VINTE E SEIS | A INSURREIÇÃO

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       Malya se sentia mal por ter se tornado a fonte de inspiração daquelas pessoas, as sombras que guardava em seu coração faziam com que se enojasse. O que eles pensariam dela, caso soubessem das últimas palavras de Lappam?

       — Você foi nossa faísca, Malya. A energia de ativação para que nos revoltássemos contra a aristocracia de Celosia. Os nobres não se importam com nossas mortes nas mãos dos contaminados crescentes, são cadelas dos smaragdinos. – Pashan lançou um olhar de desdém para os dois membros da realeza.

      — E-eu não sei... N-não sei o que falar. – ainda processava os últimos acontecimentos.

      Os revolucionários admiravam ela como uma heroína, mas horas atrás ela descobrira que passou quase toda a vida sendo um Portal para Tenebris.

       — Agradeça, eles gostam de você! – Kale comia pão e as frutas cristalizadas da mesa, sugeriu com a boca cheia.

       — Sempre gostamos. – Hooda usou um tom maternal.

       A morena se lembrava que a senhora sempre lhe dava pães recheados durante o intervalo, em gratidão às lebres que vez ou outra caçava para a família da costureira.

       — Vocês pretendem derrubar a aristocracia? Lutar contra Tenebris? Expulsar Smaragdine? Eu soube dos bestiais. – as informações pulsavam na cabeça agitada dela.

        — Planejamos tudo isso. Entretanto, temos nossas prioridades. E agora é proteger nosso povo dos contaminados e dos mercenários que se aproveitam do medo. Além de irritar os bestiais, evidentemente. – Pashan interveio. – É claro que eliminamos alguns smaragdinos no caminho. – encarou Arden, o qual permaneceu indiferente.

         — Há quanto tempo fazem isso? – a princesa questionou interessada.

         — Desde os boatos da base amaranta, no qual foi dito que uma celosiana ajudava aos Lectus. Nos organizamos e tomamos a fábrica, expulsando os senhores do distrito. Foi difícil, alguns Ophidios queriam tomar nosso lugar. – Kalil explicou, arrumando-se na almofada.

         — Impossível, teríamos sabido alguma coisa em Smaragdine. – Arden franziu o cenho.

        — Ah, aí é que está! – provocou Pashan. – Os informantes smaragdinos não estão chegando bem em casa.

         O tom sarcástico tirou o conforto daqueles que ouviam, era claro que Smaragdine fora terrivelmente cruel para com Celosia no passado. No entanto, o cenário atual necessitava do máximo de união e soldados possíveis.

        — Seu bastardo! Está matando nossos homens! – o familiar de Halina voou sobre a mesa, bicando o homem careca.

       — Halina, controle-se! – seu irmão tentou pegar a ave.

       — Que matando o quê? – Pashan vociferou em meios aos ataques da coruja. – Não somos covardes como vocês, seus informantes ficam presos. Só isso.

        A princesa ordenou que a familiar voltasse para suas mãos, ainda querendo infligir mais dor no celosiano atrevido.

      — Não precisarão ser como nós, hoje mesmo farei uma declaração a punho para que Smaragdine não interfera em vossa Insurreição. Ela será enviada por um dos informantes que está sendo mantido em cárcere, caso permitam, é claro. – Arden falou convicto.

       — De acordo. – a princesa se aliou ao irmão.

      Para os dois, a jornada tinha deixado muito claro que Smaragdine precisava mudar a conduta com seus irmãos. Ver os outros reinos e lutar ao lado de pessoas que faziam parte de uma realidade diferente da deles, transformara a perspectiva que possuíam da vida. O tempo de imperialismo smaragdino devia acabar, era possível manter o povo do reinos das pedras próspero sem ferir a dignidade daqueles que não nasceram nas fronteiras esmeraldas. Os dois irmãos estavam dispostos a enfrentar o pai para concretizar os novos ideais conquistados nas viagens, descobriram enfim que aqueles que não eram a prioridade smaragdina também eram pessoas. Não poderiam seguir com o mesmo comportamento, depois de tanto terem sofridos ao lado de outros que não dividiam a nacionalidade.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioOnde histórias criam vida. Descubra agora