TRINTA | FRONTEIRA MORTEM

Começar do início
                                    

      — Traidora! – Halina tirou a espada da bainha.

       — Cale-se, princesa. Não vais querer que eu arranque o feto que teu ventre tem resguardado. – Kelaya ameaçou.

       Halina pôs a mão involuntariamente no baixo ventre, confirmando uma suspeita que há muito guardava.

       — Malya, oh Iya... – Zaire pôs a mão na cabeça, refletindo sobre o abandono de sua promessa.

       — Seu tolo. – Kelaya olhou para Arden. – Podia ter tudo comigo, mas preferiu uma impura. Patético! – seu rosto estava avermelhado pela cólera.

       Aryeh canalizou a raiva embutida pela celosiana para a jovem que controlava os demônios, puxou o machado das costas e correu na direção dela. A mestiça rapidamente fez um feitiço do sono, fazendo o novoivoriano pesado cair no chão ressecado.

       — Estou cansada disso tudo. – arfou com raiva. – Já chega de usar a máscara de noivinha tacanha, não merecem meu esforço mais.

       — Por que estás fazendo isso, Kelaya? Enlouquecestes? – a princesa se atreveu a falar.

       — Nunca estive tão sã. Tens mesmo coragem de questionar minhas razões? Olhares de desprezo e nojo no palácio smaragdino, as infidelidades de Arden, o desdém do rei comigo... – sorriu de forma assustadora.

        — E isso foi o suficiente para que se voltasse contra Lucem? Os smaragdinos são arrogantes e insolentes com todos, você não é especial. – Zaire bradou, queimando de fúria por ter sido enganado.

        — És uma farsa. Nunca te amei, de todo modo, então não me fará falta quando Malya lhe arrancar a cabeça. – Arden sorriu cínico.

         — Eu não era uma farsa no início, realmente era uma mestiça medrosa e constrangida com a própria existência, preparada para servir ao acordo. Preparada para servir a ti. – olhou relutante para o príncipe. – Todavia, preferistes a impura a mim.

          — Não iremos ceder a você, desgraçada. – Keisha urrou, segurando a balestra.

          — Queres ter o mesmo fim que a irmã do palladiano? Eu só preciso dos Lectus. – devolveu insolente.

          A amaranta abaixou a arma constrangida. A traidora foi até o corpo paralisado de Kale, puxando a sacola dos ombros dele tomando para si as quatro partes do Coração de Dália.

       — Voltarão para o lugar ao qual pertencem. – murmurou para a sacola. – Preparem-se para continuar a viagem, sem tentativas tolas de resistência. Ou um a um daqueles que são estorvo serão alimento dos inferos que seguirão conosco.

      — Você perderá, mestiça. – Skadi se atreveu a falar, capturando o interesse de todos. – Seu sangue sujará o solo que pisamos. Malya não terá piedade com você, tampouco eu se tiver a oportunidade. – ofegava nervosa.

       — Veremos. – sorriu sarcástica, colocando-se de volta no cavalo.

      Um dos inferos jogou Aryeh sobre o cavalo, a traidora desfez o feitiço de Kale, fazendo se mover agitado. Foi contido apenas por Skadi, o qual pedia paciência para seu colega. Avançaram na viagem, indo para o tufão de fumaça fúnebre. Não tinham escolha a não ser seguir a mestiça, estavam cercados por inferos que preenchiam o olfato deles com o odor de sangue coagulado, enxofre e excremento. Cada barulho externo atraía olhos esperançosos na busca pela companheira pródiga.

      Zaire via a si mesmo como um traidor, não esquecera as imagens que mostravam Malya sendo uma monstruosidade, mas agora tinha certeza que mesmo em caos e com a reputação destruída a mulher ainda tentara salvá-los. Enxergava a própria vergonha com nojo, sem acreditar que pudera ser tão débil ao ponto de não ter defendido a celosiana. O remorso corroía a sua alma, negava a si mesmo uma possibilidade de redenção.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioOnde histórias criam vida. Descubra agora