— Lils! – Allie gritou – Senti a sua falta.

— Allie! – a monitora da Grifinória a abraçou de volta sentindo o cheiro característico de cardamomo invadir suas narinas. – Seu cabelo continua cheiroso.

Ambas riram, se afastando para que pudessem olhar bem uma para outra. Lily usava o uniforme de Hogwarts com o distintivo de monitora no peito. Allie usava roupas comuns, um vestido azul marinho com um cardigan marrom. Lily sempre admirara o senso de moda da amiga, ela conseguia vestir bem até mesmo um saco de batatas.

— É nosso último ano. – Lily entrelaçou seu braço ao da amiga, indo em direção à locomotiva. Os pais de Allie haviam deixado a estação há bons minutos depois de muita choradeira. – Não se sente nostálgica?

— Quando pensamos muito no futuro acabamos presos no passado. – Allie confortou a amiga que parecia prestes a chorar. – Mas, sim, estou bem emotiva desde que entrei na estação. Sinto que esse ano vai ser repleto de coisas boas.

Allie lembrava-se do seu primeiro dia em Hogwarts. Seu pai empurrava seu malão embasbacado com todos aqueles pequenos e grandes bruxos que corriam por todos os lados segurando corujas, caldeirões e varinhas. Mesmo com uma bruxa em casa, não conseguia se acostumar com a existência daquele mundo escondido. Sua mãe sorria orgulhosa pela filha, segurando sua mão firmemente, com extremo carinho.

— Lembre-se de escrever para nós. Quero notícias da sua primeira semana. – sua mãe a lembrou – Principalmente sobre a sua casa!

— Estamos na torcida para que você seja da Corvonal! – seu pai comentou.

— Corvinal, pai. – Allie riu do esforço do seu pai para comentar sobre assuntos do mundo bruxo. Ele era trouxa, não possuía a habilidade de fazer magia e não tinha estudado em Hogwarts. – Espero que sim, afinal, foi a casa da mamãe!

— Qualquer casa é uma boa casa, querida. – sua mãe afagou seus longos cabelos. – Lembre-se de sempre se manter fiel a si mesma.

O trem apitou fazendo Allie pular de susto. Apesar da sua ansiedade, tinha medo de adentrar a locomotiva. Isso significaria que ficaria longe de casa, dos seus pais, em um lugar totalmente desconhecido onde não tinha amigos nenhum. Aquilo fazia a pequena garota de onze anos estremecer de medo.

— Coragem, Allie. – seu pai a beijou na testa. – Te vemos no Natal.

Ela os abraçou uma última vez de maneira apertada, limpando as lágrimas que caíram dos seus olhos antes de correr para a locomotiva com as outras crianças. No corredor, diversos bruxos de todas as idades conversavam animadamente sobre a volta às aulas. Um menino de cabelos longos e negros com uma estrutura óssea de dar inveja a encarava.

— O que foi? – Allie o encarou de volta. Sempre fora uma criança sem papas na língua.

— Você tem um cabelo bonito. – ele comentou. – É grande e brilhoso.

— Obrigada. – ela sorriu, feliz com o elogio. Ela prezava muito pelo seu cabelo. – O seu também é bonito. Sou a Allie e você?

— Sou Sirius.

— É um nome diferente. E bonito. – eles se moviam em um passo lento no corredor lotado de pessoas.

— Obrigado. – ele a encarou sorrindo levemente. Olhou para os lados, observando uma cabine com outros dois meninos e uma menina sentados. – Quer se juntar a nós?

Allie assentiu, sentando-se ao lado da garota ruiva de olhos verdes que sorriu gentilmente para ela assim que ela entrou na cabine. Era Lily Evans, a garota que viria a ser sua melhor amiga. Conheceu naquele dia também James Potter, o futuro apanhador da Grifinória e o estranho amigo de Lily, Severus Snape, que parecia odiar qualquer pessoa que não fosse ela.

Adentraram o expresso de Hogwarts procurando pela cabine que sempre utilizavam desde o segundo ano, quando Lily parou de viajar para Hogwarts com Snape. Nela, duas outras garotas comentavam animadas sobre suas férias: Marlene McKinnon e Dorcas Meadowes.

Os gritos femininos ecoaram por todo vagão da Grifinória. As quatro garotas se abraçaram com força antes de comentarem sobre seus verões, falar sobre os livros que haviam lido, músicas que haviam sido lançadas e claro, os N.I.E.M's. Sentaram-se em meio a bagunça da cabine, revistas trouxas que Lily sempre trazia de casa e uma lista de feitiços que Dorcas queria testar, fofocando e contando as mais loucas histórias.

Uma leve batida na porta corrediça da cabine atraiu a atenção das meninas. Era Remus Lupin (e James Potter e Sirius Black atrás, é claro).

— Oi, Lily. Oi, meninas. – Remus as cumprimentou – Só passei para avisar sobre a reunião dos monitores. É daqui quinze minutos.

— Caramba, é mesmo! – ela consertou o distintivo em seu uniforme, mesmo que estivesse perfeito. Limpou a boca procurando tirar os resquícios de qualquer doce que elas haviam comprado e devorado em minutos. – Obrigada Remus, foi muito gentil da sua parte me lembrar.

— Oi Lírio! – James empurrou Remus para o lado para que pudesse colocar a cabeça para dentro da cabine. Havia mudado desde o ano passado. Estava maior, com mais músculos, mas ainda continuava o mesmo: os cabelos revoltos e os óculos pendendo na ponta do nariz. – Você está linda com esse distintivo.

As garotas riram entre si enquanto Lily se ocupava em enxotar o Potter para fora da cabine. Allie encontrou os olhos cansados de Remus que também ria da situação. Ele tinha certeza que ela havia ficado mais bonita desde o último ano. Os cabelos estavam mais longos e o rosto com algumas sardas a mais, o que ele adorava. Os garotos normais não reparavam naquilo, mas Remus não era um garoto comum. Conseguia sentir o cheiro gostoso que emanava dos fios dela devido ao seus sentidos de lobisomem.

Allie desviou o olhar, de fato tímida. Garotos não eram a sua especialidade, na verdade, havia dado o seu primeiro beijo apenas no sexto ano com um setimanista da Corvinal por insistência de Marlene. Ela havia achado estranho e molhado demais para o seu gosto.

— Ei, Lene. – foi a vez de Sirius entrar na cabine. – Pronta pra levar a Taça das Casas mais uma vez nesse ano?

Marlene fechou a cara em segundos. No ano anterior, Sirius havia trocado Marlene por uma quintanista da Lufa-Lufa e ela ficara furiosa. Desde então, não trocara nada mais do que insultos com Sirius Black.

— Pronto para ser um cachorro por mais um ano, Black? – ela rebateu.

Literalmente. – James sussurrou, fazendo os amigos rirem. Allie ergueu uma das sobrancelhas ao ouvir a piada interna, era uma observadora nata e muito curiosa.

— Qual foi, Lene. Pensei que você já tinha me perdoado.

Uma das revistas (com um homem sarado sem camisa na capa) voou em direção ao rosto do Black com certa força, o fazendo cambalear para trás. James o ergueu com um sorriso brincalhão nos lábios.

— Saia daqui. – Lene gritou antes dos três saírem às gargalhadas.

Outro ano em Hogwarts havia começado.

𝐓𝐀𝐋𝐊𝐈𝐍𝐆 𝐓𝐎 𝐓𝐇𝐄 𝐌𝐎𝐎𝐍  || remus lupinWhere stories live. Discover now