasado e por ter me deixado ser a única garota sem um par.

Quando uma generosa quantidade de água gelada desce por entre minha garganta, fecho a garrafinha e passo o dorso da mão na minha boca, retirando os resquícios. Dou as costas para qualquer conversa entre John e o professor, ou John e qualquer outra pessoa, e arrasto meus passos até minha bolsa, que está em uma espécie de armário para cada um de nós. Deposito a garrafinha por ali, e, assim que estou prestes a retornar para o círculo de padrinhos, choco o meu peito contra o peitoral firme e feito de aço de alguém.

Ergo meus olhos para o rosto da pessoa que me trombei e encontro quem não gostaria por ali. Franzo o nariz em uma careta de desgosto quando observo o rosto de John Scott passar de levemente preocupado para completamente achando graça de toda a situação. Franzo o nariz ainda mais — se realmente for possível — por sentir a queimação da sua mão envolvendo com firmeza a pele exposta da minha cintura, já que me encontro agora apenas de top e calça legging.

Deveria ter me coberto mais. Droga!

— Com pressa? — pergunta, provavelmente se referindo ao fato de termos nos batido. Quer dizer, nós não nós batemos. Ele quem se bateu e quase se jogou em mim.

— Não tanto quanto você — ironizo. — Se perdeu no caminho, Scott? — A firmeza do seu toque consegue aumentar por conta disso. Não ao ponto de machucar, óbvio, e sim ao ponto de me deixar um pouco fora de órbita. Detesto que meus hormônios carentes me traem nessas horas. Limpo a garganta e tiro sua mão de mim, dando um passo para trás.

Temo que tenha prestado atenção no modo como me esquivei da sua presença, mas isso parece não acontecer. John apenas aperta as pálpebras com o polegar e o indicador, balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Qual a probabilidade de você acreditar em mim se eu disser que realmente me perdi no caminho?

— Zero. — Sou direta. Ele provavelmente conhece essa cidade de cabo a rabo, como isso seria possível?

— Então nem vou me dar ao trabalho de explicar que fui parar em um estúdio de ballet para crianças — John sacode os ombros, mas vejo o lampejo de um sorriso cobrir seus lábios rosados.

Ele estava mesmo falando sério?

— Ballet para crianças? — repito, e o loiro confirma, cobrindo sua boca com dois dedos, como se fosse para tentar impedir que um riso ecoe pelo estúdio de dança.

— Isso mesmo. Eu fui parar em um estúdio de ballet e a professora era uma senhorinha até que simpática. No começo, não havia percebido nada de errado, até cheguei a cogitar que tinha chegado cedo no ensaio. Depois, quando a senhora percebeu que eu não era nenhum pai de aluno e nem estava lá para matricular ninguém, fez questão de me mostrar sua turma. Resumindo... tive que assistir as meninas dançarem por não sei quantos minutos.

— E pelo menos a apresentação foi boa?

John cobre ainda mais os lábios.

— Não. Foi um completo desastre.

No exato momento em que libero uma gargalhada ao imaginar toda a cena, John libera a sua também. O estúdio fica em silêncio e todos os olhares estão cravados em nós, nos julgando de alguma coisa. Presumo eu que seja por estarmos atrasando ainda mais o ensaio.

ENCONTRE-ME NA NEVE | #2 Da Série The Hurricane Freedom MC Onde histórias criam vida. Descubra agora